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O Brasil e a ideia de “America Latina”

Por:   •  14/4/2015  •  Resenha  •  2.855 Palavras (12 Páginas)  •  1.306 Visualizações

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Parte Cris:

A partir do texto “O Brasil e a ideia de "América Latina" em perspectiva histórica”, de Leslie Bethell, é possível notar as diferenças entre a América Espanhola ou América Latina, para o Brasil e pode-se notar também como foi que a idéia de que o Brasil faz parte da América Latina surgiu após os Estados Unidos introduzi-la na segunda metade do século XX.

Escritores, políticos e intelectuais dos anos de 1850 e 1860, possuíam uma ideia da existência de uma consciência e identidade hispano-americana comum que superava os “nacionalismos” locais e regionais e, ainda alegavam que a América Latina era fundamentalmente distinta dos Estados Unidos - visto como inimigo da América Latina. Já alguns intelectuais, recusavam-se a usar o termo “América Latina”, devido à junção da Espanha e França com os Estados Unidos como inimigos da América Latina, devido à intervenção francesa no México em 186, eles viam o termo “latinidad” como uma representação do conservadorismo, antiliberalismo, antirrepublicanismo, catolicismo e ligações com a Europa Latina, incluindo França e Espanha, logo, se consideravam parte de uma América Espanhola ou América do Sul.

Mas segundo o texto, não eram apenas os brasileiros que não se viam como parte da “América Latina”, os argentinos também não se viam como parte desta, e a consideravam “bárbara”. A “Geração de 37”, composta por liberais como Esteban Echeverría, Juan Bautista Alberdi e Domingo Faustino Sarmiento, considerava a Argentina (principalmente Buenos Aires) como povos transplantados, ou seja, a manifestação da civilização européia num ambiente hispano-americano. Influenciados pelos pensamentos ingleses, franceses e norte-americanos, os argentinos acreditavam que seu país possuía potencial para ter uma posição como a dos Estados Unidos na América do Sul, eles até se ofereciam como mentores dos países latinos, mas não se consideravam parte deles. A ideia de pouca importância da América Espanhola para os liberais argentinos, se dava pela afinidade ideológica com os Estados Unidos e alguns países europeus. É importante ressaltar que, nenhum dos políticos, escritores e intelectuais, sejam os hispano-americanos, franceses ou espanhóis, utilizaram a expressão America Latina de forma a incluir o Brasil, ou seja, este termo era usado para fazer referência à América Espanhola.

Apesar de escritores e intelectuais brasileiros reconhecerem que possuíam uma herança ibérica e católica em comum com a América Espanhola, eles também sabiam que existiam diferenças geográficas, históricas, econômicas e sociais, idiomáticas, culturais e políticas entre Brasil e América Espanhola, considerando, bem como os argentinos, as repúblicas hispano-americanas violentas, extremamente instáveis e “bárbaras”, principalmente pela forma conturbada através da qual se deu a independência destes países, enquanto a independência do Brasil foi pacífica e o país se manteve unido pela coroa. Mesmo na literatura, nas artes e na música os brasileiros não se viam como parte da América Latina, fazendo referência a países europeus, principalmente à França e, raras vezes à “América” que incluía os Estados Unidos. A herança indígena era a vista como a maior similaridade entre as “Américas”.

A ideia de “Hemisfério Ocidental”, elaborada por políticos norte-americanos (em especial pelo presidente Thomas Jefferson), se tratava de um hemisfério republicano e independente da Europa - Jefferson considerava o Brasil, que ainda não tinha atingido sua independência, um elemento chave no seu “sistema americano”. Em dezembro de 1823, o presidente James Monroe, na Doutrina Monroe, proclamou que os Estados Unidos não tolerariam intervenções ou qualquer extensão do sistema político europeu nas Américas, deixando claro que os Estados Unidos expressara sua vontade de colocar-se a frente de uma confederação que englobava todas as Américas direcionando-a contra toda a Europa, inclusive contra a Grã-Bretanha. O presidente John Quincy Adams, por sua vez, mesmo se opondo a influência européia nas Américas, não possuía interesse em um “sistema americano” que englobasse as antigas colônias espanholas e portuguesas que eram católicas e mal vistas- consideradas instáveis e degeneradas, não vendo nelas um retorno comercial ou político caso houvesse ligações dos Estados Unidos com estes países.

Durante a independência dos países hispano-americanos havia a vontade por parte de políticos e generais de formar uma “única nação” que se oporia a Europa. Simon Bolívar convidou representantes de todos os países da América, com exceção dos Estados Unidos, Brasil e Haiti, ao Congresso do Panamá em dezembro de 1824, no qual a Grã-Bretanha estava como observadora. O Brasil não foi inicialmente, pois Bolívar acreditava que além do idioma, história e cultura do Brasil serem completamente diferentes, o Brasil também possuía uma economia diferente e uma base social constituída no tráfico negreiro e escravismo - que eram repudiados e até mesmo abolidos na maioria das repúblicas hispano-americanas, além disso, o Brasil ainda era parte do sistema europeu devido à manutenção do sistema monárquico de governo, sistema este, que Bolívar detestava e temia.

A necessidade da criação de uma confederação americana era de que os países da América Espanhola se aliassem contra a expansão territorial dos EUA e, em 1860 a necessidade era de se opor à intervenção francesa no México e à intervenção espanhola em Santo Domingo, Peru e Chile. As repúblicas hispano-americanas não confiavam no Brasil imperial e raramente convidavam o Brasil para suas conferencias internacionais, e Brasil por sua vez, nunca os aceitou. É importante ressaltar que o Brasil do Segundo Reinado não se identificava com a “América Latina”, até porque o Brasil não se sentia ameaçado pelos Estados Unidos, e as relações do Brasil eram com a América do Sul e limitadas, exceto pelo Rio da Prata, pelo qual o Brasil possuía interesse estratégico. Os Estados Unidos também viam o Brasil como um país isolado da América Espanhola, não só pela geografia, história, língua e cultura, mas também pelo seu ponto de vista imperial/monárquico da forma de governo.

Com o surgimento dos Estados Unidos como potência naval e militar do fim do século XIX para o início do século XX, as Américas começam a contar com o crescimento do comércio e dos investimentos norte-americanos nos no México, Caribe e América Central, antes da Primeira Grande Guerra, e na América do Sul durante e após a Guerra. Isto, associado a outros acontecimentos, gerou uma idéia de “superioridade” por parte dos estadunidenses em relação à América Latina, o que piorou a forma que os hispano-americanos enxergavam os EUA. A ideia de “pan-americanismo” – que tinha o objetivo promover o comércio e o investimento estadunidense na região, criar estruturas políticas mais ordenadas e previsíveis nos países ao sul e deter quais ambições imperialistas européias – gerou uma profunda desconfiança por parte dos governos hispano-americanos em relação ao interesse “repentino” dos EUA no hemisfério. Os governos hispano-americanos condenavam fortemente a guerra com a Espanha e o estabelecimento do protetorado estadunidense em Cuba e temiam que o pan-americanismo fosse uma ferramenta utilizada para ratificar a hegemonia política e econômica dos Estados Unidos e assegurar a futura exploração da região.

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