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Vasco

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Por:   •  14/3/2015  •  2.174 Palavras (9 Páginas)  •  246 Visualizações

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Introdução

O presente trabalho tem como objetivo entender o que Homero compreende por psy-ché em seus poemas. Este estudo tem como referência bibliográfica principal o texto: “Con-siderações sobre a psyché nos poemas homéricos” de Anselmo Carvalho de Oliveira .

Considerações iniciais

Anselmo Carvalho de Oliveira inicia o artigo “Considerações sobre a psyché nos po-emas homéricos” buscando ambientar os leitores ao contexto social, linguístico e cultural de Homero. Em especial, ele destaca grandes mudanças que marcaram o período, entre eles estão: surgimento das cidades-Estado e, com elas, da prática política; os primeiros filósofos (que posteriormente serão chamados de pré-socráticos), que para explicar o mundo não recorrem aos deuses, mas desenvolveram um pensamento racional; surgimento da poesia lírica e da tragédia (principais representantes: Píndaro, Safo, Ésquilo, Sófocles e Eurípedes); surgimento da reflexão ética e do direito. Assim, notamos uma ressignificação da noção de “pessoa” no pensamento grego. Segundo teóricos, pode-se ainda dizer que essas mudanças foram tão pro-fundas que não é equivocado considerá-las como registro do nascimento do homem ociden-tal.

A psyché (em português traduzida comumente por alma) é em geral resultado de um desenvolvimento histórico da concepção de “pessoa”. Esta ideia vai servir como centro e pon-to de partida, em todos os níveis do pensamento: na filosofia, medicina, ciências e psicologia. Entre os séculos VIII e IV a.C. os esforços por estudar e desenvolver esta ideia, são funda-mentais para a “descoberta do espírito” e a compreensão do homem em si mesmo e no cosmos, tanto na Grécia quanto na história humana geral.

Após essa breve introdução, Oliveira começa a destacar a psyché propriamente nos poemas homéricos. A primeira definição proposta pelo autor para o termo é: “condição de ser uma sombra destituída de qualquer característica própria, que lembrasse o mundo sensível dos vivos.” Segundo o autor, uma outra visão sobre o termo começa a surgir no século VI, em especial em poemas órficos e de Píndaro nos quais a alma é considerada como sendo separada do corpo, ao qual está presa para expiar culpas passadas. Nessa nova perspectiva, a alma é considerada imortal e se torna característica distintiva do homem.

Uma das grandes dificuldades para compreendermos o pensamento homérico a res-peito da psyché (que o autor pretende superar no artigo) se dá pela confusão comum de asso-ciar este termo à concepção dualista socrático-platônica, a qual separa corpo e alma, que se tornou um forte paradigma para a compreensão do homem. Essa visão de psyché é proposta, em especial, no diálogo do Fédon no qual se discute sua origem e destino. Assim um segundo equívoco combatido pelo autor é justamente decorrente desse fator, ao passo que em Homero, quando dizemos que o homem não possui psyché não se quer dizer que o homem não possui atividades psíquicas ou sentimentais, mas que essas ações são relacionadas a partes do corpo como veremos a seguir.

Para concluir essa pequena parte introdutória, Oliveira faz uma breve consideração sobre a etimologia da palavra psyché: “Psyché (ψυχή), derivado regressivo do verbo psýchein (ψύχειν) ‘soprar, emitir um sopro’.” Ele ainda considera a tradução em outras línguas para o termo, como por exemplo: soul (inglês), âme (francês), seele (alemão), anima (italiano) e alma (espanhol). Outra diferenciação que o autor ressalta é referente à ideia de alma no pensamento cristão que em nada reflete o pensamento homérico.

Psyché: o duplo do homem

Nos poemas homéricos não se tinha a compreensão de que a psyché possuía uma raiz divina ou que fosse dualista, corpo e alma, haja vista, estas são concepções socrático-platônica e portanto não pertencem ao tempo de Homero. A concepção de imortalidade da alma também não perfaz os poemas homéricos, de modo que podemos pensar com Reale, “enquanto a psyche não é continuação, mas cessação da vida, não-ser-mais em vida”. Assim sendo, no contexto temporal em que Homero estava inserido, não se tinha por ideia a continuação da vida após a morte, porquanto tais concepções “são completamente estranhas à mentalidade homérica.” Com efeito, para Homero, a alma não dispunha de uma origem divina e os heróis não eram considerados como seres duais de corpo e alma, mas denota-se como “a psyché não representa a vida consciente do homem, mas ela adquire significação quando o herói está desmaiado”. Dessa forma, a psyché surge no último suspiro de vida ou quando o herói está morto e destarte, na visão homérica, a alma não é o móvel da vida.

Deste modo, faz-se necessário desvelar a significação do termo psyché nos poemas homéricos que, por sua vez, tem diversas interpretações, no entanto em algumas passagens do poema é atestado o verdadeiro sentido, que se aclara do seguinte modo: “como não-estar-mais-vivo do homem”, podendo ser considerado como “o ser do ter sido”. Haja vista, quando os heróis morrem as suas psychaí vão para o Hades e continuam existindo, porém privadas de sentido. Pois, enquanto não houve a cremação do corpo desfalecido, este perma-nece neste mundo, destituído de cuidado e perdendo todas as características que o distingue, quer dizer, sua forma vem sendo deteriorada, visto que estão jogados aos animais.

Em detrimento, a mais expressiva referência de psyché ocorre no canto XXIII da Ilí-ada: Aquiles estava cansado, após rodear as muralhas de Tróia atrás de Heitor, e acaba ador-mecendo; de forma inesperada, recebe a psyché de Pátroclo que, por sua vez, “é pura aparência privada de vida; só pode aparecer em sonho e comunicar a Aquiles mensagens precisas, pelo fato de continuar a manter certo laço com seu corpo, enquanto ele ainda não foi cremado”. Deste modo, o “eídolon” adverte Aquiles, que fizesse seu funeral de forma digna e, por conseguinte, poderia ir definitivamente ao Hades. Ressaltando que a psyché de Pátroclo re-presentava a semelhança de quando era vivo; sendo válido considerar, que as práticas funerais exigidas eram conforme o tempo de Homero e respectivamente suas acepções, haja vista, que é com as práticas fúnebres que o morto adquire seu exílio em outro lugar. Segundo essa visão, quando não ocorre o rito, a psyché fica vagando entre o mundo dos vivos e dos mortos.

Ainda, no poema, Homero relata à despedida entre Aquiles e a psyché de Pátroclo, em que o guerreiro busca abraçar seu primo, sem obter êxito, visto que ela (psyché) se esvai por entre seus braços, por ser tão-somente

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