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O Descompasso

Por:   •  8/9/2018  •  Artigo  •  3.864 Palavras (16 Páginas)  •  130 Visualizações

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O DESCOMPASSO

José Augusto Abreu de Moura (EGN)

Resumo: O objetivo deste artigo consiste em estudar a Grande Guerra em termos das Revoluções nos Assuntos Militares que nela influíram; e a relevância para o tema do presente evento - “Globalização em tempos de crise econômica e política: Guerra e Paz” - reside no fato de, pelo menos para um estudioso, Geoffrey Till, aquele conflito ter interrompido um processo de Globalização análogo ao atual. A guerra ocorreu após as revoluções da Guerra Naval e da Guerra Terrestre, mas o amadurecimento da primeira ocorreu pouco antes do conflito, fazendo com que os procedimentos operacionais nele empregados estivessem perfeitamente acordes com o nível tecnológico alcançado, ao passo que, no caso da segunda, a evolução ocorrida no intervalo de mais de quarenta anos que separou seu amadurecimento da tecnologia empregada no conflito provocou um descompasso que resultou em grande perda de vidas.    

Palavras-chave: Grande Guerra, Revolução nos Assuntos Militares, Guerra Terrestre

Introdução

Desde fins do século passado até o início dos anos 2000, a “Revolução nos Assuntos Militares” (RAM) – uma profunda transformação que estava ocorrendo nos materiais e procedimentos empregados nas operações militares – constituía um assunto sempre presente nas publicações de assuntos estratégicos. O processo, detectado inicialmente no início dos anos 1980 pelos russos, foi reconhecido e normatizado pelos norte-americanos, tornando-se uma verdadeira ideologia que orientava o desenvolvimento de sistemas e conceitos doutrinários na gestão do Secretário de Defesa norte-americano Donald Rumsfeld.

Também nos anos 1980 teve início, com os governos de Ronald Reagan nos EUA e Margareth Thatcher no Reino Unido, o processo de intensa conexão das atividades econômicas de vários países que foi batizada de Globalização ou, mais propriamente Globalização Econômica.

A concepção inicial da RAM sofreu várias modificações, mas ela continua ativa, em sua enésima fase; a Globalização também, tendo dividido os atores internacionais em vencedores e perdedores; e ambas têm vários pontos de contato, especialmente nos conflitos do pós Guerra Fria - vários deles relacionáveis com essa divisão.

Verificou-se, na época de sua ebulição, que a RAM em questão não era a primeira – um dos principais estudiosos do assunto, Andrew Krepinevitch, identificou várias delas na História segundo um critério por ele estabelecido. Assim, o conceito trazia os historiadores militares em auxílio aos planejadores estratégicos, municiando-os com dados de revoluções passadas que pudessem iluminar questões atuais. Para esse mister, um dos períodos mais interessantes foi a virada do século XIX para o XX.

Considerando as RAM identificadas por Krepinevitch, processava-se, então, a "Revolução da Guerra Naval", que começara no início do século XIX, quando também começara a “Revolução da Guerra Terrestre”, mas esta terminara nos anos 1860-1870. Vivia-se também a “Belle Époque”, tempo de efervescência cultural e artística em que Paris se destacava e a guerra parecia muito distante para as populações dos principais centros urbanos do mundo, e segundo Geoffrey Till, um processo de globalização análogo ao dos dias de hoje. Paradoxalmente, essa virada de século também presenciava a "Paz Armada", rivalidade entre as principais potências que se traduzia em aumento progressivo dos poderes militares.

A “Belle Époque”, a globalização e a "paz armada" acabaram na Grande Guerra (1914-1918), e as duas RAM foram sucedidas pela “Revolução de Entre Guerras da Mecanização, da Aviação e da Comunicação”, ocorrida entre o fim desse conflito e o início da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Assim, aquele conflito marcou o encerramento de alguns processos históricos de alcance mundial, mas este trabalho tem por propósito tratar apenas do que toca aos aspectos militares, especificamente, do fato de a Guerra Naval e a Guerra Terrestre nele terem sido travadas em diferentes estágios de compatibilidade entre inovações e doutrinas.

Evolução e Revoluções

Em qualquer área do conhecimento, uma nova teoria começa com hipóteses que são testadas com o propósito de buscar algum aspecto que as refute. Se isso não acontece, ela se consolida e consegue reduzir vários fenômenos a algumas leis, cuja aplicação proporciona previsibilidade e abrangência (dentro de seu escopo) e dá origem a novos conceitos e desenvolvimentos – isto constitui a evolução.

        Há ocasiões, porém, em que novas constatações invalidam as hipóteses que originaram a teoria, obrigando a que todo o entendimento sobre o assunto seja questionado, com novas hipóteses e novos testes. Isto constitui uma revolução.

A cada revolução ocorrida na História, aí incluindo as RAM, seguiu-se um período de evolução, em que os paradigmas por ela fixados se mantiveram em termos gerais, acomodando as diversas alterações menores de procedimentos e técnicas, até que outra mudança de paradigma se revelasse como nova revolução, repetindo-se o ciclo.

O Critério de Krepinevitch

Logo após a Guerra do Golfo (1990-1991), episódio em que diversos sistemas recém desenvolvidos demonstraram sua eficácia na esmagadora derrota do Iraque, Andrew Krepinevitch, analista do Center for Strategic and Bussiness Assessment[1] (WATTS, 2011, p.5), estudou as grandes alterações da arte militar ocorridas no último milênio e detectou dez RAM desde a Guerra dos 100 anos (1337-1453) até o último quartel do século XX (KREPINEVITCH, 1994, “Ten Revolutions”)[2] sendo que, entre o início do século XIX e o início do século XX, ele assinala as já citadas “Revolução da Guerra Terrestre” e “Revolução Naval”.

O termo "Revolução nos Assuntos Militares" foi por ele escolhido para designar as alterações nas práticas relativas aos conflitos armados que se enquadravam em seguinte critério: elas não consistem apenas no emprego de novas tecnologias em combate, mas, sim, quando elas são aplicadas em um número considerável de sistemas, que são empregados segundo um conceito operacional inovador, em novas e adequadas concepções organizacionais (KREPINEVITCH, 1994, Caput §4). Nessas condições, são produzidas mudanças fundamentais na natureza ou na conduta dos conflitos, que resultam num enorme aumento da eficácia das forças armadas, proporcionando grande vantagem militar ao primeiro utilizador e, em consequência, sua adoção posterior por outros atores (KREPINEVITCH, 1994, “Seven Lessons” §4).

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