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Movimentos Sociais nas Correntes Sociologicas Contemporâneas

Por:   •  4/11/2018  •  Resenha  •  6.913 Palavras (28 Páginas)  •  144 Visualizações

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Os Movimentos sociais nas correntes sociológicas contemporâneas:

  1. Introdução:

Este texto tem o objetivo de subsidiar o debate sociológico realizado com a turma de estudantes de ciências sociais, matriculados/as na disciplina de “movimentos sociais rurais”, trata-se de um texto quase telegráfico para contribuir com as reflexões realizadas. Do mesmo modo do texto anterior (movimentos sociais nos clássicos da sociologia), o conteúdo deste, necessariamente deverá ser sempre relacionado com os textos dos próprios autores, cuja indicação bibliográfica está registrada no final deste texto.

Reconhecemos que, as décadas de 1960 a 1980 foram marcadas pela emergência de importantes movimentos sociais, que tiveram influência significativa na elaboração da agenda social e política de então e nos anos seguintes, mas também nos valores e comportamentos das pessoas, grupos, sociedades. A análise sociológica, principalmente nas suas vertentes vinculadas ao paradigma da emancipação social passou a dar fundamental atenção a tais movimentos como espaço significativo de expressão do comportamento social da sociedade contemporânea.

Uma questão que vem sendo colocada com freqüência há alguns anos, é “o que há de novos nos novos movimentos sociais?” (REZENDE, 1995; RIECHMANN, 1994). Na realidade, alguns autores enfatizam que tais movimentos são uma manifestação contemporânea de velhas aspirações de emancipação social, e mesmo, inovações atuais de antigos movimentos, dentre os quais, só para citar dois exemplos, o movimento feminista, com mais de 170 anos enquanto movimento organizado, iniciado nos Estados Unidos na década de 1830, na Inglaterra na década de 1850, na França, na década de 1870; e o movimento pacifista, que se organiza e luta desde várias décadas, mas mantém o 16 de julho de 1945, como data simbólica pois se refere a explosão da primeira bomba atômica (em treinamento) em Nuevo México (RIECHMANN, 1994, p. 69 – 70).

Contudo, o que na literatura sociológica passou a se referir como “novos movimentos sociais” são aquelas mobilizações que se referem a 1968, por um lado, apresentando novos atores e, por outro, ressignificando antigos movimentos. Ou seja, 68 é uma data emblemática e simbólica, pois se referiu a manifestações coletivas plurais, criativas e inovadoras, articuladas em pelo menos quarenta países do mundo. Tais manifestações envolveram bandeiras de luta, palavras de ordem, estilos de mobilizações, gerando um clima de entusiasmo entre distintos sujeitos sociais e políticos, e sempre sinalizando certa contraposição aos modelos políticos e econômicos dominantes. Embora se percebam elementos de continuidade e de ruptura no interior dos próprios movimentos pré-existentes, a análise em torno dos novos movimentos se impôs teoricamente a partir daí, registrando a data de 1968 como referência no assunto.

Se há uma afirmação de “novos movimentos”, implicitamente se refere a existência de “velhos” ou “antigos” movimentos sociais, estes podem ser caracterizados como os movimentos operários e sindicais, as cooperativas de artesãos ou outros trabalhadores cooperativos, os movimentos camponeses, movimentos indígenas, a maioria destes, com forte atuação principalmente no século XIX.

Frente a tão surpreendente processo (dos novos movimentos), é evidente que a sociologia enfrenta vários caminhos explicativos. Na tradição sociológica americana, a teoria da mobilização de recursos pode ser caracterizada como hegemônica nos estudos dos movimentos sociais, ancorando-se na vitalidade das lutas sociais pelos direitos civis dos Estados Unidos na década de 1960. Já para a tradição sociológica européia, com forte influência na América Latina, se afirmou a conhecida teoria dos novos movimentos sociais.

Vários autores passaram a estruturar suas sociologias em torno do chamado paradigma dos novos movimentos sociais, o que não significa que haja homogeneidade entre eles[1]. Reconhecendo suas diferenças, podemos destacar elementos comuns, que os identifica em torno de um paradigma: explicitação de análise do social, com ênfase nos aspectos culturais, políticos e ideológicos; destaque para as lutas do cotidiano, aceitação de que os conflitos se manifestam nas estruturas sociais, mas também nas micro-relações; convergência em torno da idéia de que as solidariedades são constitutivas de identidades. (GOHN, 2005).

Para a análise que estamos realizando no presente capítulo, tomamos como referências mais freqüentes as contribuições de Alain Touraine (1978, 2002) e Alberto Melucci (1999, 2001), devido à importância que estes dois autores têm revelado para a análise sociológica produzida no Brasil, importância que se manifesta nas obras traduzidas, nos convites para participação em eventos acadêmicos, científicos e políticos, nas citações em obras de autores nacionais. Como referência mais atual (década de 1990 e início do século XXI); assumimos as contribuições de autores ibéricos vinculados ao Coletivo para o Impulso dos Movimentos Sociais (CIMS), movimento intelectual organizado na Espanha, onde se destacam as contribuições de Jorge Riechmann e Tomás Villasante.

Antes do estudo destes autores, uma citação necessária é a de Manuel Castells, devido a sua extensa produção na área. Este autor, após extensa obra produzida nos anos 70 e 80, valorizando as novas expressões das lutas sociais, principalmente as contradições urbanas, como novas dimensões das lutas de classes, chega ao final do século enfocando novas abordagens. Ele caracteriza a atual sociedade capitalista atual, como global e informacional. Tal análise tem conseqüências para a percepção da ação social, ou para as ações coletivas e movimentos sociais:

A tecnologia e as relações técnicas de produção difundem-se por todo o conjunto de relações e estruturas sociais, penetrando no poder e na experiência e modificando-os. Dessa forma, os modos de desenvolvimento modulam toda a esfera de comportamento social, inclusive a comunicação simbólica (CASTELLS, 1999, p. 35).

Nesse contexto, o autor confere uma importância muito limitada à ação dos movimentos sociais e da política, não reconhecendo neles qualquer contribuição significativa frente aos outros processos de transformação:

Os sistemas políticos estão mergulhados em uma crise estrutural de legitimidade, periodicamente arrasados por escândalos, com dependência total de cobertura da mídia e liderança personalizada, e cada vez mais isolados dos cidadãos. Os movimentos sociais tendem a ser fragmentados, locais, com objetivo único e efêmero, encolhido em seu mundo interior ou brilhando por apenas um instante em um símbolo de mídia. Nesse mundo de mudanças confusas e incontroladas, as pessoas tendem a reagrupar-se em torno de identidades primárias: religiosas, étnicas, territoriais. [...] No entanto, a identidade está se tornando a principal e, as vezes, a única fonte de significado em um período histórico caracterizado pela ampla desestruturação das organizações, deslegitimação das instituições, enfraquecimento de importantes movimentos sociais e expressões culturais efêmeras (Idem, p. 22 –23).

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