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A Sociedade de Corte

Por:   •  24/4/2021  •  Resenha  •  1.367 Palavras (6 Páginas)  •  350 Visualizações

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ELIAS, N. A Sociedade de Corte. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.pag 97-131 e 160-218

*Camila Medeiros Pravato

No Capítulo V, “Etiqueta e cerimonial: comportamento e mentalidade dos homens como funções da estrutura de poder de sua sociedade”, Nobert Elias fala sobre o comportamento da aristocracia de corte no Antigo Regime. Ele compara as relações sociais do “monde” do século XVII com o do século XVIII, sendo o primeiro, segundo ele, mais flexível que o segundo. No reinado de Luís XIV, século XVIII, a vida social se concentrava na corte. Já no reinado de Luís XV, os centros de gravidade passam a serem os hôtels, o que, no entanto, não diminuía a importância da corte. Neste momento, a corte passou a dividir sua importância social e fonte de cultura com os círculos aristocráticos.

Para exemplificar a estrutura e elaboração a vida social na corte, o autor relata de forma minuciosa a organização das visitas ao rei, e o momento em que cada segmento estava autorizado a adentrar no dormitório real. Esta cerimônia é o despertar do rei:

De manhã, geralmente às 8 horas, e em todo caso no horário por ele determinado, o rei é acordado pelo primeiro criado de quarto, que dormia aos pés de sua cama. As portas são abertas para os pajens. Nesse momento, um deles acaba de dar a notícia ao “grand chambellan” e ao primeiro fidalgo de quarto, um segundo dirigiu-se à cozinha da corte para providenciar o café da manhã e um terceiro ocupa seu posto diante da porta, deixando entrar apenas os senhores que têm o privilégio do acesso. (ELIAS, 2001, p.101)

Segundo Elias, havia uma hierarquia para acompanhar o ritual. Apenas 6 grupos possuíam esse privilégio de assistir o rei acordando. O primeiro grupo era a família, filhos legítimos, netos, primeiro médico, primeiro cirurgião, primeiro criado de quarto e primeiro pajem. O segundo eram os grands officers de la chambre et la garderobe, e os senhores da nobreza. Depois, era a vez dos leitores do rei. O quarto grupo eram os officier de la chambre, grand-aumônier, ministros, secretários, entre outros. O quinto eram senhores e senhoras da nobreza, no entanto, dependia da vontade do fidalgo e aprovação do rei. Por fim, o mais disputado, permitido aos filhos, inclusive ilegítimos, suas famílias, genro. Era o mais privilegiado, uma vez que tinham permissão de entrar a qualquer hora, podendo permanecer no quarto enquanto o rei ali estivesse.

O autor detalha como eram realizadas essas visitas, feitas com extrema organização. Deste modo, a etiqueta para Elias, não existe por acaso, trata-se de uma função simbólica muito importante. Renunciar a etiqueta era renunciar também aos privilégios e oportunidades de poder.

Elias coloca o cerimonial de corte como sendo um “peso” para os participantes, mas que, no entanto, ninguém que compusesse a configuração cortesã tinha possibilidade de questionar a tradição, uma vez que poderia resultar numa diminuição de privilégios. O cerimonial de corte, assim como a etiqueta era a garantia de status da nobreza enquanto classe social distinta.

Havia, segundo Elias, uma competição por status.  Uma vez que a hierarquia dos privilégios foi criada a partir dos parâmetros da etiqueta, esta passou a ser mantida apenas pela competição dos indivíduos envolvidos, e os nobres não abriam mãos de seus privilégios perante as categorias inferiores. Aquele que tinha ascensão social ganhava mais respeito perante os outros. A opinião social, naquela época, tinha uma importância e funções bem diferentes das que desempenham numa sociedade burguesa mais ampla. O objetivo era existir através da aura do prestígio

Para Elias, era através da etiqueta que se dava a manutenção do domínio e prestigio real. Era esse o motivo que fazia com que o rei mantivesse a nobreza como categoria distinta e segregada. Era o instrumento de domínio do rei, a expressão mais patente de poder.  

No capítulo VII, “A formação e a transformação da sociedade de corte francesa como funções de deslocamentos sociais de poder”, Elias discute as formas de dominação absolutistas e comportamento social na transição do século XVII para o século XVIII. Tanto no absolutismo francês quanto no prussiano, as estruturas de dominação haviam sido antecedidas por lutas entre a realeza e a nobreza feudal, que tiveram como resultado perdas de autonomia política. O poder ilimitado era a expressão e a consequência disso.

Nessa sociedade, o parlamento assume um papel importante, ganhando espaço para consolidação. A constante competição entre os membros da corte em busca de prestígio e status tornava os indivíduos menos pacíficos. Desta forma, Elias coloca que “toda forma de dominação é resultado de uma luta social, é a consolidação da forma de distribuir poder que resulta dessa luta”. Para ele, a sociedade cortesã é uma configuração com equilíbrio multipolar de tensões. Enquanto centro de sociabilidade do rei e da nobreza, a corte expressa uma tensão particular entre aqueles que disputam o título de nobreza e aqueles que devem ao rei sua garantia social e a possibilidade de sua ascensão. É através desta tensão, segundo Elias, que o rei governa e assegura o exercício de seu poder. O autor afirma que ao se observar a corte, é possível perceber essa competição entre grupos elitistas, com foco no rei, cuja “estrutura ocupa um lugar central no equilíbrio hábil de tensões entre grupos da nobreza e espada”.

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