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INVESTIGAÇÃO, EDUCAÇÃO, EXPANSÃO REFLEXÕES SOBRE A UNIVERSIDADE DA CONSCIÊNCIA SOCIAL

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Por:   •  30/9/2014  •  Projeto de pesquisa  •  1.519 Palavras (7 Páginas)  •  301 Visualizações

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AS FUNÇÕES DA UNIVERSIDADE

PESQUISA, ENSINO, EXTENSÃO

REFLEXÕES SOBRE QUESTÕES DE CONSCIÊNCIA SOCIAL UNIVERSITÁRIA

Pedro Demo

A universidade que desejamos é aquela que se confunde com nosso desejo de qualidade de vida. Nossa qualidade de vida compõe-se necessariamente também de elementos universais, porque não somos uma ilha, nem seria desejável um projeto de isolamento. Mas compõe-se igualmente e principalmente daquilo que nós mesmos sabemos e conseguimos construir. Pertence, assim, ao conceito de qualidade da Universidade a característica de ser nossa, ou seja, de ser resultado da sabedoria histórica capaz de compatibilizar aquilo que a humanidade acumulou de desejável no trajeto do desenvolvimento, com aquilo que nós mesmos gostaríamos de definir como desejável.

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Tentamos, neste trabalho, refletir sobre as funções da pesquisa, do ensino e da extensão, sob a ótica do compromisso social da Universidade. A Universidade desejada varia, é claro, de acordo com os quadros de referência. Por isto, nosso interesse é somente alimentar o debate, e não imaginar modelos consolidados de Universidade.

PESQUISA

De uma certa ótica, podemos justificar ser a pesquisa a atividade-fim básica da Universidade, pelo menos quando nos referimos ao ensino. Se colocarmos como função fundamental a produção de conhecimento, a pesquisa torna-se atividade-chave. Na rota do progresso tecnológico, por mais que hoje alcancemos a tecnologia pela tecnologia, por quanto a tecnologia mais procurada é aquela capaz de superar os males da própria tecnologia, a Universidade tem-se destacado não só como um dos centros de sua geração,mas, por vezes, como o mais importante centro em quase todos os países. Para tanto, pesquisar é essencial, porque é disto que provém a inovação.

Ao mesmo tempo, na linha de busca da verdade ou da realidade, a pesquisa científica representa função primordial, capaz de tornar a ciência um jogo aberto, mais a serviço do saber do que da ideologia. Não que possamos eliminar a ideologia, mas será preferível o conhecimento que capte a realidade assim como ela é – ainda que isto seja no seu todo impossível – àquele conhecimento dedicado a deturpar os fatos.

Somente é Universidade aquela instituição capaz de gerar conhecimento original, através da pesquisa, que, neste sentido, será a postura básica a ser transmitida aos estudantes. Conhecimento original não significa, porém, a elaboração diária da novidade, já que isto seria inatingível. Cabe nesta acepção também a capacidade de reflexão própria e igualmente a tradução contextualizada de conhecimento alheio.

Assim, a pesquisa não se reduz ao hábito da experimentação empírica, que tem sua imagem mais condensada na prática do laboratório; é pesquisa também a dedicação teórica, desde que produzida em ambiente de personalidade própria. O que buscamos evitar é a postura apenas imitativa de uma Universidade que nada produz de seu, a não ser a transmissão – certamente depauperada – de saber alheio. Em muitos casos, pode ser mesmo incapaz de conferir contexto concreto a idéias simplesmente transportadas de fora.

Pesquisador não é somente aquele que domina certos instrumentos de experimentação e de mensuração, porque trata-se apenas de uma conseqüência possível. Fundamentalmente, pesquisador é aquele que se coloca diante da realidade em postura de indagação, sem respostas pré-concebidas, ou seja, aquele que procura partir da realidade que o cerca ou que está debaixo dos pés. Pesquisador é aquele que constantemente questiona as teorias, principalmente aquele conhecimento pretensamente tido como verificado. Pesquisador é aquele que sempre critica, porque sabe, sobretudo, autocriticar-se, que coloca em cheque principalmente os autores preferidos, que vê na realidade a meta e o desejo de saber, tendo como certeza unicamente a busca da verdade, não a posse dela.

Assim concebida, a pesquisa não depende de instrumentos específicos, nem de estar localizada em grandes centros. A mais humilde Universidade, se entender sua atividade como um cerco concentrado sobre a realidade que a envolve, está em atitude de pesquisa, e saberá superar o mimetismo parasitário. Não depende sequer de titulagem acadêmica, exceto no que tange a determinadas sofisticações instrumentais, que muitas vezes enriquecem a pesquisa, embora também possam apenas “sofisticar”. Quem admite que existe igualmente “sabedoria popular” – e ela existe, até mesmo como necessidade de sobrevivência – não terá problema em admitir que pesquisa é fundamentalmente uma atitude científica, não uma questão somente de domínio instrumental.

