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Globalização

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Por:   •  26/9/2014  •  1.953 Palavras (8 Páginas)  •  1.825 Visualizações

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1. O significado do termo “globalização”

A palavra globalização foi forjada na década de 1980, nos Estados Unidos, e seu significado busca interpretar inicialmente, o processo de formação de uma economia global. Obtendo êxito na designação dessa nova realidade – que mostrava o aumento da interação das diversas partes do mundo, a facilidade de deslocamentos e de comunicação – a palavra foi incorporada com bastante facilidade pelos meios de comunicação de massa e ao mesmo tempo também passou a ser utilizada pelos meios acadêmicos e intelectuais, que procuraram dotá-la de significado mais preciso. Por outro lado, o termo hoje é aplicado em outras dimensões que não só a econômica, como a “globalização cultural”, da qual há duas posições que se contrapõem: aqueles que defendem que está havendo uma homogeneização cultural global, com a extinção das particularidades culturais; e outros que, ao contrário afirmam que está ocorrendo uma nova diversidade.

O fenômeno da globalização foi pensado por muitos como o fim da produção das diversidades. Esse termo, sempre associado à ideia de MODERNIZAÇÃO – ou, ainda, “americanização” –, trouxe consigo a perspectiva de um mundo que estaria rumando a um processo de homogeneização cultural: as diversidades seriam solapadas por essa nova ordem colocada em escala mundial. Desde o final da Segunda Guerra Mundial e, em especial, após a queda do muro de Berlim, um mundo “sem fronteiras” e interligado difundiu o imaginário de uma “aldeia global”. A difusão em velocidade espantosa das novas tecnologias de telecomunicação e transportes apresentaria uma inevitável decadência de formas culturais particulares, normalmente associadas a um “atraso” e ao “não‐moderno”, dando lugar à hegemonia política, econômica e cultural do “mundo ocidental”. A globalização, nesse sentido, sempre esteve associada a um modelo econômico responsável pela conexão de diferentes lugares do mundo, criando blocos e ambientes” favoráveis à expansão do capital. A questão é que a dinâmica cultural ganhou – e ganha – cada vez mais velocidade no contexto da chamada globalização. A diferença e a multiplicação de identidades parece apenas ter aumentado e, por consequência, criado desafios à interpretação antropológica acerca dos fenômenos culturais contemporâneos.

2. Identidade cultural

Tema caro à antropologia, a identidade ganha em complexidade conceitual e desafia os analistas no contexto da globalização. Num mundo onde as pessoas estão cada vez mais interligadas, seria possível realizar a simples conexão “uma cultura, uma identidade”? A escola antropológica norte‐americana, denominada “Cultura e Personalidade”, fundamentou‐se num modelo interpretativo que conecta, de forma clara, a identidade dos sujeitos a uma cultura definida. Segundo essa linha de pensamento antropológico, pertencer a uma cultura evocaria diretamente uma forma identitária. A cultura ofereceria um universo e uma estrutura que envolve de forma comum todos os membros de determinada comunidade, conforme elucida o antropólogo brasileiro Renato Ortiz: Cada cultura representaria, portanto, um “padrão”, um todo coerente cujo resultado se realizaria na ação dos homens. Uma autora como Ruth Benedict pode então falar em “caráter” de um povo, por exemplo, os zuni, indígenas do sudoeste americano. Eles se definiriam por sua atitude apolínea, prescrita pelo todo social, cuja tendência seria eliminar os excessos da vida pessoal, política e religiosa, em favor de um comportamento prudente e cauteloso. A moderação torna‐se assim sinônimo de identidade zuni. [...] Socializados desde a infância dentro de um determinado contexto, eles interiorizariam, pouco a pouco, os elementos constituintes do núcleo central de sua sociedade. Ortiz vai problematizar esse viés interpretativo da identidade cultural. A questão é que esse modelo foi transposto, por muitos antropólogos norte‐americanos, do estudo de “sociedades primitivas” para a análise do “caráter” de identidades. nacionais. Essas sociedades, entendidas como um todo integrado serviria de modelo para o entendimento de unidades de pertencimento mais amplas. A extensão lógica desse modelo explicativo derivaria em relações do tipo: “Os brasileiros são de tal forma e os japoneses são de outra” – generalizações identitárias que tomam como referência máxima a unidade nacional (como se não pudéssemos pensá‐la também como uma construção historicamente datada). Conforme nos demonstra Ortiz, estamos diante de uma noção essencialista de identidade. Nega‐se, portanto, o seu caráter de construto social, tomando a identidade como um dado “natural”. O antropólogo aponta limites dessa noção de identidade, principalmente no que diz respeito ao atual contexto de mudanças globais. Não é possível mais pensar em um único referente para a identidade (o Estado‐Nação, uma etnia, uma cor etc.). Tomando de empréstimo a noção do antropólogo francês Levi‐Strauss, que aponta a dimensão virtual – indispensável para explicar aspectos da vida sociocultural – da identidade em oposição a uma visão que coloca a identidade como “real”, Ortiz nos mostra a identidade como um elemento que se define em relação a outros elementos, daí seu caráter RELACIONAL. Portanto, buscar identidades “autênticas” não faz sentido, contanto que elas sejam válidas em determinado contexto social. Nesse sentido, ao contrário da versão interpretativa “uma cultura, uma identidade”, teríamos a noção de muitos referentes possíveis mediando as identidades dos sujeitos. Assim é que Ortiz nos propõe pensar a globalização em relação àquilo que ele denomina modernidade-mundo: A modernidade requer um desenraizamento mais profundo. No momento em que ela se radicaliza, acelerando as forças de descentramento e individuação, os limites anteriores tornam‐se exíguos. A “unidade moral, mental e cultural” é implodida. Se entendermos a globalização não como um processo exterior, alheio à vida nacional, mas como uma expansão da modernidade‐mundo, temos elementos novos para refletir. As contradições, inauguradas pela sociedade industrial e que atravessavam os espaços nacionais, ganham agora uma outra dimensão. Elas extravasam para o plano mundial. Nesse contexto, a identidade nacional perde sua posição privilegiada de fonte produtora de sentido. Emergem outros referentes, questionando sua legitimidade.Não se trata de desconstituir o papel que os estados‐nacionais ocupam na vida dos sujeitos, impondo‐lhes limites e constrangendo as suas ações (sistemas jurídicos e políticos, por exemplo). Trata‐se,

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