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Fichamento imperio luso brasileiro

Por:   •  15/2/2017  •  Resenha  •  10.127 Palavras (41 Páginas)  •  320 Visualizações

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                           Um contraponto baiano:
1.A) Açúcar:
    O açúcar era o mais antigo produto agrícola de exportação da província; os colonizadores portugueses que se estabeleceram no Recôncavo em meados do século XVI haviam cruzado o Atlântico com planos de cultivar cana e construir engenhos. Mas, durante quase cem anos a partir de aproximadamente 1680, a depressão e a estagnação marcaram o comercio açucareiro baiano. As rebeliões, ao se transformarem em luta revolucionária pela independência e contra a escravidão, abriram novas e vastas oportunidades para aumentar a produção de açúcar no Brasil e em outros lugares. A guerra da independência na América do Norte britânica perturbou o comércio entre o Caribe e a Europa no final da década de 1770 e impediu o acesso dos produtores das colônias inglesas nas Antilhas a provisões essenciais. O resultado foi uma alta dos preços do açúcar em Londres e também em
Salvador.
    Embora devam ter comemorado a alta, os senhores de engenho baiano sem duvida permaneceram cautelosos. No passado, tinham visto os preços do açúcar subirem de repente durante guerras e depois caírem de novo a níveis muito baixos assim que a paz era restabelecida. As longas décadas de estagnação e declínio estavam definitivamente encerradas; o comercio exportador de açúcar, apesar de quedas ocasionais, permaneceria forte durante os trinta anos seguintes.
    Vendo os comerciantes disputando aos brados o direito de coletar o dizimo e oferecendo somas enormes pelo contrato, o governador da Bahia e a Junta da Real Fazenda local convenceram-se de que o dizimo geraria receitas maiores se o governo se encarregasse de arrecadá-lo diariamente. A Coroa aceitou a sugestão e, em 1800, aboliu a prática de arrendar o dizimo.
    Entre as inovações introduzidas, uma das mais importantes foi o fim do pagamento do dizimo em mercadoria. No antigo sistema, o contratador arrecadava um décimo de todo o açúcar produzido. Assim, em seus livros de contas, os senhores de engenho punham de lado uma décima parte da safra de cada ano a ser entregue ao contratador. Após 1800, a Junta da Real Fazenda fixou o dizimo em 10% do valor de mercado do açúcar em Salvador, a ser pago em dinheiro. Essa reforma permitiu à Junta acompanhar de perto a produção anual de açúcar na capitania.
    Com o novo sistema, a Junta tentou também deduzir os custos mais altos de transporte que oneravam os produtores de áreas mais distantes de Salvador. Cada engenho passou então a receber um “desconto” no dizimo, a Junta passou a manter uma “matricula”, ou registro, dos engenhos existentes na capitania. À medida que engenhos recém-construidos começavam a enviar açúcar para Salvador, seus nomes eram acrescentados à matricula.
    Os historiadores às vezes sustentam que a Independência interrompeu abruptamente a prosperidade do fim do período colonial. Para Góes Calmon, a guerra da Independência representou um “golpe terrível” para a economia da província e desencadeou uma “serie infindável de desgraças” que “perseguiram” a Bahia por todo o resto do século XIX. Engenhos arruinaram-se, vidas e capital se perderam.
    No cômputo feral, porem, as evidencias disponíveis estão longe de corroborar a idéia de que a independência provocou uma súbita retração na indústria açucareira da Bahia. Os senhores de engenho baianos, graças a seus esforços, no final da década de 1820 a produção de açúcar estava completamente recuperada de qualquer dano que a guerra lhe tivesse causado.
    Um surto de investimentos em novos engenhos fornece mais uma prova do vigor persistente do açúcar. Na década de 1820 os proprietários baianos começaram a construir um numero sem precedentes de engenhos.
    De fato, as condições eram favoráveis à instalação de novos engenhos e aos investimentos na expansão da lavoura canavieira. As perspectivas para as exportações de tabaco na época pareciam piorar a cada na. Nas transações de credito, é possível que a inflação tenha virado a balança entre comerciantes emprestadores e proprietários rurais devedores, em favor destes últimos.
    A construção de um engenho ainda demorava, em geral, de sete a oito anos; raramente menos de quatro. Os comerciantes também sabiam que barreiras tarifárias excluíam efetivamente o açúcar brasileiro do mercado britânico. Preços em queda e exclusão do mercado britânico sem duvida contribuíram muito para dar origem a um novo período de estagnação da indústria açucareira baiana.
