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O Livro Da Bruxa

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Por:   •  4/3/2014  •  1.425 Palavras (6 Páginas)  •  253 Visualizações

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Encontro

Nosso primeiro encontro aconteceu num final de tarde de primavera. Havia chovido, e o ar estava fresco. Alguns relâmpagos ainda iluminavam o céu, e os trovões chegavam como rugidos de um animal distante. O sol, antes de se pôr, tinha encontrado uma fresta entre as nuvens e entrava hori- zontalmente pelas janelas do hospital.

Eu estava terminando meu plantão, visitando os pacientes internados na enfermaria do terceiro andar. Consultei a última ficha. Era uma senhora de 86 anos com diagnóstico de pneumonia.

Ela estava só em seu quarto, e quando entrei fui recebido com um grande sorriso.

- Boa tarde, doutor - disse, ajeitando-se melhor na cama.

- Boa tarde! Então a senhora é a famosa paciente com pneumonia - brinquei.

- Ainda não tão famosa, mas isso não é o mais importante - respon- deu, bem humorada.

- Como a senhora está se sentindo hoje?

- Estou cada vez melhor. Não tive mais tosse, e após a chuva o ar está bastante agradável, sem poluição. Olhei as radiografias pulmonares feitas na véspera. A visualização dos brônquios era evidente e demonstrava uma inflamação do tecido pulmonar, um dos sinais característicos de pneu- monia.

Numa paciente jovem, um quadro deste tipo não é muito preocupante, pois os modernos antibióticos podem debelar rapidamente a infecção. Mas em pessoas idosas é necessário cuidado. Por isso, a idade acima de 65 anos é um dos critérios utilizados para internação nos casos de pneumonia.

- Gostaria de auscultar seus pulmões. A senhora poderia sentar-se? - perguntei.

- Claro que sim - respondeu, já se levantando com uma agilidade incomum para sua idade.

Ao examiná-la, percebi que os sons pulmonares estavam límpidos. Não havia nenhum ruído anormal detectável através do estetoscópio, e sua freqüência respiratória era absolutamente normal. Fiquei surpreso, pois pa- cientes idosos desenvolvem quadros mais complicados. Uma melhora tão rápida numa senhora de 86 anos era bastante rara.

- Parabéns, a senhora está com os pulmões em franca recuperação. Em breve poderá ir para casa - animei-a.

- Que bom... O senhor não sabe, mas gosto muito de ler seus artigos - disse, mudando repentinamente de assunto. - Quando recebo a revista, é a primeira coisa que leio.

Ela referia-se a uma revista na qual eu escrevia uma coluna mensal.

O hospital é um lugar onde muitos pacientes sentem-se isolados e carentes. Assim, é um dever do médico dedicar a máxima atenção a eles, pois esta atitude é fundamental para o processo de restabelecimento.

Ao estimular nossa conversa, acreditava estar apenas dando atenção a uma senhora com certo grau de carência afetiva. Não fazia a mínima idéia das incríveis mudanças que aconteceriam em minha vida a partir daquele encontro.

- Ah, então é a senhora que lê meus artigos. Os editores disseram que só estavam mantendo a minha coluna porque havia uma única leitora assídua - comentei, rindo.

- Não brinque. O senhor sabe que muitas pessoas se interessam pe- los seus artigos. Aliás, este é o principal motivo pelo qual estou aqui.

Fingi ter sido surpreendido.

- Quer dizer que a senhora ficou com pneumonia porque leu meus artigos?

- Minha pneumonia é apenas um pretexto. O verdadeiro propósito deste encontro é ajudá-lo em seu novo trabalho - declarou.

- Novo trabalho? Nem estou conseguindo dar conta das coisas que tenho para fazer e a senhora ainda quer me dar um novo trabalho... Espero que seja bem remunerado - gracejei.

Ela ajeitou seu travesseiro e recostou a cabeça antes de continuar.

- Quando li um dos seus artigos pela primeira vez, percebi que você... posso chamá-lo de você? - perguntou.

-Sem dúvida - respondi.

- Ao ler o artigo, senti que você estava em busca de um conhecimen- to maior, mas ainda não estava pronto para recebê-lo. Desde então venho acompanhando a evolução de suas idéias. Recentemente, ao ler “A Escola de Pintura”, percebi que a hora de procurá-lo havia chegado - concluiu.

“A Escola de Pintura” é o título de um artigo no qual eu comparei a vida ao trabalho de pintar um quadro. Tomo a liberdade de reproduzi-lo, para que você saiba do que se tratava nossa conversa.

A escola de pintura Outro dia um amigo me perguntou o que eu acho que é a vida.

Resposta difícil, não é? Vou contar como respondi.

Imagine uma escola de pintura. Ao entrar, você recebe uma tela em branco e encontra vários alunos pintando. Muitos estão trabalhan- do há anos, e os quadros são de todos os tipos, desde obras maravilho- sas até telas completamente destruídas. As tintas, pincéis e materiais de pintura estão espalhados por toda a sala, alguns bem acessíveis, outros em locais bem difíceis.

Apesar de ser uma escola, não há professores. É tudo por sua conta.

O que você faria nessa situação? Pegaria qualquer pincel e sim- plesmente espalharia tintas em sua tela? Observaria os que estão tra- balhando e tentaria imitar alguém talentoso? Juntaria sua tela às de outras pessoas e pintaria um grande painel em equipe? Tentaria criar uma obra original e aprender com seus próprios erros? Utilizaria ape-

nas os materiais mais acessíveis ou batalharia para conseguir também os mais difíceis?

Volto a perguntar,

...

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