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Preconceito, tradição e autoridade

Por:   •  8/8/2017  •  Artigo  •  2.152 Palavras (9 Páginas)  •  539 Visualizações

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JEFFERSON APARECIDO DA SILVA

ARTIGO: HABILITAÇÃO DOS PRECONCEITOS E A AUTORIDADE DA TRADIÇÃO

CAMPINAS

2017

JEFFERSON APARECIDO DA SILVA

ARTIGO: HABILITAÇÃO DOS PRECONCEITOS E A AUTORIDADE DA TRADIÇÃO

Artigo apresentado à disciplina Filosofia Hermenêutica do Curso de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, sob orientação do Prof. Dr. Fernando Luis do Nascimento, para obtenção de créditos.

CAMPINAS

2017


Habilitação dos preconceitos e a autoridade da tradição

Hans-Georg Gadamer é considerado um dos maiores hermeneutas do século XX. Foi ele quem instaurou o conceito de hermenêutica filosófica, que é influenciado por muitos dos conhecimentos adquiridos através dos ensinamentos do período em que teve contato bem próximo com a filosofia de Heidegger. Gadamer buscava, com a sua hermenêutica, justificar filosoficamente a verdade que transcende o método científico.

O que este artigo pretende destacar sobre a hermenêutica filosófica de Gadamer é a sua tentativa de habilitação dos conceitos de preconceito, autoridade e tradição, tão importantes no processo da compreensão interpretativa e que é apresentada em sua obra “Verdade e Método”.

Nesta obra, o filósofo apresenta uma nova perspectiva, um tanto quanto benéfica, para o conceito de preconceito, que difere da concepção negativa que a palavra adquiriu ao longo do tempo. Mas esta nova concepção só é possível uma vez que está unida a autoridade derivada das tradições e dos pré-juízos que impostos pela história. Pensamento este que é descartado pelas ciências da natureza, cunhadas pelos ideais do iluminismo e por suas visões libertadoras de toda a sabedoria primeva oferecida pela história.

Mas teria o preconceito alguma utilidade na busca por um conhecimento válido? Antes de aprofundar a reflexão sobre esse conceito presente com grande força no pensamento de Gadamer, julgo necessário compreender a forma com que este conceito é enxergado atualmente em nossa sociedade. Giovanni Reale, ao comentar sobre este pensamento de Gadamer destaca:

A palavra preconceito tem uma ligação etimológica com a palavra prejuízo. “Préjudice, como praejudicium, também significa, assim, simplesmente limitação, desvantagem, dano, prejuízo”. Mas este caráter negativo é apenas uma consequência. É justamente a validade positiva, o valor prejudicial da decisão precedente – como, justamente, de um “precedente” – que fundamenta a consequência negativa” (REALE; ANTISERI, História da filosofia: De Nietzsche à Escola de Frankfurt. 2008, p. 260).

A concepção de preconceito cotidianamente tem se relacionado a uma compreensão que antecede à verificação dos fatos, que se utiliza de características ditas como universais, atribuídas a todos que se enquadram numa categoria descrita. Isso sugere que o preconceito penetra em todos os ambientes de convívio humano, sendo um artefato utilizado na interação e nos instantes em que os indivíduos se deparam com algo que não tem familiaridade: o estranho ou o distinto.

“Gadamer reavalia o conceito de “preconceito”, entendendo como pré-conceitos as ideias que tecem nossa Vor-vertändnis, isto é, nossa pré-compreensão, as quais continuamente subjazem à prova da experiência” (REALE; ANTISERI, História da filosofia: De Nietzsche à Escola de Frankfurt. 2008, p.260).

Gadamer afirma que a forma negativa encontrada sobre o preconceito só aparece no ilumismo, que ele tenta combater. O iluminismo quis alicerçar tudo com base na razão, fazendo dela um mecanismo para alcançar suas convicções, descartado todo e qualquer tipo de conhecimento preestabelecido. Mas os iluministas, no alto de suas convicções, não se atentaram que não se é possível fazer uma busca não se atentaram que não é possível fazer uma busca sem dados prévios, ou melhor, por preconceitos derivados das tradições, conforme afirma Gadamer.

Eu sou impulsionado a buscar algo, uma vez que alguma coisa me impulsionou anteriormente. Para Gadamer esta visão iluminista e positivista das ciências naturais está totalmente equivocada e não ajuda em nada no processo de compreensão. Esta afirmação é também apoiada por seu repúdio às teorias reducionistas do ser humano e do mundo, que estão centradas no objeto e esquecem que ele está no mundo e que é constituído no meio de uma história e formado por tradições. O objeto por muitas vezes é tomado pela ciência positivista como sendo o próprio ser humano, sendo reduzido, em algumas áreas do conhecimento, a um simples objeto, descartando toda a historicidade que está por trás dele e que o constitui. Esta perspectiva de Gadamer é plausível, pois, um indivíduo volta o seu olhar ao passado na esperança de aprender algo com ele. Todos os preconceitos existentes derivam do passado. O ser humano faz parte, a todo o momento, de uma tradição. Logo, a compreensão não se trata de um ato privado, mas atua em um fenômeno de tradição, que é adquirida no passado e no presente.

O ser humano, para Gadamer, é, por sua essência, hermenêutico, ou seja, está a todo momento dentro do ambiente em que se encontra ou vive, interpretando as coisas, a si mesmo e ao mundo. É possível identificar, a partir desta afirmação, a influência heideggeriana em seu pensamento, uma vez que Heidegger afirma que o ser humano está no mundo e é influenciado por determinadas culturas. Estas influências que são chamadas por ele de preconceitos.

Como já foi apresentado, o iluminismo traz o preconceito como um julgamento precipitado sobre a realidade, sobre as coisas e sobre o mundo, como algo prejudicial à razão e que de alguma forma precisa ser descartado. Através de sua hermenêutica Gadamer afirma o contrário: que o preconceito é essencial ao ser humano, adquirindo até mesmo sua forma estrutural. Esse pensamento nasce a partir do conceito de Dasein de Heidegger, “o Ser Aí”, que ao ser introduzido no mundo se depara com uma cultura já existente, que por sua vez, tem como uma de suas finalidades, contribuir para que cada indivíduo constitua seus conceitos, conhecimento de mundo, de si mesmo e das coisas. “Heidegger deriva a estrutura circular da compreensão da temporalidade de Dasein” [VM: 266]. Como o Daisen é um ser hermenêutico, ele não está dado totalmente às coisas. Desta forma, o indivíduo que busca a compreender e interpretar a realidade não pode fugir do círculo hermenêutico. Partindo deste pressuposto se constata a necessidade de investigação, apresentada por Gadamer como uma conversa com a história ou diálogo. Como será exposto mais à frente.

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