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A Missionação Jesuíta Em Moçambique: As Relações Com A Sociedade E Com O Poder Político Em Tete, 1941-2011

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Por:   •  8/4/2014  •  9.880 Palavras (40 Páginas)  •  413 Visualizações

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CAPÍTULO I

1.1. Síntese da História Geral da Companhia de Jesus

Nestas circunstâncias, a serpente abordou-o e murmurou-lhe suavemente um par de palavras ao ouvido. O Diabo não perdeu nem uma sílaba dos pensamentos imorais dela. Levantou-se de um pulo, o seu peito inchado aliviou-se e os olhos voltaram a brilhar-lhe de prazer e luxúria. Nove meses depois, uma mulher deu à luz um jovem cujo nome era Dom Iñigo de Loyola.

Theodor Griesinger

Neste primeiro capítulo, serão desenvolvidos os temas que vão desde a fundação da Companhia de Jesus, passando pela sua ascensão e expansão pelo mundo, com maior enfoque para Portugal. Faz-se referência ao Oriente e ao Brasil cuja história esteve intimamente ligada à Expansão Portuguesa e sua presença em Moçambique.

Evangelização é termo «específico para exprimir a transmissão da fé cristã em ambientes descrentes ». De acordo com autor os termos Cristianização e Missionação vieram como resultado da vergonha que a Igreja Católica sentia em pronunciar um termo que tinha dado origem aos «evangélicos». Resulta que os católicos da época reformista preferiram «missionar» a «evangelizar». Missionação voltou a significar mandato apostólico dado por Jesus aos seus discípulos quando os ordenou a irem ao mundo inteiro.

O termo evangelização é recente, e assinala a nova era do mundo a partir das Descobertas portuguesas nos séculos XV-XVI. No caso português o termo passou a ser sinónimo de aportuguesação. Visava fazer a conversão das mentalidades dos enviados a fim de passarem da ideia de luta para a de persuasão no respeito da pessoa humana. É através da missionação que a Igreja se manifesta ecumenicamente porque Cristo veio ao Mundo com uma Missão.

A Missão envolve conceitos de mudança de local, dinamismo, mandato para dilatação da fé. Ao longo da História, evangelização e missionação tornaram-se como sinónimos, porque o missionário não tem como destino apenas aos infiéis e pagãos. Mas houve outros interesses que a sustentaram, como solidificação das relações comerciais entre a Europa Cristã e outras partes e garantia de locais de fornecimento de matérias-primas imprescindíveis para a indústria em desenvolvimento na Europa.

Por isso, o estabelecimento de relações amistosas com as populações que habitavam já não apenas as zonas marítimas, mas o interior, e fortalecer os elos com todos os nativos. Para Pinto «É óbvio que só pode ser considerada como Missionação a tentativa de evangelização em liberdade e a conversão, in loco, de homens e mulheres na sua própria terra, integrados no seu próprio meio e não de pobre gente, comprada e vendida.

Damo-nos conta desta realidade porque sempre que colocavam um sacerdote num sítio instalava-se uma fortaleza, que servia de sede administrativa, uma feitoria comercial, um fortim militar e uma igreja de culto e alguns missionários, sobretudo franciscanos e dominicanos, que acompanhavam as caravelas iam a título pessoal. Parece mesmo que havia mais preocupação em arranjar benefícios que dilatar a fé. Nos usos e costumes como estratégias de fixação, para os jesuítas, a aprendizagem da língua enquanto veículo privilegiado de contacto entre europeus e os povos com quem se encontravam constituiu uma estratégia importante. Era mais proveitosa a sua aprendizagem que o esforço que era empreendido pelas autoridades civis para impor o português. Mesmo no quarto período o superior recomenda divulgação da obra apostólica através das línguas. Assim, a missionação implicava aprática de uma aprendizagem por meio de intérpretes locais. A fundamental contribuição dos Jesuítas ao desenvolvimento verifica-se no ensino.

Graças à eles, a educação musical nas escolas é uma realidade em quase todos os países do mundo. Defendem um ensino baseado em métodos intuitivos que, colocando os alunos em contato com a realidade e ele como centro da aprendizagem. O ensino podia ser dado em simultaneo com a catequese do gentio, pelo que a sua acção sempre foi confundida com a colonização. As suas normas metodológicas referentes à aula são rigorosas, desde as questões e respectiva Ordem, e no próprio ritmo de ensino e de aprendizagem com metodologia alicerçada na tradição didática centrada no aluno. O ensino da Gramática e os actos de Examinações, ditado e escrita foram dos métodos mais usados.

Os conhecimentos que possuímos sobre a evangelização pré-jesuítica em Moçambique são obra dos cronistas régios, de missionários entusiasmados e cronistas das diferentes congregações religiosas, os quais, distanciados no tempo, tudo vêm pela lupa de engrandecimento que a causa da pátria, a fé cristã e o amor à congregação lhes despertavam, tornando os seus escritos demasiado apologistas e nacionalistas. Por essa razão, neste trabalho, cada aspecto mereceu uma atenção especial pois, diz-nos Dias:

O historiador profissional e honesto não pode esquecer os aspectos negativos dum projecto honroso que não foi totalmente cumprido, não pode ignorar os exageros da exploração e cupidez comercial, nem deve ocultar as manchas da prepotência cruel de muitos administrativos e tão pouco alijar a responsabilidade da escravatura, que até Zurara, de forma realista e dramática, descreve, por mais que o tráfego dos escravos não fosse uma descoberta portuguesa .

Em face da documentação existente, mesmo com os estudos mais recentes notamos com preocupação que a continuidade nos estudos académicos é um elemento cuja análise tem sido descurada no estudo da construção da nação moçambicana, ou o mais frequentemente omitido, e isto de modo sistemático. Tais estudos, face às mutações político-sociais havidas são, em geral, divididos em duas partes: colonial e pós-colonial.

Embora reconhecendo a lógica que influência nas decisões dos pesquisadores, particularmente dos partidários da revolução, que têm-se debruçado em particular sobre a incidência dos factores políticos no processo da construção da Identidade Moçambicana, pondo de lado os religiosos, pensamos que o processo da construção nacional engloba elementos coloniais que coexistem com os pós-coloniais. A nossa decisão prende-se ao facto de a independência nacional para os Jesuítas, diferentemente do passado, não os ter forçado a abandonar o território.

Passados setenta anos de trabalhos e estudos com/sobre as populações sob sua jurisdição eclesiástica, os Jesuítas confrontam-se com problemas cada vez mais novos que se juntam aos já existentes, cujas respostas ainda não foram cabalmente dadas. Com efeito, foram muito numerosos os problemas que eles levantaram e com

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