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Homo

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Por:   •  14/3/2015  •  2.045 Palavras (9 Páginas)  •  283 Visualizações

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Com a denúncia do mal absoluto gerado nas entranhas do terror totalitário que literal pulverizou nossas categorias políticas e cuja finalidade era a destruição total da liberdade e da espontaneidade humanas erradicando assim toda possibilidade da dimensão política do homem, Hannah Arendt construiu seu pensamento político tendo como fundamento (começo) a 'reconsideração' da condição humana à luz de nossas mais novas experiências e nossos temores mais recentes". (A Condição Humana, p. 13).

Hannah Arendt propõe então que se "pense sobre o que estamos fazendo". Isso se concretiza na exploração das atividades humanas, visando explicar as estruturas que condicionam a existência humana. É este o empreendimento levado a cabo na sua antropologia filosófica presente na obra A Condição Humana, verdadeira síntese que subjaz a toda reflexão que visa os conceitos políticos, "a vida do espírito" e os eventos históricos. "Trabalho, obra e ação representam invariantes que impõem sua forma à ordem política e até mesmo ao pensamento" (A. Enegrén La Pensée Politique de H. Arendt, PUF, Paris.p.33).

Filósofa de origem e pensadora política por escolha, H. Arendt orientou seu pensamento por uma incessante e incansável procura de recuperação da dimensão política onde seja possível ação e diálogo entre os homens pela instauração de um espaço público e político fundado na liberdade.

Arendt, possuidora de uma personalidade extraordinária teve, como poucos pensadores, a característica de provocar qualquer um que se aproxime de sua obra. Não importa qual a razão do interesse que mova o leitor ao tomar contato com sua obra, ele deve reconhecer o vigor de sua reflexão e a paixão com que ela orientou sua vasta erudição na tarefa de compreensão do mundo em que viveu.

O solo onde marcou o "início" de seu pensar foi a Filosofia com Husserl, Heidegger e Jasper, orientador de sua tese doutoral sobre o conceito de amor em Santo Agostinho. As vicissitudes de seu itinerário existencial e intelectual logo a conduziram à política. "Meu negócio é a teoria política", disse ela. Evitou a expressão Filosofia política dada a sobrecarga semântica que esta expressão recebeu na tradição. Na tensão entre Filosofia e Política sua escolha recaiu sobre a Política, em face da qual, segundo ela, é impossível, desde Platão, permanecer neutro.

Em seu itinerário intelectual suas obras logo provocaram polêmicas não só pelo teor de suas posições mas sobretudo pela originalidade de seu modo de pensar e de expor suas idéias. Evitando sempre a ambição ao "renome" tornou-se rapidamente conhecida e respeitada. "Nada mais efêmero em nosso mundo, nada de mais precário que esta forma de conquista conferida pelo renome. Nada ocorre com tanta rapidez e facilidade do que o esquecimento." Estas palavras foram proferidas no ano de sua morte em 1975, por ocasião do agradecimento pelo Prêmio Sonning em Copenhage, por "Contribuições à Civilização Européia". Aliás, H. Arendt foi a primeira mulher a receber tal honraria que havia sido atribuída a Churchill, Albert Schweítzer, B. Russel, Arthur Koestler e outros.

Hannah Arendt buscou no passado, encarado como tradição fonte, as chaves para o seu pensamento político. Ao pensar a "condição humana' do homem moderno ela apela às experiências do passado: "esse passado, além do mais, estirando-se por todo o trajeto de volta à origem, ao invés de puxar para trás, empurra para frente, e, ao contrário do que seria de esperar, é o futuro que nos impele de volta ao passado" (Entre o Passado e o Futuro, p. 37).

Nossa época, no entender de H. Arendt, está tão acostumada com ciência política, com a história das idéias, com análises rigorosas de conceitos políticos que não consegue ver a riqueza e a especificidade de um "pensamento político". H. Arendt se refere a uma lacuna, uma fissura entre o passado e o futuro onde devemos nos instalar; nessa instalação é que se desdobra a atividade de pensar que H. Arendt distingue tanto da cognição, processo próprio das ciências, quanto da capacidade de raciocínio lógico que se alimenta do conceito moderno de razão, que se preocupe a "prever conseqüências". "A cognição tem um fim definido, que pode resultar de considerações práticas ou de mera curiosidade, mas uma vez atingido esse fim o processo cognitivo termina" (C.H., p. 184). A atividade de pensamento pode ser praticada e aprendida mas não pode ser ensinada através de inculcação de um método ou prescrição de regras ou receitas. O pensamento não tem ,outro fim além de si próprio. É incessante, repetitivo como a própria vida; a pergunta sobre seu significado leva ao enigma sem resposta do significado da vida. Pensamento e vida são de tal modo entrelaçados que o começo e o fim daquele coincidem com o começo e o fim desta.

E mais, visto que não são as idéias mas os eventos que mudam o mundo, e que a história é uma série de eventos e não de forças ou idéias de curso previsível (Idem, p. 264/265), H. Arendt nos convida ao exercício do pensar político como emergente da concretude de eventos políticos e seu pressuposto é que "o próprio pensamento emerge de incidentes da experiência viva e a eles deve permanecer ligado, já que são os únicos marcos por onde pode obter orientação" (Entre o Passado e o Futuro, p. 41).

Neste sentido seus escritos traduzem um pensamento político. Como obras de pensamento político podemos sobre elas perguntar se esclarecem, e de que modo o fazem, nossa experiência política concreta, mas não cabe perguntar exclusivamente se são verdadeiras ou falsas. Além do mais, escolhendo um modo não familiar e às vezes não ortodoxo de pensar, o pensamento de H. Arendt pode parecer complexo haja vista os diversos componentes e fatores que intervieram na sua configuração e na própria maneira pela qual esses pensamentos tomaram corpo e foram expressos.

O contexto no qual foi gerado este pensamento é europeu; judia, de origem alemã, herdou a riqueza cultural de seu país, da tradição filosófica e, sobretudo, como ela própria ressaltou, da língua alemã. Defrontou-se com o totalitarismo, emigrou para os Estados Unidos onde se envolveu com as questões cruciais da sociedade contemporânea. Em H. Arendt, encontra-se o pensamento essencialmente dinâmico baseado numa afirmação da liberdade radical do homem contra qualquer tentativa de subjugá-lo às forças das circunstâncias. Este é o fio condutor de suas obras.

A força e a originalidade de uma obra, de um pensamento ao propor

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