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História E Emprego Profissional Da Mulher Policial-militar

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Por:   •  23/5/2014  •  2.261 Palavras (10 Páginas)  •  556 Visualizações

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História e emprego profissional da mulher policial-militar

Qualquer novidade torna-se uma estrutura ambígua: por vezes desejada, querida, exigida, por outras repelidas, temida, odiada. A novidade é um paradoxo interessante também por, ainda que viva esta ambigüidade, tornar-se necessária a própria evolução. À cultura, a novidade surge como temor, pois ela tende a desequilibrá-la; a retirar a suposta paz existente naquele meio social, naquela forma de atuar frente ao mundo. Assim podemos iniciar um estudo sobre o ingresso da mulher na Polícia Militar da Bahia (PMBA), ao saber que após 165 anos de convívio exclusivamente masculino, a Corporação recebe a determinação do Governo do Estado de inserir em seu quadro mulheres para atuar como policiais militares, a penúltima Polícia Militar do país a abrir suas portas a este segmento. O jornalista Gastão Faria, citado no texto de Moreira (1998), quando escreveu sobre o ingresso das mulheres nas corporações militares, indicou que Vá que a mulher triunfe em matéria de direitos políticos, vá que ela chegue a ser deputado, senador, cabo eleitoral. Nunca cabo das fileiras marciais (…). O sexo forte não suportaria tamanha afronta aos seus brios… Não. (…) não” (…) No dia em que ela, como soldado, formar ao lado do homem, nesse dia então o mundo não terá mais poesia. Tudo desmoronará: ambição, sonho de glória, vertigem das alturas, tudo desabará ao choque violento do desânimo. O homem não será mais o homem. (GASTÃO FARIA APUD MOREIRA, 1998). Ainda que escrito no início do século passado, o Jornalista recria uma situação atual. O ingresso feminino na PMBA se dá por uma imposição externa, não por um estudo ou desejo da Corporação, os homens que ali estavam iniciam um processo de planejamento deste ingresso, e, talvez, neste momento iniciam-se também nossos maiores problemas. São os homens com suas impressões culturais e seu adestramento militar, voltado a uma experiência sem mulheres em seus quadros, que vão decidir e planejar a “vida” da mulher PM. É possível que isto tenha auxiliado no processo de identificação da mulher na corporação. É possível que ao atrelar a suas perspectivas de desempenho às representações que culturalmente entendem como femininas, tenham prejudicado a mulher na PMBA a encontrar “seu lugar”. ORA ÉRAMOS/SOMOS TRATADAS COMO BIBELÔS OU AS “MENINAS” DO QUARTEL; ORA COMO AS INCAPAZES PROFISSIONALMENTE PARA O SERVIÇO OPERACIONAL Para Campos e Roquete (2003), representações sociais atuam como um sistema que interpreta as relações dos indivíduos com seu meio social, um guia dos comportamentos e das práticas sociais, em paralelo com a realidade da sociedade em que esta está inserida, atua também como uma função justificadora, ou seja, a representação social tem por função preservar e justificar a diferencia social, e ela pode estereotipar as relações entre os grupos, contribuindo para a discriminação ou para a manutenção da distância social entre eles. Assim, invariavelmente, uma Corporação policial militar que se compõe de pessoas que tem origem e destino na sociedade será formada e construída através das marcas culturais que permeiam aquele coletivo. Considerando que as representações sociais Tendem a vir atreladas a um processo discriminatório, nesse caso, a discriminação de gênero, esta pesquisa tem o interesse de estudar a formação desta representação na PMBA nos 21 (vinte e um) anos das mulheres em suas fileiras, e as discriminações de gênero decorrentes desta trajetória, inclusive, e em especial, àquelas que este segmento vivencia de forma perceptível ou não. Como componente das primeiras turmas de Sargento e Oficial da PMBA sempre me inquietou a forma como éramos/somos tratadas. Ora como bibelôs ou as “meninas” do quartel; ora como as incapazes profissionalmente para o serviço operacional, logo precisávamos ser protegidas por todos os colegas em qualquer situação. E, talvez a minha maior inquietude seja de saber que muitas de nós absorvem esse lugar (frágil) e passam a acreditar-se como tal. Como ponto de partida uma experiência singular por sua sutileza: como dito, o processo de planejamento do ingresso feminino na corporação, já que obviamente não havia mulheres em seu quadro, foi feito por homens. O uniforme, os códigos de conduta, a estrutura física de abrigo da Unidade e a atividade fim foram idealizadas e revistas por oficiais masculinos. A escolha do código fonético para identificação das comunicações via rádio para a Companhia de Polícia Militar Feminina (Cia P Fem.) também foi assim. O código “Atena” foi escolhido com o argumento de tratar-se da deusa grega da sabedoria, do ofício, da inteligência e da guerra justa, logo uma imagem forte, guerreira e audaciosa que em muito se assemelhava a proposta midiática da inserção feminina nesta carreira. A companhia tornou-se a Base Atena, as policiais, conhecidas em meio aos demais, de forma coincidente ou não, como mulheres da base de Atena, as “Mulheres de Atenas”. Atenas é uma cidade grega conhecida na história por ter em seus habitantes homens fortes e guerreiros, um dos mais importantes exércitos da Grécia antiga e pela negação de suas mulheres. As mulheres gregas em geral eram despossuídas de direitos políticos ou jurídicos e encontravam-se inteiramente submetidas socialmente (Gomez, 2000). A ateniense casada vivia a maior parte do tempo confinada às paredes de sua casa, detendo no máximo o papel de organizadora das funções domésticas, estando de fato submissa a um regime de quase reclusão. Chico Buarque de Holanda e Augusto Boa, na música “Mulheres de Atenas” (1976) poetizam que estas mulheres “elas não tem gosto ou vontade, nem defeito, nem qualidade, tem medo apenas”. Considerando a possibilidade de coincidência, também se torna possível não ignorá-la: ao atrelar àquelas profissionais um simples código fonético é possível que tenha potencializado uma idéia (representação social) contida no pensamento e opinião daqueles homens que as formaram. A fragilidade, sensibilidade, resignação feminina, representada socialmente através da escrita masculina da história do mundo, constituíram-se em estratégias usadas em corporações militares possivelmente como uma ferramenta de recalque das mulheres. A força física era idolatrada e tida como impossível às mulheres; a suposta idéia de sensibilidade e a racionalidade as empurravam dia a dia a serviços de some na importância e de pouca visibilidade. A idéia de que o emprego ostensivo da mulher era arriscado aos seus parceiros era o discurso preferido indicado nos corredores e, por vezes, introjetado nas mulheres. UM FATO EMERGE: AS POLICIAIS MILITARES, AINDA QUE INTEGRADAS E COM CARGOS TÉCNICOS (DENOMINAÇÃO MILITAR) IGUAIS AO MASCULINO,

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