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Fora De Ordem

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Por:   •  3/3/2015  •  1.229 Palavras (5 Páginas)  •  342 Visualizações

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Fora da (nova) ordem mundial

Por cerca de cinquenta anos, o relacionamento entre os Estados Unidos e a União Soviética dividiu o mundo em duas esferas. O confronto direto entre os rivais era improvável e a paz, praticamente impossível, já que os interesses capitalistas e socialistas eram inconciliáveis. Ao fim desse período instaurou-se a “nova ordem mundial”, em que os Estados Unidos consolidaram sua hegemonia e se colocaram na condição de representantes da democracia.

É importante frisar que a “nova ordem mundial” não deu margem à criação de um “novo mundo”, no qual estariam assegurados o respeito às minorias, à ordem ou à estabilidade. A nova ordem mundial não significa um mundo de paz, é apenas a constituição de um novo arranjo geopolítico e econômico do plano internacional, marcado pela globalização e avanço do capitalismo.

É com base nesse cenário que o cantor e compositor Caetano Veloso questiona a inclusão do Brasil nos novos moldes da economia mundial. Que lugar ocuparia o Brasil neste contexto? A canção Fora da ordem, lançada em 1991 no disco Circuladô, deixa claro que o Brasil é visto como um estrangeiro diante do quadro demilitador desta nova ordem. Ao utilizar na canção um sujeito indeterminado (“alguma coisa”), Caetano faz referência ao Brasil, que nada mais é, à época, que um país com lugar previamente definido no cenário de uma globalização excludente.

Não demorou muito para que o american way of life cruzasse as fronteiras teoricamente diluídas pelo processo de globalização. Com isso, começou-se a questionar a sobreposição do global sobre o local, que parecia perder cada vez espaço no processo de homogeneização cultural. Segundo Stuart Hall, em seu livro A identidade cultural da pós-modernidade, o que se passa a ser discutido é a tensão entre o global e o local na transformação das identidades.

As identidades nacionais representam vínculos a lugares, eventos, símbolos e histórias particulares. Elas representam o que algumas vezes é chamado de uma forma particularista de vínculo ou pertencimento. A homogeneização cultural é o grito angustiado daqueles/as que estão convencidos/as de que a globalização ameaça solapar as identidades e a ‘unidade’ das culturas nacionais. (HALL, págs. 76 e 77)

Dessa forma, através da sua obra, Caetano propõe uma nova focalização temática do Brasil, tanto como afirmação de um potencial singular contido na sua riqueza cultural, quanto como acusação da miséria de sua realidade social urbana. No clipe da canção Fora da ordem é possível perceber ainda uma referência à obra do pintor modernista Piet Mondrian através do retângulos coloridos que funcionam como cenário. No trecho da música “Apenas sei de diversas harmonias bonitas possíveis sem juízo final”, o autor parece buscar o mesmo purismo artístico difundido pelo neoplasticismo de Mondrian.

A música foi composta no período em que as ideias modernistas já estavam bem consolidadas no Brasil e no mundo e ao escolher um pintor do neoplasticismo, criado para ser uma arte simples, reta, clara e econômica, como pano de fundo do seu clipe, Caetano questiona a nova ordem mundial, que busca o enquadramento perfeito e uniforme, mas que ao invés de libertar, aprisiona e limita o espaço para a pluralidade.

Ao analisar a estrutura histórica brasileira do início dos anos noventa, nota-se a persistência de elementos que também estavam presentes na vida social brasileira do período anterior. A criminalidade nos grandes complexos urbanos, as mazelas econômicas enfrentadas década de 80, e intensificadas na nova década, apenas reiteram a farsa da pretensa nova ordem mundial, que estava longe de ser observada na realidade brasileira. Neste sentido, Caetano expõe na canção Fora da Ordem o seguinte panorama:

Vapor barato, um mero serviçal do narcotráfico

Foi encontrado na ruína de uma escola em construção

Aqui tudo parece que é ainda construção e já é ruína

Tudo é menino e menina no olho da rua

O asfalto, a ponte o viaduto ganindo pra lua

Nada continua

Analisando este trecho, a frase “aqui tudo parece construção e já é ruína” é importante para a compreensão do argumento de Caetano. Ela define certa desilusão com o Brasil escondendo por detrás de si uma revigoradora esperança de que a construção do país seja retomada, pois ainda há a necessidade de se mudar e se construir muita coisa.

Envolvido nessa estrutura histórica, o Brasil estava à margem do processo de globalização. Não se via incluído na “nova ordem”, podendo gozar de seus privilégios, nem comprometido ideologicamente com suas causas. E é justamente tal ambiguidade que vem determinar

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