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Por:   •  10/10/2013  •  3.070 Palavras (13 Páginas)  •  307 Visualizações

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Lazer, trabalho e qualidade de vida

Christianne Luce Gomes Werneck*

O significado de lazer como o inverso das obrigações de diferentes naturezas, principalmente das obrigações do trabalho, vem predominando em nosso contexto. Frequentemente, entende-se o lazer como tempo de "não-trabalho", tempo "livre" ou "desocupado"; tempo dedicado à diversão, à recuperação de energias, à fuga das tensões e ao esquecimento dos problemas que permeiam a nossa vida cotidiana.

Constituindo um momento propício para gozar a vida, difunde-se a idéia de que o lazer é capaz de proporcionar tudo aquilo de que somos privados não somente no trabalho, mas em todas as dimensões de nosso viver: o prazer, a liberdade, a alegria, a autonomia, a criatividade e a realização. Contudo, o lazer fracassa juntamente com as nossas insatisfações, pois não representa um fato isolado da dinâmica social mais ampla, refletindo as contradições e as múltiplas formas de alienação e de marginalização presentes em nosso meio.

Nesse sentido, para compreender porque o lazer vem sendo concebido como um tempo oposto ao trabalho, capaz de resolver ou atenuar as mazelas da sociedade, é essencial analisar o seu processo de constituição histórica no mundo ocidental, sempre concebido em função de determinados interesses hegemônicos.

1. O ponto de partida desta história: lazer e trabalho na Antigüidade clássica

As noções de lazer e de trabalho, bem como todo o saber produzido no mundo ocidental, tem suas raízes primeiras na Antigüidade clássica. Esse contexto histórico é marcado pelo apogeu urbano, intelectual e artístico de Atenas, centro para onde convergiam produtos e idéias do mundo inteiro e de onde partiam, em todas as direções, os princípios básicos de todo o conhecimento construído no Ocidente.

Os gregos relacionavam o lazer com o ócio – desprendimento das tarefas servis –, condição propícia à contemplação, à reflexão e à sabedoria. No entanto, apesar de assumir caráter contemplativo e reflexivo, o lazer não significava passividade. Ao contrário, representava um exercício em forma elevada, atribuído à alma racional: os tesouros do espírito eram frutos do ócio. Como lembram Carlton Yoshioka e Steve Simpson (1989), o lazer (skhole) era o inverso de ocupação (ascholia), de recreação (anapansis) e de divertimento (paidéia). Recreação e divertimento consistiam intervalos entre ocupações, sendo relegados às crianças.

Estudos de Hannah Arendt (1993) revelam que a palavra grega skhole, assim como a latina otium, significam toda e qualquer isenção da atividade política e não simplesmente lazer, embora ambas sejam também utilizadas para indicar cessação de trabalho. Entretanto, skhole não resultava da existência de um "tempo de folga" conquistado sobre o trabalho, mas era a possibilidade de abstenção consciente das atividades ligadas à mera subsistência.

Nesse entendimento, não era qualquer pessoa que poderia gozar do lazer, porque isso implicava, necessariamente, as condições de paz, de prosperidade e de liberdade em face das tarefas servis e das necessidades da vida de trabalho. Como dependia de certas condições políticas e socioeconômicas, o lazer representava um privilégio reservado unicamente aos filósofos.

Nesse sentido, para saber compreender o lazer é preciso aprender e desenvolver certas habilidades que tenham por fim o próprio indivíduo que goza desse repouso. Por essa razão, as classes que se dedicam à "vida ativa" – artesãos, lavradores e guerreiros – deveriam estar em condições de produzir e de fazer a guerra mas, para Aristóteles, valia muito mais gozar da paz e do repouso proporcionados pelo lazer.

Para compreender o significado da expressão "vida ativa" em Aristóteles, busco auxílio nas análises realizadas por Hannah Arendt (1993). Segundo as considerações dessa autora, a expressão vita activa designa três atividades humanas fundamentais: o labor (labor), o trabalho (poiesis) e a ação (praxis). O labor é a atividade que corresponde ao processo biológico do corpo humano; relaciona-se às necessidades vitais produzidas e introduzidas no decorrer da existência. Com isso, a condição humana do labor é a própria vida. Ele assegura não apenas a sobrevivência do indivíduo, mas a perpetuação da espécie.

O trabalho, por sua vez, é a atividade correspondente ao artificialismo da existência humana, traduz o fazer, o fabricar, o criar pela arte. É obra do homo faber, ser humano que maneja instrumentos, capaz de produzir um mundo "artificial" de coisas, nitidamente distinto de qualquer ambiente natural. O trabalho e o seu produto – o artefato humano – emprestam determinada permanência e durabilidade à futilidade da vida e ao caráter efêmero do tempo humano. Dessa forma, a condição humana do trabalho é a mundanidade.

A ação corresponde à condição humana da pluralidade e é a única atividade que se exerce diretamente entre os homens sem a mediação dos objetos ou da matéria. O recurso utilizado pelo ser humano é o discurso, a palavra: trata-se da ação no campo ético e político.

Com isso, o lazer era o inverso de vita activa – que engloba tanto o labor, como o trabalho ou a ação – sendo então associado ao que Aristóteles entende por vita contemplativa, exercício nobre ao qual somente poucos poderiam se entregar. Além disso, é importante ressaltar o caráter a-político e a-histórico assumido pelo lazer, uma vez que, para gozá-lo, era fundamental abster-se do trabalho útil ou produtivo e cessar toda a vida política concretizada nas delimitações do espaço público da polis, buscando o recolhimento privado, base do repouso filosófico.

As considerações aristotélicas influenciaram sobremaneira a constituição do pensamento ocidental, sobretudo no que se refere ao entendimento de lazer como algo que está atrelado ao trabalho, assumindo contraditórias relações. A verdadeira relação que caracteriza a categoria trabalho-lazer na Antigüidade clássica, sobretudo considerando o esplendor grego, é a dialética necessidade-liberdade pois, como nos diz Hannah Arendt (1993), o desejo de libertação das fadigas e penas do trabalho é tão antigo quanto a história de que se tem registro.

Entretanto, não foi essa a idéia difundida após o declínio da civilização helênica, que ocorreu paralelamente à ascensão romana. Embora bastante influenciada pela cultura grega, Roma foi palco para a constituição de novos valores, principalmente no que se refere à propagação do cristianismo.

Ao aceitar adeptos de todas as classes sociais,

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