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Querela Dos Universais

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Por:   •  8/9/2014  •  1.236 Palavras (5 Páginas)  •  406 Visualizações

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A querela dos Universais

A querela dos universais, no medievo, é alcunha comum que congloba questões de diversos matizes – linguístico, lógico, gnosiológico, ontológico, inda que a consciência desta pluridimensionalidade não apareça com tal clareza àqueles que a enfrentaram.

Em linhas gerais, trata-se de saber se os nomes que designam coletividades ou gêneros indicam realidades existentes ou não.

Em termos atuais, isto equivale a indagar se tais termos ditos universais possuem um significado e\ou referente efetivos, ou seja, se está associado, a cada um deles, um conceito significado e\ou um ente referencial.

Em suma: trata-se de saber se nomes como "manada" ou "animal" designam idéias, entidades abstratas, realidades verdadeiras ou se são simples noções genéricas da linguagem.

A origem do problema, em si mesma, não é medieval. Aristóteles, ao discorrer sobre os sentidos de ser em sua (hoje denominada) Metafísica, identificou o katholou (universal) como um dos significados fundamentais, ao lado de gênero, substância, e verdadeiro.

Aristóteles se posicionou claramente de maneira contrária à afirmação da existência de entidades universais 'ao lado' ou 'para além' dos indivíduos ou entes concretos, como seria o caso das Idéiasde Platão, enquanto paradigmas da realidade ontologicamente plenos e sediados numa espécies de locus especial, o topos ouranos (lugar celeste). O universal (por exemplo, animal ou homem) só ocorre juntamente com o indivíduo que se deixa classificar por ele.

Porém, se a questão não era nova, certamente o foram a sua reproposição a sua ascensão ao cerne dos reflexões, a sua centralidade em face das discussões intelectuais do mundo cristão, a partir de Boécio. Fora este quem inaugurou este longo debate medieval, a partir de sua meditação a respeito da Isagoge de Porfírio, obra que constitui uma espécie de introdução ao estudo doOrganon aristotélico.

Embora o Organon constitua uma coletânea de tratados hoje classificáveis como lógico-linguísticos, ela incorpora certos princípios filosóficos comuns a todo o pensamento aristotélico (ainda que se postule uma evolução diferencial da filosofia de Aristóteles). Um destes elementos basilares é o chamado primado da substância, a qual, na Metafísica (1028a 12-15), assume o papel de significado fundamental do ser, enquanto os demais significados\sentidos a ela se refeririam como sua realidade primordial.

É justamente por esta razão que os universais não possuem, para Aristóteles, independência ontológica em face dos entes sensíveis, das substâncias individuais. Universais, gêneros e a noção de verdade seriam relativos a elas, predicáveis ou atribuíveis a elas.

Mas, qual seria a importância de distinções tais para o pensamento cristão? Ora, Boécio se situa, precisamente, num momento de transição entre o período patrístico, da primeira elaboração teológica da Igreja, e o período Escolástico, segundo momento da História intelectual da Igreja.

Tratava-se, essencialmente, de um período de renovação do pensamento teológico, marcado, sobretudo, por uma reação ao neoplatonismo, complexo conjunto de reinterpretações (pré-cristãs, cristãs e não-cristãs) do pensamento platônico. Este se alicerçava, justamente, na postulação da existência de realidades universais, de natureza inteligível, paralelas (ou transcendentes) às realidades individuais.

Obviamente, a caracterização de tais realidades universais variava enormemente. Entre os cristãos, por exemplo, havia a tendência de identificar Deus com a Idéia platônica do Bem, diferindo os pensadores quanto a admissão de outras Idéias como arquétipos da Criação (Gregório de Nissa), ou pela negação da existência de outra realidade universal que não fosse o Ser Supremo.

Esta segunda tese, aliás, é crucial para o entendimento da querela; afinal, além de universais, as Idéias, se existissem, seriam eternas, imutáveis e incorrptíveis, uma vez que se distinguiriam dos entes sensíveis, sujeitos à geração e à corrupção, de modo que, para além dos diversos cavalos concretos, haveria uma Idéia eterna do cavalo (ou da "cavalidade"), e assim por diante.

Por tudo isto, a tentativa de refundamentação da teologia católica, e de sua filosofia respectiva, a partir do panorama descortinado pelo aristotelismo, mostrava-se bastante promissora. Aristóteles não só negava que os inteligíveis possuíssem realidade independente e efetiva (em ato, na sua terminologia). Para ele, os universais constituiriam "propriedades essenciais" dos entes (a animalidade do homem), e as designou com a expressão kat' auto, que indica aquilo que uma coisa é "por si mesma", ou seja, essencialmente (como a 'quadrangularidade' do quadrado).

Isto posto, a essencialidade dos universais os distinguiria de outras propriedades, ditas acidentais ou "por participação" (kata symbebekos), que estão na coisa sem perfazerem a sua esseência (a albinidade de alguns homens), propriedades contingentes, que poderiam não estar ali sem descaracterizar aquele ente.

O pensamento medieval, pré-escolástico e escolástico, classificará estas duas abordagens – a platônica e a aristotélica,

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