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Globalização como Fable

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Por:   •  18/11/2014  •  Projeto de pesquisa  •  3.281 Palavras (14 Páginas)  •  252 Visualizações

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Por uma outra globalização - Milton Santos (adaptado do texto de Luiz Carlos Ramalho)

1. Introdução

Milton Santos foi geógrafo, professor emérito da Universidade de São Paulo, ganhador do prêmio internacional de Geografia Vautrin Lud, em 1994, e autor de 30 livros e 400 artigos científicos, publicados em diversos idiomas. Nesta obra, Milton Santos faz uma crítica ao atual período do modo de produção capitalista, caracterizado pela globalização. Para isso ele usa o método dialético, e expõe de forma concatenada e coerente as formas de reprodução do capital sobre os povos, territórios e governos (política). Um dos aspectos mais discutidos, problematizados e polêmicos da atualidade refere-se a fase atual da expansão capitalista chamada de globalização. As visões sobre esse processo são tão profundas e diversas que alguns autores chegam, inclusive, a afirmar que a globalização não existe, ou seja, que esse momento seria apenas a reprodução do mesmo processo de acumulação capitalista, porém ocorrendo num outro formato, fomentado pelo intenso uso de recursos tecnológicos, que proporcionam um aumento incomensurável na circulação de capitais, produtos, serviços e pessoas. Milton Santos, em “Por uma outra globalização – do pensamento único a consciência universal”, faz uma profunda dissecação da globalização, revelando as entranhas dessa fase de internacionalização do capitalismo sem precedentes na história da humanidade. Em seu texto, Santos faz uma análise sistêmica e orgânica da globalização e, diferente da idéia de “globalidade” proposta por Daniel Yergin e Joseph Stanislaw, cria de forma inédita a terminologia globalitarismo, com o intuito de caracterizar esse processo como algo que carrega o tom do massacre, da perversidade e do abandono de objetivos sociais e de cidadania em nome das metas da reprodução do capital a qualquer custo. Nesse texto, a globalização é apresentada a partir de três perspectivas: a globalização como fábula, como perversidade e como ela pode ser, ou seja, uma outra globalização que, segundo a visão até certo ponto otimista do autor, é possível de ser construída. Nessas três perspectivas, Milton Santos destaca, respectivamente, a sustentação da ilusão da idéia da existência de uma aldeia global que encurta as distâncias, informa as pessoas, criando, assim, “um único mundo sem fronteiras”; a multiplicação de problemas socioeconômicos (fome, desemprego, deseducação formal, etc.) que tornam-se estruturais e crônicos e não somente residuais e a identificação das fragilidades da estrutura da globalização, que seriam dados significativos que indicariam a possibilidade de recriação desse modelo numa outra ótica. Esse texto objetiva desenvolver idéias em torno dessas três perspectivas de globalização trabalhadas por Milton Santos, acrescentado de leituras que complementem os pensamentos ou então que sirvam como contraponto às idéias defendidas pelo autor.

2. A Globalização como Fábula

A fábula da globalização, apresentada no texto de Milton Santos, representa um momento em que, principalmente a mídia internacional e local, procura caracterizar o planeta como um grande espaço marcado pela homogeneização técnica, que procura fazer com que uma parcela considerável da população mundial acredite que participa de “um único mundo”. Daí podemos imaginar que a extensão desse processo significa algo próximo de uma padronização cultural, onde as pessoas são atraídas pelas mesmas coisas, adotam hábitos de consumo muito similares, cristalizam ou incorporam as mesmas marcas e compartilham da mesma rede – a rede mundial de computadores (Internet), uma das grandes responsáveis pela criação da idéia de separação entre a realidade e a virtualidade, tão apregoada por vários autores e pela imprensa em geral. Assim, vivemos uma atmosfera de pensamento que nos faz crer que tudo transformou-se em algo virtual, até mesmo o conceito de tempo e espaço parece agora desvinculado da realidade, onde inclusive um grupo de pensadores apregoam o “fim da geografia”, como se o espaço real ainda não fosse delineador de disputas, estratagemas, movimentações de músculos e tropas ou construção de muros em torno de fronteiras reais.

Porém, esse trabalho não tem por objetivo se aprofundar nessa questão da conceituação do espaço ou do futuro da geografia, mas sim de fazer uma rediscussão da abordagem fragmentadora, que coloca de um lado o mundo real e de outro o virtual, como se o único diferencial entre uma coisa e a outra fosse o acesso à técnica e à tecnologia. Se por um lado existe uma virtualidade apoiada essencialmente na técnica, que limita as ações reais e faz com que o conceito de espaço seja repensado, no sentido de nos perguntarmos “qual a extensão do espaço?” e não o fim do espaço, por outro podemos entender que o “virtual” se apresenta também, em alguns lugares, de uma outra forma, ou seja, como sendo um limite ou uma barreira que impossibilita o encontro sadio e frutífero de pensamento entre as pessoas, gerando como conseqüência uma não-convivência e um empobrecimento do mundo das idéias, onde pessoas que estejam lado a lado e inclusive conversando umas com as outras, mantenham uma virtualidade de pensamento, ou melhor, uma presença real, mas uma convivência virtual. Assim, essa virtualidade, por incrível que pareça, passa pelo mundo real, fazendo com que a idéia de virtual não seja restrita apenas às particularidades da Internet. Exemplos não faltam para ilustrar essa idéia: freqüentamos os shopping centers, um espaço que é a própria materialização da opressão que vivemos nos dias atuais, sobretudo para moradores de grandes centros urbanos, e restringimos nossa ação real ao ato da compra, pois o ambiente dos shoppings não foi concebido para se conviver ou para a troca de “idéias construtivas”, mas sim para consumir; entramos no MC Donald’s com o objetivo único de degustar o nosso lanche individualmente e não de sentar à mesa para trocarmos idéias ou simplesmente para “batermos um papo”, afinal de contas aquele é o lugar da “refeição rápida” e não da troca de idéias. Dessa forma, é importante entendermos que o real e o virtual podem ser manifestações que aconteçam lado a lado ou que ocorram ao mesmo tempo e no mesmo lugar e isso está diretamente ligado a forma como consumimos as coisas ou a maneira como nos tornamos consumistas inveterados. Portanto, o aumento sem critérios ou sem limites no grau de consumo ocorreu na mesma proporção do empobrecimento do mundo das idéias, fenômeno esse chamado por muitos de “alienação”, e que no tal “mundo globalizado”

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