    Para superar a crise, os produtores baianos precisavam pelo menos encontrar mercados estrangeiros para seu açúcar. Estes apareceram após 1845 na Alemanha e na Grã-Bretanha. Em 1446, conseguiram aprovar uma redução dos impostos sobre o açúcar estrangeiro. O comercio açucareiro na Bahia reanimou-se de imediato. As exportações aumentaram rapidamente a partir de 1845 e atingiram picos de mais de quatro milhões de arrobas no inicio da década de 1850. A produção também cresceu. Restaurada a sua confiança no açúcar, os proprietários baianos voltaram a construir novos engenhos.
    Tratava-se, talvez, de uma confiança exagerada, pois a recuperação do açúcar, embora tenha impressionado alguns observadores, não foi solida nem duradoura. Sem duvida, o açúcar baiano entrava agora mais livremente na Grã-Bretanha e na Alemanha, mas os preços continuavam caindo. Além disso, os novos mercados europeus haviam sido conquistados a um custo considerável: os senhores de engenho tiveram de mudar a qualidade do açúcar que produziam. As reduções das tarifas britânicas e alemãs aplicavam-se sobretudo aos açúcares de baixa qualidade, matéria prima para as refinarias da Grã-Bretanha e da Alemanha.
    Assim, os senhores de engenho da Bahia não podiam mais produzir os açúcares brancos purgados em que haviam se especializado desde os tempos coloniais. Os brancos purgados, embora não refinados, prestavam-se à venda imediata em mercados externos; não precisavam de nenhum refino tradicional. Assim, os senhores de engenho baianos, que antes vendiam um produto acabado para o mercado mundial, passaram, na década de 1850, a ser fornecedores de uma matéria prima barata para uma indústria estrangeira.
    Em suma, a expansão da cana transformou consideravelmente o Recôncavo. Enquanto no final do século XVIII a produção de açúcar estivera concentrada numa área relativamente pequena ao longo da margem norte da baia, oito décadas depois era possível encontrar engenhos em freguesias de toda a região. As exportações baianas de açúcar e café experimentaram um crescimento de longo prazo entre 1780 e 1860; o comercio do algodão e do fumo sofreu um declínio a longo prazo. O declínio das exportações de algodão continuaria durante o resto do século XIX; mas, no caso do fumo, a tendência de queda se inverteu a partir de meados da década de 1840.
    De fato, quando se centra o foco sobre as flutuações observadas no comercio de diferentes produtos tomados isoladamente entre elas de longo ou curto prazo, corre-se o risco de perder de vista a economia de exportação baiana como um todo. Sua historia ficaria então fragmentada nas historias separadas do açúcar, do fumo, do café e do algodão.
1776-86: Recuperação marcada pelo aumento da atividade comercial de salvador e, provavelmente também, das exportações, que atingiram seu auge no inicio da década de 1780.
1787-1821: Prosperidade baseada no crescimento substancial do comércio dos principais produtos de exportação, com pontos altos no final da década de 1790 e na década de 1810.
1822-29: Crescimento possivelmente mais lento em decorrência, primeiro, da perturbação do comercio durante a guerra da Independência e imediatamente depois; segundo, do persistente declínio das exportações de fumo; e terceiro, da inquietação política e social.
1830-45: Depressão caracterizada por declínio ou estagnação nas exportações de açúcar, fumo e algodão; somente o comercio do café, ainda um produto secundário, registrou crescimento.
1845-60: Recuperação baseada no crescimento das exportações de açúcar e fumo e no persistente vigor das exportações de café, estimulada ainda pelo comercio de diamantes.
    A recuperação iniciada em meados da década de 1840 não levou a outro período de grande prosperidade comparável ao ressurgimento da agricultura de exportação do fim do período colonial. Deu lugar, ao contrario, a longas décadas de estagnação e declínio. As receitas totais das exportações não aumentaram nos anos após 1860; para uma população em crescimento, isso equivalia a um declínio na renda oriunda do comercio exterior. Essa estagnação duradoura foi acompanhada por profundas mudanças na economia de exportação baiana, cujos primeiros sinais já se manifestavam no final da década de 1850. O crescimento registrado nas exportações de fumo e café nesses anos continuou em ritmo acelerado depois de 1860. Esses dois produtos vieram a representar uma parcela cada vez maior do comercio exterior da província; de fato, alguns anos as receitas da exportação do fumo ultrapassaram as do açúcar.
    A indústria açucareira baiana nunca se recuperaria plenamente do colapso que sofreu em 1889. Além disso, o fim do trafico negreiro foi apenas a primeira de uma serie de medidas que levaram à completa abolição da escravidão no Brasil, em 1888.

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