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A Classe Operária Vai Ao Paraíso

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Por:   •  26/2/2014  •  3.498 Palavras (14 Páginas)  •  502 Visualizações

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A classe operária vai ao paraíso – o trabalhador industrial entre o céu e o inferno

Publicado em 08/02/2011 por dariodasilva

 

 

 

 

 

 

 

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Sérgio Prieb1

“Eu sou uma máquina, eu sou uma roldana, eu sou uma rosca,

eu sou um parafuso, eu sou uma correia de transmissão,

eu sou uma bomba, aliás, a bomba está estragada,

não funciona mais, e agora não pode mais ser reparada”.

(Lulu Massa)

“Os pobres ficam loucos porque tem pouco,

e os ricos ficam loucos porque tem demais”

(Militina)

A Itália saiu da Segunda Guerra Mundial com uma grave crise econômica, e em função disso, deparou-se com um profundo avanço da esquerda. Já em 1948 uma greve geral mobilizou mais de 7 milhões de trabalhadores por três dias, os partidos de esquerda, atingiram a soma de 10 milhões de votos nos anos 50, perdendo apenas para a democracia cristã2. O Partido Comunista Italiano (PCI) fundado por Antonio Gramsci e Palmiro Togliatti teve um papel de destaque no avanço da esquerda italiana, muito devido a ativa participação dos comunistas na resistência anti-fascista. Mas foi sob o comando do secretário-geral Enrico Berlinguer, que o PCI chega ao seu auge de influência política nos anos 70, sendo considerado o maior partido comunista do ocidente, com 1,7 milhões de filiados e tendo atingido nas eleições de 1976, 34,4 milhões de votos.

A década de 70 seria, no entanto, um período de profundas transformações no capitalismo do mundo todo, em que se inclui a Itália. Depois de um período de conquistas para a classe trabalhadora, o padrão de acumulação taylorista-fordista entra em plena decadência. O resultado seria que muitos dos direitos conquistados seriam postos em xeque pelas burguesias da época, que objetivando diminuir os custos introduzem inovações tecnológicas poupadoras de força de trabalho. Seria o predomínio pleno da subsunção real sobre a formal3, da mais-valia relativa sobre a absoluta, que já vinha desde a eclosão da Revolução Industrial. O homem cada vez mais se torna um apêndice da máquina, não é mais a ferramenta que é construída para adaptar-se a mão do homem, é o homem que tem de adaptar-se à máquina. O papel do trabalhador na geração de riqueza passa a ser questionado, a crise capitalista faz com que a organização dos trabalhadores se depare com o aumento do desemprego, a carestia e a convivência com a reestruturação do trabalho na fábrica.

A partir de todas estas transformações que o mundo do trabalho vivenciava, uma pergunta ecoava na cabeça da esquerda da época: para onde estará indo a classe trabalhadora? O filme “A classe operária vai ao paraíso” de 1971 com direção de Élio Petri busca responder a essa pergunta: vai depender da própria classe trabalhadora, do despertar ou não de sua consciência de classe. Por esse motivo, esse é talvez o mais representativo dos filmes políticos italianos dos anos 704. O engajamento passa pelo próprio diretor, militante por muitos anos do PCI, sendo que mesmo depois de sair do partido continuou colaborando na seção de cinema do jornal oficial dos comunistas italianos, o “L’Unitá”. O ator principal do filme, Gian Maria Volonté por toda a vida foi militante do PCI, sendo protagonista de inúmeros filmes políticos italianos entre os anos 60 e 805.

O filme tem como cenário principal a BAN, uma fábrica que produz peças para motores. Ela utiliza o sistema de metas de produção, sendo que o desenvolvimento tecnológico que leva ao aumento da produtividade do trabalho não tem sido acompanhado do acréscimo salarial. Como diz o discurso de um líder sindical: “quando faziam 1000 peças por dia ganhavam 300 liras de salário, agora produzem 3000 peças e o salário é o mesmo”. A postura que os operários devem manter no trabalho é sempre em pé, nunca sentados, o que faz com que um operário veterano com problemas de próstata tenha incontinência urinária. Ao mesmo tempo, numa época em que a moda era os homens usarem cabelos compridos, estes são forçados a usarem toucas como as da força de trabalho feminina, o que seria caracterizado hoje como uma atitude típica de assédio moral.

Os operários iniciam sua jornada de trabalho ao som de um alto-falante que busca incentivá-los ao bom desempenho no trabalho, alertando para que cuidem da manutenção da máquina, e mais do que isso, no mais puro exemplo de relação fetichista entre homem e máquina, pede aos trabalhadores que tratem esta com amor o que não é seguido ao menos pelos mais politizados, que chegam a cuspir na máquina em atitude de desabafo.

Nem todos os trabalhadores, no entanto, tem esta atitude de revolta. Lulu Massa (Gian Maria Volonté) é o que no Brasil comumente se chamaria de “operário-padrão”6, um operário braçal que devido a sua alta produtividade passa a ser o parâmetro para todos os demais trabalhadores da fábrica BAN. É Lulu que com sua grande destreza e impressionante poder de concentração dita o ritmo de trabalho para os demais operários, estabelecendo as metas a serem atingidas pelos colegas.

A postura de Lulu no trabalho, de carrasco para os outros operários e de subserviência ao patronato, traz uma série de contradições que ele vivencia em boa parte do filme. Os colegas no trabalho o chamam de “puxa-saco” do patrão, e ele incomodado com a acusação pergunta em casa à sua mulher: “Acha que sou um puxa-saco?” ao que ela responde: “Comigo não”. Lulu têm uma atitude de submissão ao patrão, ao capital, a quem lhe paga o suado salário. Aos colegas que questionam as altas metas que são exigidas e que ele deveria se empenhar em ao invés de aumentá-las, diminuí-las, responde tão somente: “não inventei o sistema”.

Em relação aos demais operários, sua postura é de desprezo, considera-os uns preguiçosos por não serem iguais a ele. Evita dirigir-lhes a palavra quando trabalha, acha que conversar conduz à distração e o faz perder dinheiro: “Entre uma fala e outra são 30 liras a menos”,

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