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A Gestão em Redes

Por:   •  26/10/2015  •  Pesquisas Acadêmicas  •  3.910 Palavras (16 Páginas)  •  210 Visualizações

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Consumo cultural-tecnológico na cibercultura:

apontamentos para pensar processos de identificação

Gustavo Said

Resumo

Esse texto procura apontar alguns elementos reflexivos necessários à compreensão dos processos de identificação no ambiente da cibercultura, entendida como o conjunto da produção cultural e dos agenciamentos sociais das comunidades no espaço virtual. Parte-se do entendimento de que essa é a era da Sociedade em Rede, baseada num tipo de morfologia social que tem no seu centro a produção, a distribuição e o consumo de informações e procura-se refletir sobre o impacto disso nos processos de identificação a que se submetem os sujeitos contemporâneos. Mais do que apontar respostas claras, o objetivo do presente ensaio é formular questões que se desdobram na forma de desafios práticos.

A ênfase conferida por muitos pesquisadores às questões ligadas ao consumo cultural-tecnológico tem raízes explicativas em processos históricos que permitiram a vastas camadas do público ter acesso a diferentes tipos de produtos via ferramentas midiáticas. Assim é que, para Mike Featherstone (1995), a formação da Sociedade de Consumo se caracteriza pela expansão da produção de mercadorias que deu origem à acumulação de cultura material na forma de bens e locais de compra e consumo, sobretudo por públicos jovens, a partir de meados do Século XX.

Das primeiras elaborações conceituais sobre esse tema até os dias atuais, muita coisa mudou, principalmente, como resultado das novas experiências que as tecnologias de mídia e de informação, estruturadas em formato de rede, passaram a promover, no bojo de transformações econômicas e socio-técnicas que iniciaram nas nações mais ricas e se alastraram rapidamente para outros países, suplantando as antigas regulamentações alfandegárias e, por conseguinte, as barreiras comerciais e mercadológicas. De espectro global e transnacional, o

modelo social que daí se originou só pode ser compreendido em função de uma característica básica: a centralidade difusa que a geração, a distribuição e o consumo de informações passaram a ter no cotidiano das pessoas, nos processos produtivos e na gestão corporativa.

Sobretudo na segunda metade do século XX, mudanças significativas de ordem econômica e cultural provocaram a incorporação de novas tecnologias de informação e dos produtos delas derivados ao cotidiano pessoal e ao mundo organizacional, agora, coadunados no tempo livre que antes era dedicado apenas às atividades de lazer. Para além dos limites impostos pela organização do trabalho nos padrões da Segunda Revolução Industrial, um novo tipo de racionalidade econômica e organizacional começou a ganhar corpo. No âmbito macroeconômico, por exemplo, as transformações aludidas sinalizavam para a conformação de um modelo de produção que, no lugar de exigir o consumo de grandes volumes energéticos, centra-se na geração, difusão e consumo de informação. Esse novo modelo de produção tem como característica básica, portanto, a produção e o processamento da informação. Seu produto é a informação, o conhecimento científico, bens imateriais e intangíveis, a cultura, de forma geral. Esse novo ambiente, que nos anos 70 recebeu de acadêmicos e gestores públicos norte-americanos e japoneses a denominação de Sociedade da Informação, transforma a relação do homem com a tecnologia e com a informação, como propõe Santos:

No final do século XX um novo paradigma tecnológico cria novas possibilidades e altera os processos da economia, política, relações sociais e culturais. Falar de um novo mundo não é exagero já que as mudanças vivenciadas na atualidade fazem emergir uma nova configuração resultante das interações, também novas, entre as diferentes dimensões das atividades humanas. As maneiras de fazer e mesmo de ser e pensar da humanidade - em constante mutação - são alteradas pela evolução tecnológica. O primeiro aspecto a se destacar desta nova era é que esta revolução tecnológica está centrada nas tecnologias da informação e comunicação (TICs). Isso faz com que as fontes de produtividade - informação e conhecimento - sejam, ao mesmo tempo, o produto gerado, pois a finalidade do desenvolvimento

tecnológico passa a estar centrado (sic) na produção de novos conhecimentos e informação (SANTOS, 2004).

É também nesse sentido que Manuel Castells (1999) afirma que essa é a fase da Terceira Revolução Industrial, ou seja, a passagem do industrialismo para o informacionalismo. Esse novo modelo econômico-social, em formato de rede, resulta das mudanças estruturais do capitalismo, da sua fase monopolista (início do Século XX), passando pela fase de organização pelo Estado (após a crise econômica de 1929), até assumir sua feição neoliberal, com menor interferência estatal (a partir da década de 70). É desse período o recrudescimento das redes de cooperação econômica e acadêmica. Para Castells (op. cit.), o informacionalismo proporciona a base para um determinado tipo de estrutura social conhecido por Sociedade em Rede.

O termo sociedade em rede talvez abranja uma característica desse modelo social não abarcada pelo conceito correlato sociedade da informação. Ele implica não somente a produção e o consumo informativos, mas, sobretudo, a possibilidade de conexão, intercâmbio e colaboração entre agentes produtivos ˗ indivíduos e organizações - de diversos campos. Essa ambiência em rede, por sua vez, está ligada à constituição do ciberespaço, que pode ser entendido como “...uma rede global de comunicação mediada que possibilita as relações tecnossociais atuantes na sociedade contemporânea, ampliadas por redes sociais: uma sociedade conectada, colaborativa, hipertextual, destituída de presencialidade física e apoiada por interfaces da Web 2.0, mais recente, por recursos da Web semântica e pela computação em nuvem” (WENCZENOVICZ e SILVANO, 2015). O ciberespaço não diz respeito apenas à infraestrutura material da comunicação digital, quer dizer, não se resume à rede mundial de computadores e outros equipamentos interconectados. Mais do que isso, ele é composto pelos produtos e pelas interações que essa rede global abriga, pelos aplicativos, pelos softwares que produzem conexões e reformatam as relações sociais e as tradicionais expressões culturais.

Segundo Pierre Levy (1999), o crescimento do ciberespaço pode ser compreendido, em primeiro lugar, pela interconexão de máquinas e pessoas, depois, pela criação de comunidades virtuais e, por último, pela formação da inteligência coletiva, um tipo de inteligência que

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