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A REVOLUÇÃO RUSSA À LUZ DO POETA REVOLUCIONÁRIO VLADIMIR MAIAKÓVSKI

Por:   •  24/6/2016  •  Trabalho acadêmico  •  3.630 Palavras (15 Páginas)  •  373 Visualizações

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A REVOLUÇÃO RUSSA À LUZ DO POETA REVOLUCIONÁRIO VLADIMIR MAIAKÓVSKI

Maycol Mundoca

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Prof. Dr. Rodrigo De Freitas Costa

RESUMO

Esse artigo analisa e comenta as obras Mistério Bufo e O Percevejo, ambas de Vladimir Maiakóvski, sob o ponto de vista histórico. O presente trabalho tem como objetivo a análise da historicidade presente nas peças teatrais já citadas, que estão inseridas em um contexto político, histórico e social da Rússia revolucionária. Mistério Bufo é escrita e montada em 1918 para comemorar o primeiro aniversário da Revolução de Outubro. Nela encontra-se uma narrativa alegórica onde há uma forte crítica social. Já 1928, Maiakóvski escreve a peça teatral O Percevejo, considerada o ápice de sua produção, no qual o autor evidencia a sua preocupação com o caminho traçado pelo socialismo soviético, expressa também de forma satírica como em Mistério Bufo. Ambas as peças usaram do teatro e das expressões artísticas como meios para a difusão do socialismo.

Palavras-chave: socialismo, historicidade, revolução russa, teatro

INTRODUÇÃO

       A Revolução Russa, objeto de estudo desse trabalho, que culminou em 1917 com a ascensão dos bolcheviques ao poder é um dos principais eventos do século XX e foi, até há bem pouco tempo, um dos principais condicionantes da ordem política mundial. Seu principal significado está no fato de ter sido a primeira revolução a colocar no poder um regime comunista, baseados na ideia do socialismo científico de Marx e Engels.

       Uma vasta historiografia acerca do processo revolucionário russo já foi e continua sendo produzida. Muitos são os autores que se dedicaram a analisar a revolução russa, e a análise que a maioria deles fez foi, principalmente, no âmbito político, ressaltando a ação política de partidos e se esquecendo, por vezes, da participação de diversos setores e agentes da sociedade, como os camponeses, trabalhadores urbanos, intelectuais e artistas que ajudaram na derrubada de uma autocracia que há tempos explorava e oprimia os trabalhadores. Essas mesmas pessoas não só ajudaram na derrubada de poder vigente na Rússia do século XIX, como participaram, ativamente, no processo de estabelecimento do socialismo, em outubro do mesmo ano. Procuramos abordar o tema a partir de uma bibliografia que observa não apenas sob o ponto de vista político, mas que faz mediações com o contexto social e cultural da época. A análise das obras O Percevejo e Mistério Bufo, de Vladimir Maikóvski, figuram, nesse trabalho, o resgate dos aspectos sociais como contribuição no processo revolucionário e de implantação do socialismo.

        Maiakóvski em suas peças teatrais faz uma leitura do seu tempo, empreendendo forte crítica ao capitalismo e a burguesia, utilizando de sátiras e comédia. Maiakóvski defende o socialismo em suas obras, além de, pertencendo ao movimento futurista, propor uma revolução no campo artístico, na intenção de romper com os moldes de literatura e teatro que só serviam à burguesia e distanciavam-se dos trabalhadores. Jean- Michel Palmier o define:

       É repleto de amor e de ódio, de orgulho e de timidez, que Maiakóvski vai encontrar a Revolução de Outubro e reconhecer-se nela. A sua sensibilidade, que estava longe de vergar-se a todas as exigências do futurismo, não podia deixar de derrubar todas as regras estéticas. O ‘eterno ferido de amor’ que cantava a paixão, a tristeza, o orgulho, o ciúme, que se erguia sozinho contra todo o universo, vai tornar-se porta-voz dos pobres, dos operários, dos famintos, a quem dá as suas palavras.

MISTÉRIO BUFO E A CELEBRAÇÃO DO PROCESSO REVOLUCIONÁRIO

        Vladimir Maiakovski, defensor ferrenho do socialismo e da Revolução Russa, escreve Mistério Bufo, em 1918, para a celebração do aniversário da Revolução de Outubro. Ainda encantado com o ideal socialista e com os acontecimentos que culminaram na derrubada da autocracia ele escreve e apresenta sua peça tecendo vastas críticas ao capitalismo, à burguesia e a exploração do homem pelo homem.

       A peça Mistério Bufo é composta por seis atos, tendo seis cenários diferentes, entre eles a Arca, o Inferno, o Paraíso e a Terra Prometida. A peça conta com dezenas de personagens dos quais temos sete pares de “puros”, representando a burguesia; sete pares de “impuros”, representando o proletariado; um conciliador, uma dama, intelectuais, diabos, santos e outros personagens que figuram a peça teatral.

       A peça alegoricamente vai traçando o caminho que a Rússia percorreu até a Revolução de Outubro, usando de elementos simbólicos e satíricos que requerem uma interpretação atenta. Logo no início, os personagens se reúnem no polo boreal da Terra, usando como cenário todo o planeta. Ao perceber a chegada de um dilúvio, decidem embarcar numa Arca e navegar. No entanto, os puros decidem, sob a voz do Francês, que os impuros não embarcarão com eles na Arca:

Francês (puro)

(que ocupou o lugar do mercador examina com raiva o ferreiro que tinha

levantado a mão)

E você também se mete?

Não se orgulhe em vão!

Senhores,

os impuros não vamos levar!

Pra eles aprenderem a não nos xingar.

Carpinteiro (impuro)

E você sabe serrar e aplainar?

Francês (puro)

(desanimado)

Eu mudei de ideia.

Os impuros são bem vindos

       Neste diálogo - onde os impuros representam os trabalhadores e os puros representam a burguesia -, o francês logo muda de ideia sobre quem embarcaria pois percebe que nenhum dos puros saberia construir a arca, cabendo esse trabalho aos impuros. Assim termina o primeiro ato, com o acordo de que todos embarcariam. Dessa forma, dá-se início ao segundo ato, já todos na barca com destino a Terra Prometida.

       Durante a viagem, os impuros que sabem caçar e pescar conseguem obter alimentos para se manter, diferente dos puros que não sabem manusear instrumentos de pesca e caça. Ao perceberem isso, os puros planejam algo que possa dar a eles o domínio sobre os alimentos que eram obtidos pelos impuros. Com a ajuda do padre, os puros elegem o personagem Negus como rei soberano, cabendo a ele a distribuição dos alimentos. No entanto, Negus acaba por comer toda a comida da embarcação, levando a revolta dos puros, que o atiram em alto mar. É interessante perceber que nessas passagens o plano dos puros de eleger um rei soberano seria satiricamente a representação da apropriação do poder pela burguesia e a instauração de uma Monarquia que mantivesse os seus privilégios, assim como se deu na Rússia pré-revolucionária com Nicolau Czar II.

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