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Christina Vital da Cunha

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Por:   •  17/3/2014  •  Seminário  •  1.254 Palavras (6 Páginas)  •  229 Visualizações

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Christina Vital da Cunha

A perspectiva teórica que norteia Religiões no Brasil, livro composto por 15 artigos de diferentes antropólogos e sociólogos da religião, refere-se à modernidade e ao seu impacto no campo religioso a partir de uma densa observação das mudanças, articulações, combinações e interpretações da polissemia que caracteriza esse fenômeno no país. Assim, o catolicismo dos novos tempos, os protestantes, pentecostais e neo-pentecostais em expansão e flexibilização, os jovens, o trânsito religioso e os contatos com "os sagrados", os esotéricos e o circuito neo-esotérico, as transformações no campo espírita, as novas falas e atuações públicas dos candomblecistas e umbandistas no Brasil compõem eixos temáticos abordados pelos pesquisadores com base em análises qualitativas e quantitativas pormenorizadamente demonstradas.

O campo religioso brasileiro nunca foi caracterizado, segundo estudiosos da religião, pela constituição de "fronteiras rígidas" entre as diversas formas de crer e de ser religioso. A "porosidade das fronteiras" entre catolicismo e espiritismo formou as instituições religiosas no país, assim como a própria cultura nacional. O crescimento dos pentecostais de 9% da população brasileira em 1990, para 15% em 2000, segundo dados do IBGE, passou, no imaginário social e nas análises de alguns cientistas sociais, a ameaçar o enquadramento sob o qual se estabeleceu o jeito de ser religioso e mesmo o jeito de ser cidadão no Brasil. O exclusivismo constitutivo das práticas e da crença evangélica estava em dissonância com a cultura nacional, mas apresentava, desde a época da guinada pentecostal no campo evangélico ao final dos anos 1960 e início dos 1970, um crescimento (para alguns) assustador.

Implicaria esse crescimento numa nova forma de ação social, cultural e política? O passar vagaroso dos anos nos apresenta mais encontros, mais flexibilidade, mais continuidades no cenário religioso brasileiro do que a ruptura (por alguns) temida. O pentecostalismo não acabou com a nossa diversidade. Pelo contrário: o pentecostalismo se tornou mais uma opção no quadro das diversas formas de contato com o sagrado que a sociedade instituiu.

A circulação e mesmo o múltiplo pertencimento, antes impensado, ao catolicismo, ao esoterismo, ao espiritismo e ao pentecostalismo já são observados na própria dinâmica da realidade social. O intenso trânsito religioso pelos textos do livro revelado se apresenta como fruto do voraz processo de individualização da pessoa na modernidade. Os vínculos religiosos apontam para uma experimentação. A fusão das várias crenças numa nova forma de ser fiel a uma religião é resultado das várias experiências religiosas vividas pelo indivíduo. A forma de ser católico, espírita, budista e mesmo evangélico se configura, na modernidade, como o resultado desse percurso de múltiplos contatos com "os sagrados". Existe ainda, neste trajeto, a possibilidade de constituição de uma religiosidade própria, "mixada" a partir das várias ofertas presentes no "mercado religioso" atual. Evidenciam-se assim os chamados "sincretismo tradicional" e "sincretismo pós-moderno".

Ao longo dos textos, é possível captar o intenso contato que os autores promovem entre o "tradicional" e o "moderno". Resignificam e relativizam o que esses "lugares" representam quando o assunto é religião. Nesse sentido, há novas e variadas formas de ser católico, de ser evangélico e mesmo de ser "sem religião" no Brasil contemporâneo.

Religiões no Brasil aborda a questão das crenças, dos costumes, da cultura e das instituições religiosas nacionais numa perspectiva dialógica. As falas presentes nos diferentes capítulos se interrogam, discutem e concluem. Os números estão disponíveis e sua leitura é plurifacetada. Os dados do censo do IBGE de 2000 apontam para um decréscimo do número de católicos acompanhado de um crescimento acentuado do percentual de evangélicos e dos que se declaram "sem religião", assim como do surgimento de variadas expressões religiosas orientais e tradições indígenas. Para alguns analistas esses números demonstram a diversidade religiosa nacional. Chegou-se a 35.000 respostas diferentes no censo. Para outros, os números comprovam não um cenário de diversidade, mas o quanto a religiosidade do brasileiro é marcada pelo cristianismo ou pela perspectiva judaico-cristã. A diversidade de ofertas religiosas existe, mas, em termos de representatividade, a amostra aponta para a concentração de católicos, com 73,8% das declarações, seguidos pelos evangélicos, com 15,5% e pelos sem religião, com 7,3%.

Para falar de católicos, é preciso repensar certa crença na homogeneidade que caracterizaria essa religião. Tal "catolicismo homogêneo" não existiu no Brasil e hoje é ainda mais difícil de ser observado. São muitos os catolicismos que compõem a religião ainda hoje predominante no país: há o catolicismo apostólico romano, o popular, o carismático,

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