Redação Jornalistica

OS DOIS LADOS

Na capa da edição do dia 21 de junho do Jornal Extra já podemos ver um pouco de como o jornal encara as manifestações. Com uma manchete “Não Foi Passageiro”, o jornal faz uma alusão ao movimento passe livre – movimento considerado propulsor das manifestações de junho. No subtítulo, o Extra reforça essa visão começando a frase com “Um dia depois de governos no país inteiro baixarem o valor das passagens”. Esta frase também parece ter o intuito de nos levar a pensar que a redução de custo das passagens já seria suficiente para cessar os protestos, que não haveria mais motivos para reivindicações. Numa outra matéria do mesmo jornal, o título “Trezentos mil pedem passagem no Centro” reforça essa alusão, só que esse título parece sugerir que a manifestação reportada no jornal aconteceu com o propósito principal de baixar as passagens – propósito, este, negado pela maioria dos manifestantes quando perguntados sobre qual o motivo dos protestos.

No entanto, a construção da matéria foi feita para nos fazer crer que o confronto é quase sempre iniciado ou incitado pelos manifestantes. O jornal tendenciosamente inicia a matéria com a seguinte frase: “Os rojões jogados por manifestantes contra a cavalaria da Polícia Militar dispararam o gatilho da confusão”. Claramente vemos a intenção do Extra de nos inculcar o fato de que a culpa pelos confrontos é dos manifestantes; esta hipotética intenção do jornal é acentuada com uma foto (que é a de maior dimensão na matéria) exibindo um vândalo atirando algum objeto nos policiais ao fundo, que aparentam estar em posição defensiva. Todas as outras fotos da matéria retratam apenas os danos causados pelos vândalos.

Nesta mesma edição, ocorre um fato que expõe um determinado interesse do jornal. Em muitos trechos da matéria podemos perceber um pequeno, porém importante detalhe: o jornal classifica de “manifestantes” as pessoas que cometeram, na ocasião, vandalismo. Podemos ver isso nestes vários exemplos: “[...] enquanto manifestantes jogavam pedras e morteiros contra o prédio.”, “Perto dali, na Gamboa, os manifestantes tombaram e destruíram um carro da concessionária Porto Novo.”, “Durante o confronto, alguns manifestantes gritavam provocações, como ‘hoje é dia de matar a polícia!’”. Toda a matéria dessa edição enfatiza todo o ‘quebra pau’ que ocorreu durante as manifestações.

Em contrapartida, o Extra apresenta um argumento que parece se opor aos argumentos anteriores. O trecho “[...] o avanço do Choque com o apoio do Bope, que chegou, com fuzis por volta das 21h.” mostra que o veículo procura equilibrar os argumentos, e, de certa forma, defender os dois lados. Entretanto, fica claro que a intenção do jornal é muito mais censurar e reprovar as manifestações – mesmo que de forma subliminar – do que apoiá-las. Um fator que confirma isso é, como já vimos, o uso de argumentações contra os protestos durante quase toda a matéria e, apenas no último parágrafo, a utilização de apenas um argumento em favor deles – bem pequeno em comparação com os anteriores. A intenção de “equilibrar” a matéria parece ter o objetivo de não expor diretamente o posicionamento do jornal, que demonstra ser de desaprovação com relação aos protestos.

Em uma outra reportagem, com o título “Vem pra rua, vem! Mas pra quê mesmo?”, o jornal Extra tenta passar a sensação de uma falta de objetivo por parte dos manifestantes e, além disso, desqualifica os protestos citando a ausência de líderes. Podemos notar isso neste trecho do primeiro parágrafo: “As pedras portuguesas do Centro do Rio [...] devem ter estranhado os últimos dias. Não à toa. Onde estão os líderes, sempre à frente das manifestações?”. A matéria também associa os protestantes às Redes Sociais e também reforça a falta de foco nos protestos