Não faz pesquisa aquela Universidade que, em seu curso somente repete saber alheio; ou somente se fixa em manuais estranhos; ou não leva em conta o contexto circundante; ou se exaure na autodefesa da elite nacional e local; ou se coloca como meta somente resultados importados. Por isto mesmo, não é Universidade; é uma caricatura, um arremedo, e não raramente uma farsa.

ENSINO

Diríamos que ensino é atividade derivada da pesquisa, porquanto nada tem a ensinar, quem não gerou sua personalidade científica própria através da pesquisa. Fundamentalmente, ensino é transmissão de conhecimento, e nisto é uma atividade essencial, porque o saber histórico e universalmente acumulado precisa ser repassado de geração em geração. A inovação do saber depende desta acumulação e da habilidade de sua transmissão.

É necessário igualmente reconhecer que ensinar bem é uma arte. Há inúmeros pesquisadores que não sabem transmitir seu conhecimento de forma atraente, porque lhes falta o dom de ensinar. Sem dúvida, o talento do professor liga-se a esta experiência fundamental, de saber expor, explicar, argumentar.

Todavia, por mais que possamos demonstrar a importância do ensino, mantemos que não é possível justificar a Universidade apenas à sombra desta atividade. Há outras instituições também capazes de o fazer, e talvez o façam até melhor, como são os modernos meios de comunicação. Se conferirmos à universidade como tarefa básica o ensino, digamo-lo da pesquisa, e temos então o resultado catastrófico de instituições dedicadas à tarefa subserviente e parasitária de repetir saber alheio. A Universidade que somente ensina, não descobriu sua razão de ser e é o retrato vivo da falta de qualidade.

Se partirmos igualmente da postura de professor como educador, não é difícil reconhecer que o fenômeno fundamental é o trabalho do estudante. Quer dizer, buscamos formar o pesquisador autônomo, não o discípulo, ou seja, aquele que somente saberia repetir o que o professor diz. Talvez aqui resida grande parte da tragédia da Universidade, num momento em que se aponta frontalmente sua baixa qualidade, juntamente com sua tendência à alienação social e cultural. Se o professor não assume atitude de pesquisador, não saberá transmiti-la ao aluno, estabelecendo-se um processo inevitável de depauperação crescente, ficando este como um saber já de terceira mão, tendo em vista que o do professor é de segunda mão.

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Enfim, confunde-se normalmente com a função de professor a habilidade de traduzir uma linguagem já encontrada pronta. Na verdade, somente é professor aquele que é capaz de produzir conhecimento próprio, que formou personalidade científica própria, que inova em sua especialidade, que confere toque próprio à leitura alheia. Neste sentido, a arte de ensinar é muito mais saber despertar no aluno a necessidade de pesquisa, do que dominar o auditório discursivamente.

EXTENSÃO

Em grande parte, pode-se dizer que extensão liga-se à aplicação do conhecimento. Se observarmos que, para intervir na realidade, é mister conhecê-la, há certamente uma referência muito íntima com a pesquisa. Contudo, não dizemos que a dependência com relação à pesquisa seja da mesma ordem do ensino, porque a intervenção na realidade também condiciona a pesquisa.

Não vamos discutir a propriedade do termo extensão. Mas reconhecemos nesta atividade um conteúdo muito relevante da Universidade, não somente com referência a possíveis ações de caráter social, mas principalmente, como requisito da qualidade da pesquisa e do ensino. Normalmente, acentua-se a dedicação a tarefas colaterais, sejam elas de atendimento a comunidades carentes, de promoção cultural, de editoração, de relacionamento com aplicações tecnológicas etc. Dizemos que são tarefas colaterias, não porque não sejam importantes, mas porque são vistas fora do contexto da pesquisa e do ensino. Todavia é necessário perceber que se jogam aí duas dimensões essenciais da Universidade.

De um lado, exercita-se a consciência social do estudante e do professor, na medida que percebem o compromisso comunitário, de utilidade ao País, à região e à sociedade local. De outro, a atividade de extensão é elemento central de aprimoramento da qualidade da Universidade, porque pode evitar o alheamento teórico, o academicismo apenas discursivo, e força o contato com, a realidade, colaborando na elaboração de atitude de pesquisa.

Assim entendida, a extensão deve ser concebida como atividade curricular, inserida, necessariamente, na esfera da pesquisa e do ensino. Se isto não acontecer, será sempre ação residual, precisamente voluntária, intermitente, irregular. Um dos instrumentos será o estágio curricular, como forma de contato com a realidade, que afinal é a grande mestra. De novo, o estágio não pode ser visto somente na dimensão profissionalizante, por mais importante que seja, mas é, sobretudo, condição de qualidade.

Não pode haver mimetismo mais agressivo do que a Universidade plantada em contexto de subdesenvolvimento que não saiba disso, exaurindo-se em fazer de conta que é uma instituição de ensino superior. A descoberta da própria realidade é o que é de mais fundamental, e, neste sentido, absorção de conhecimento alheio só pode ser instrumento, não finalidade em si.

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