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Problemas éticos Da Eutanásia, O Direito De Viver Ou Morrer

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Por:   •  2/2/2015  •  3.914 Palavras (16 Páginas)  •  794 Visualizações

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Problemas éticos da Eutanásia, o direito de viver ou morrer.

Desde seu início, a espécie humana busca uma resposta para o mistério da morte. Para os que procuram entender a morte, ela é uma força altamente criativa. Os grandes valores da vida podem originar-se da reflexão sobre a morte. A meta dos filósofos tem sido elucidar o seu significado. Sócrates entendia que filosofar significava simplesmente estudar o problema da morte. Através dos tempos, inúmeros pensadores buscaram encontrar seu significado nas vidas humanas e, à medida que o esclareciam, contribuíam também para a compreensão do significado da vida. Disse Thomas Mann: "sem a morte haveria muito poucos poetas na terra". E todos eles tocaram o profundo segredo da vida enquanto falavam sobre a morte. No dizer de Elizabeth Kübler-Ross, "a chave para o problema da morte abre a porta da vida".

A morte sempre existiu e sempre existirá entre nós porque morrer é parte integral da vida e da existência humana, tão natural e previsível como nascer. Por que, então, é tão difícil morrer? Por que, na sociedade moderna, a morte transformou-se num tema a ser evitado de todas as maneiras?

Mesmo aceitando a morte como parte integral da vida, é difícil morrer e o será sempre, porque isto significa renunciar à vida neste mundo. Porque a ideia da morte nos traz permanentemente a consciência de nossa vulnerabilidade e de que nenhum avanço tecnológico nos permitirá dela escapar. A morte é indiscriminadamente democrática. Todos devem morrer bons ou maus, ricos ou pobres, pessoas famosas ou anônimos desconhecidos. Sua imprevisibilidade e inevitabilidade é o que aterroriza a maioria das pessoas. É o que diz Roberto Freire: "Não pedi e não escolhi de quem, por que, onde, e quando nascer. Da mesma forma não posso decidir quando, como, onde, de que e por que morrer. Essas coisas me produzem a sensação de um imenso e fatal desamparo, uma insegurança existencial permanente". Esse medo tornou-se exponencialmente maior em nossa sociedade moderna, adoradora da juventude, idólatra da tecnologia, do progresso, do poder e dos bens materiais e iconoclasta da intangível mas imanente espiritualidade da espécie humana. Por isso, essa sociedade tornou a morte estranha aos homens. Quer escondê-la por todos os modos, varrendo-a, qual avestruz, para debaixo do tapete. Pretende-se esquecer que há um "tempo de nascer e tempo de morrer", como nos ensina o Livro do Eclesiastes.

Nos tempos modernos, já não se morre mais como antigamente, a morte esperada no leito, os últimos desejos, a família reunida, as crianças presentes. Ninguém é mais vítima do totêmico tabu em que a sociedade contemporânea transformou a morte que as crianças. Ao privá-las da experiência de vivenciar a morte e o morrer, afastando-as das pessoas que estão morrendo, criamos nelas as raízes de um medo irracional, por vezes definitivo, ao mesmo tempo em que as tornamos incapazes de lidar com sua futura, mas inexorável morte, retirando-lhes, assim, "a chave da porta da vida".

Na sociedade tecnológica moderna, morrer é algo que acontece no hospital. E o moribundo, frequentemente, já está inconsciente e se encontra numa unidade de terapia intensiva.

De sua parte, a instituição hospital também passou por uma radical transformação. Nos seus primórdios, ela se destinava aos pobres e desvalidos que estivessem para morrer. Eram basicamente instituições de caridade cristã. Após os enormes avanços científicos e tecnológicos da medicina neste século XX, transformou-se em instituição fundamentalmente voltada para os processos de tratamento e cura. Ao se transformar em instituição comprometida com o processo de cura, os pacientes à morte se transformam numa ameaça à sua precípua função. Como nos lembra Hans O. Mauksch, no livro O contexto organizacional do morrer: "No centro da atual ênfase tecnológica na história do sucesso da cura, o paciente cujo mal não pode ser curado, o ser humano que está à morte é inexoravelmente tido como um fracasso daqueles profissionais e instituições".

Há que se relevar que provém do elevado mister da medicina de preservar a vida, seu legítimo esforço na luta contra a morte, buscando impedi-la ou tentando retardá-la. Essa natural inclinação não pode e não deve, contudo, obscurecer lhe a consciência de ser a morte a culminância de um processo natural - o processo da vida.

O fato é que - concomitantemente ao progresso científico e tecnológico da medicina - ela se tornou, nos dias atuais, fria, distante, impessoal, menos humana, enfim. Exatamente à imagem e semelhança dos modernos hospitais e dos profissionais que neles atuam cada dia mais preparados tecnicamente para lidar estritamente com os aspectos biológicos da vida e cada dia mais despreparados para a relação médico-paciente, para o contato humano, para o relacionamento interpessoal integral e, mais ainda, para está-lo simplesmente com o paciente à morte, confortando-o nos seus momentos finais, amparando-o, ouvindo-o, aceitando-o; amando-o, enfim, como seu semelhante. Aliás, em nenhum outro momento os seres humanos são mais semelhantes entre si do que na hora das suas mortes. Mais uma vez recorro à Kübler-Ross para constatar que a medicina moderna tem diante de si este dilema: o de continuar sendo uma profissão humanística e humanitária, e só assim respeitada, ou uma nova, mas despersonalizada ciência, cuja finalidade é prolongar a vida em vez de mitigar o sofrimento humano.

A evolução do conceito de morte

Se for inconteste que os avanços tecnológicos na área da saúde contribuíram e continuam a contribuir para salvar muitas vidas e melhorar-lhes o sofrimento, trouxeram-nos, todavia, inúmeros problemas éticos a enfrentar, entre eles o que diz respeito à definição ou conceito de morte. Sua tradicional definição como o instante do cessa mento dos batimentos cardíacos tornou-se obsoleta. Hoje, ela é vista como um processo, como um fenômeno progressivo e não mais como um momento, ou evento. Morrem primeiro os tecidos mais dependentes do oxigênio em falta, sendo o tecido nervoso o mais sensível de todos. Três minutos de ausência de oxigenação são suficientes para a falência encefálica que levaria à morte encefálica ou, no mínimo, ao estado permanente de coma, em vida vegetativa.

Segundo Leocir Pessini, a revisão do conceito de morte, definindo-a como morte encefálica, tornou-se necessária devido a diversos fatores, entre os quais destaca: a capacidade da medicina de prolongar indefinidamente uma vida por meios artificiais; motivos sociais, humanos e mesmo econômicos

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