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A NOVA DESORDEM MUNDIAL

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Por:   •  31/7/2014  •  1.240 Palavras (5 Páginas)  •  390 Visualizações

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A NOVA DESORDEM MUNDIAL

O grande desafio para as lideranças políticas do século XXI é como lidar com a questão do renascimento do nacionalismo. Ao contrário do que algumas cabeças pensantes apressadamente imaginaram a globalização da economia, a internacionalização das instituições políticas e a difusão de uma cultura universal pelas diferentes mídias não eliminaram a realidade do Estado-nação, muito menos a da diversidade cultural. Pior: no final deste século, o separatismo espraiou-se como um rastilho de pólvora, trazendo à tona questões que até a guerra fria pareciam adormecidas, como, por exemplo, a identidade, o direito de um grupo e o direito de um indivíduo, contrapostos entre si. Se o fantasma da destruição nuclear foi amenizado, emergiram as múltiplas guerras civis, expressões de velhas rixas étnicas e religiosas.

A consequência aterrorizadora da febre nacionalista foram os genocídios justamente na era em que a humanidade parecia dar mais importância à consolidação dos direitos do homem. Em Ruanda, nada menos do que um milhão depessoas, a maioria da etnia tutsi, foram massacradas, num banho de sangue que mereceu pouca atenção da mídia. Algumas dessas explosões de ódios étnicos desencadearam a destruição dos Estados nacionais e estremeceram conceitos que pareciam já estar estabelecidos, como a ideia de fronteira, explica o sociólogo catalão Manuel Castells. A Indonésia, por exemplo, por muitos anos tidos e havidos como um Estado unitário está à beira de um esfacelamento. Não apenas o Timor Leste, ocupado manu militari pelos indonésios em 1975, mas também regiões inteiras, como a província de Aceh. Já a Bósnia-Herzegovina, palco de um pavoroso processo de “faxina étnica”, era um Estado completamente artificial, criado no regime comunista, cujas divisões étnicas e culturais remontam à Antiguidade.

O nacionalismo, que nas suas origens tinha por objetivo consolidar a identidade de um Estado-nação, transformou-se muitas vezes neste século em instrumento de manipulação de líderes políticos interessados em reforçar seu poder. Onde há desmoronamentos de regimes e onde há relações sociais instáveis, ou seja, onde a sociedade se sente insegura, ter uma língua e uma cultura em comum são razões para acreditar que o nacionalismo é a saída. E é exatamente aí que mora o perigo: a exclusão de minorias ameaçadas pelo poder dessas maiorias étnicas, uma variante da famosa “tirania da maioria” de que falava Alexis de Tocqueville.

O sérvio SlobodanMilosevic é exemplo claro de como um líder demagógico conseguiu catalisar os anseios e descontentamentos de um povo em um movimento nacionalista em benefício próprio. No caso da guerra da Bósnia-Herzegovina, sérvios cristão-ortodoxos, croatas católicos e bósnios muçulmanos estavam amarrados durante décadas pela camisa de força de uma ditadura. O historiador britânico Erich Hobsbawn alerta para o fato de que não foram apenas as velhas disputas étnicas que desencadearam os separatismos balcânicos e do Cáucaso. “O que acirrou estes problemas não foi a força do sentimento nacional e sim a desintegração do poder central.”

A propalada nova ordem mundial, então, poderia ser considerada como a “nova desordem mundial”, com embates violentos e cicatrizes nas sociedades que poderão levar décadas para serem curadas. O mundo comporta hoje cerca de 40 conflitos que acontecem desde nossa vizinha Colômbia, passando pelos bolsões de miséria na África e entrando na alma do coração da Europa. E as correntes migratórias acabam deflagrando conflitos depois de algumas décadas. Ainda não sabemos, por exemplo, qual será o destino de um milhão de judeus russos que aportaram nos últimos anos no Estado de Israel, que abriga seis milhões de pessoas.

E como fica então o conceito de minoria? No caso dos albaneses, eles são a maioria perseguida dentro do Kosovo. Porém, eles já possuem o seu próprio Estado. Hoje, o planeta abriga cincomil povos e apenas 217 Estados-nações. E podemos até assistir ao surgimento de novos Estados, como o Timor Leste e a Escócia, mas as Nações Unidas não estão interessadas em aprovar uma série de outras formações num processo global em que acontecem outros tipos de reagrupamentos.

Sem dúvida nenhuma, o desmantelamento da União Soviética e da Iugoslávia veio como efeito dominó para várias nações. Os curdos na Turquia, os ogoni na Nigéria, os tutsis em Ruanda são alinhavados por um objetivo em comum: a autodeterminação nacional. Sem esquecer os palestinos em Israel. Essa autodeterminação tende a crescer na medida em que aumenta a interdependência econômica, a formação dos blocos econômicos – como a União Europeia e o MERCOSUL – e as uniões políticas que se integram no mundo globalizado. Isso porque se acredita que nacionalidades que conseguem constituir-se em Estados têm mais chances de participar do sistema global.

Nesta configuração mundial desordenada, figuram ainda as sequelas da colonização nos países africanos, que desde o processo de independência dos anos 50 e 60 vêm desembocando em conflitos sangrentos.

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