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A REVOLTA DA CHIBATA

Por:   •  17/6/2019  •  Ensaio  •  2.368 Palavras (10 Páginas)  •  145 Visualizações

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A REVOLTA DA CHIBATA

Bruno Olivério Bressiani

Resumo:  O presente artigo busca ilustrar de uma maneira geral os acontecimentos da Revolta da Chibata, revolta esta iniciada no dia 22 de novembro de 1910. Buscaremos ao longo deste enfatizar os antecedentes, a revolta, o seu desfecho, seu legado para a história brasileira e suas conquistas sociais para a época até então desconhecidas no Brasil. Veremos os aspectos de um conflito entre uma mentalidade “aristocrata” de oficiais e do governo brasileiro contra marinheiros em sua grande maioria vistos a margem da sociedade no qual se rebelaram contra as violações humanas que vinham sofrendo a bordo da esquadra brasileira.

Palavras-Chaves: Revolta; Marinha; Agressão; João Candido, Anistia;

1 Introdução

        A Revolta da Chibata foi um conflito entre membros da marinha brasileira e o Governo Federal ocorrido em novembro de 1910. Os revoltosos reivindicavam principalmente o fim dos castigos físicos empregados pelos oficiais e uma melhor condições de vida a bordo dos navios brasileiros. Neste artigo buscaremos fazer um apanhado geral das causas, da revolta em si e o desfecho tanto da revolta quanto dos revoltosos. Para tal se utilizaremos de autores com abordagens históricas distintas dos fatos ocorridos na esquadra brasileira durante a revolta da maruja de 1910.

Ao longo do presente artigo buscaremos também trazer indícios de que os lideres tal como João Cândido não tiveram envolvimento com o levante no Cruzador-ligeiro Rio Grande do Sul e no Batalhão Naval de Ilha das Cobras ocorridos em dezembro de 1910 no qual justificou as perseguições que já haviam sendo impostas aos marinheiros revoltosos de 22 de novembro. Buscaremos enfatizar o que mudou no tratamento dado aos marujos brasileiros pelos oficiais e governo da época após a revolta, pontuando algumas melhorias significativas da condição de vida na Marinha Brasileira.

2 Principais causas da Revolta da Chibata

         Sabe-se que a grande leva dos membros subalternos da marinha brasileira durante a Primeira República eram indivíduos pobres e em sua maioria afrodescendentes que muitas vezes eram recrutados através do emprego da força por parte dos órgãos do governo responsáveis por tais medidas. Segundo BUENO (1997) “Contrastando com a aristocracia dos oficiais, o recrutamento dos marinheiros era forçado e feito entre indivíduos de má conduta que deveriam ser corrigidos”. Somado a isso os castigos físicos eram largamente empregados por parte destes oficiais contra os marujos por transgressões na grande maioria das vezes pífias e a punição acabava sendo desproporcional a conduta errônea.

        Cabe ressaltar o fato de que com a Proclamação da República  em novembro de 1889 via decreto foi expressamente banido o açoitamento, porém apenas um ano depois por pressão dos oficiais das forças armadas Rui Barbosa restabelece também via decreto as penas disciplinares, eram entre elas ainda segundo BUENO (1997, p. 194) o “bolo” uma espécie de palmatória, as prisões a ferro, a solitária com uma alimentação reduzida a pão e água. Porém pode-se ainda destacar além dos castigos físicos empregados contra os marinheiros o baixo soldo, a má alimentação a bordo e algumas privações de ordem pessoal como nos mostra SOUZA (2012, p. 16-17) “Não bastassem as intempéries e a total falta de conforto a bordo dos navios, os marinheiros padeciam ainda devido à privação familiar, à proibição de estudar e de contrair matrimônio e aos preconceitos sociais variados”.

Ao serem mandados para a Grã-Bretanha nos anos de 1908 e 1909 para acompanhar a construção de navios encomendados pela Marinha Brasileira naquele país, vários marinheiros tiveram conhecimento de um levante da Marinha Russa ocorrido em 1905, onde os marujos reivindicaram melhores condições de vida a bordo dos navios, levante esse ocorrido no encouraçado Potemkin. Isso acaba consequentemente atiçando ainda mais a chama da busca por melhorias a bordo dos navios brasileiros por parte da maruja.

        Em 15 de novembro de 1910 toma posse o então presidente eleito Hermes da Fonseca que irá governar até novembro de 1914. Um dia após a posse do novo presidente mais precisamente na madrugada de 16 de novembro acorrera o que para muitos historiadores seria o estopim da Revolta da Chibata, neste dia ocorre o açoitamento do marinheiro Marcelino Rodrigues Menezes no encouraçado Minas Gerais, o então comandante do mesmo João Batista das Neves convocou a tripulação para assistir o flagelo imposto por ele mesmo no qual desferiu contra o marinheiro Menezes 250 chibatadas.

Vale ressaltar que a convocação da tripulação dos navios para assistir à punição de seus companheiros era algo tão comum para a época quanto os castigos físicos em si, visava-se com isso desencorajar os demais a cometerem atos tidos como indisciplinares e demonstrar a inferioridade dos marujos como nos descreve MAESTRI (2014, p. 97):

“Na marinha de guerra, a tortura física, como punição restrita aos subalternos, estava revestida de um verdadeiro cerimonial. Ela procurava lembrar a excelência dos oficiais que não podiam sofrer tais castigos e a inferioridade dos marinheiros”.

No caso do marujo Rodrigues Menezes tais atos indisciplinares consistiram segundo SOUZA (2012, p. 19) em agredir um cabo com uma navalha porque mesmo tê-lo-ia denunciado pela tentativa de adentrar o navio portando duas garrafas de cachaça.

3 A Revolta

        Após o infame episódio do açoite do marinheiro Menezes, os marinheiros que a alguns meses já vinham conspirando sobre a hipótese de empregar a força para que suas reinvindicações fossem atendidas resolvem se amotinarem no dia 22 de novembro após o toque de recolher sob o comando do marinheiro João Cândido, um negro nascido no Rio Grande do Sul que ingressara na marinha em 1895. O comandante do encouraçado Minas Gerais João Batista das Neves acabou sendo morto durante os combates que se deram no convés do navio, também tombaram nesta luta outros oficiais e alguns marinheiros. O historiador Mario Maestri transcreve um dos relatos de João Candido sobre o acontecimento daquela noite:

Às 22 horas de 22 de novembro, explodia a insurreição a bordo do Dreadnought Minas Gerais. João Cândido relatou, com poucas palavras, a perfeita disciplina em que ela se desenvolveu, sinal do reconhecimento geral na direção do movimento: “Cada um assumiu o seu posto e os oficiais a muito já estavam em seus camarotes. Não houve afobação. Cada canhão ficou guarnecido por cinco marujos com ordem de atirar para matar contra todo aquele que tentasse impedir o levante. “Às 22h30, quando cessou a luta no convés, mandei disparar um tiro de canhão, sinal combinado para chamar à fala os navios comprometidos.” (2014, p. 99)

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