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Imigração europeia e marginalização sociocultural da população nacional

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Por:   •  10/4/2014  •  Tese  •  4.436 Palavras (18 Páginas)  •  216 Visualizações

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São Paulo - uma cidade no processo de segregação sócio-cultural e urbanístico no inicio do século XX

por Robson Roberto da Silva

Sobre o artigo[1]

Sobre o autor*

1 –A imigração européia e a marginalização sociocultural da população nacional

A cidade de São Paulo nos anos finais dos oitocentos experimentou um crescimento populacional sem precedentes em sua História, em pouquíssimas décadas, o número de habitantes multiplicou-se em 20 vezes, tendo seu apogeu entre 1890 - 1900 (Ver Tabela:1)

Tabela – 1 Evolução Percentual da População – São Paulo (1872 – 1920)[2]

Ano População Periodo Percentual

1872 26.020 1872-1890 124,78%

1890 64.934 1890-1900 200,20%

1900 260.000 1900-1910 60,38%

1910 314.000 1910-1920 92,58%

1920 581.435 —————— —————-

Esse fenômeno social e demográfico se explica pelas intensas transformações que o Brasil vivenciava desde a segunda metade do século XIX. A época da derrocada do sistema escravista coincidiu com o aumento da inserção do industrialismo nas cidades brasileiras e a ascensão do mercado de trabalho livre. Diante de tal configuração socioeconômica, não havia mais espaço na nova sociedade industrial e burguesa para instituições arcaicas como a escravidão. Contudo, o processo de libertação da população negra e mestiça em 1888 não veio acompanhado de plena cidadania, essa população será apartada dos processos produtivos, sociais e políticos, sendo relegados a uma situação de marginalização socioeconômica e urbana. “Nessa época em que a “ciência” passa a ocupar o trono do saber, comanda também mais de perto uma série de submissões: a do negro escravo ou recém-liberto, (...).”[3] O crescimento industrial impulsionou a expansão urbana da cidade, antes a participação das indústrias na economia brasileira era incipiente, porém o aumento na virada do século foi significativo

O desenvolvimento industrial trouxe de reboque a modernização da cidade de São Paulo, um sentimento de reformismo urbano e cultural dominou toda a sociedade, novidades tecnológicas da época não paravam de chegar, como a iluminação elétrica, o rádio, o bonde elétrico, telégrafo, automóveis, linhas telefônicas, novos edifícios e lojas sendo construídos, etc. São Paulo respirava modernidade e progresso (Imagem: 2).

Imagem 2 – Aurélio Becherini: Viaduto Santa Ifigênia, São Paulo, 1925. Fonte: Livro: Aurélio Becherini, São Paulo: Editora Cosac Nayfy, 2009, p.42 Acervo: Biblioteca Setorial de Ciências Humanas (BSCH) Universidade Estadual de Londrina – PR

Com o advento da industrialização paulista, houve a necessidade de uma grande quantidade de mão-de-obra operária nas indústrias, assim como para o trabalho nas lavouras cafeeiras no interior do Estado em substituição dos escravos recém-libertados, a solução encontrada foi à imigração européia, principalmente italiana, para São Paulo. Essa preferência pelos europeus para serem os trabalhadores das fábricas agradavam a sociedade paulista não apenas por motivos econômicos, havia também uma intensa campanha pela introdução do elemento branco na matriz étnica da população, em detrimento dos negros e mestiços. “A substituição do escravo negro pelo imigrante livre foi acompanhada por um discurso que difundia a solução como alternativa progressista, (...) “civilizados e laboriosos” trariam sua cultura para desenvolver a nação.”[4] Esse discurso enfatizava a purificação racial e cultural da sociedade, onde negros e mestiços eram visto como obstáculo há ser superado. Sendo assim, tanto governo quanto a sociedade não mediram esforços financeiros e estruturais para trazerem a maior quantidade possível de imigrantes europeus para o Estado. (Imagem: 3).

Imagem 3 – Guilherme Gaensly: Imigrantes no pátio central da Hospedaria dos Imigrantes de São Paulo 1890. Acervo: Fundação do Patrimônio da Energia de São Paulo - Memorial do Imigrante.

Fonte: Wikipédia. http//upload.wikimedia.orgwikipedia

commonsffcItalians_Sao_Paulo.jpg

A mentalidade da superioridade da raça branca em contraste com a inferioridade da raça negra e mestiça será a pedra angular das políticas PÚBLICAS e sociais dos governos da Primeira REPÚBLICA, onde os ex-escravos e libertos terão que carregar o estigma da escravidão, demonstrando que ser liberto não significava necessariamente ser cidadão. “Indolência, nomadismo, desperdício, (...), larga margem de ócio, falta de disciplina, muita dança, fumo, bebida: (...) A figura do ex-escravo fica assim associada ao malandro/vadio/maloqueiro, figura que povoa até hoje nossa mitologia política.”[5] Diante de tal difamação, a população negra e mestiça ficou apartada das melhorias urbanísticas, sociais e culturais da modernização da cidade de São Paulo, sendo relegados a viverem distante dos melhores bairros, empurrados para as periferias. “As oportunidades para os negros em São Paulo eram limitadas. O impacto da imigração no lugar dos negros no mercado de trabalho foi devastador, tanto ideológica quanto quantitativamente.”[6] Restavam para eles os piores trabalhos, os serviços mais pesados: carroceiros, limpeza de bueros e coleta de lixo, além de atividades informais, como vendedores ambulantes. (Imagem: 4).

Imagem 4 – Vincenzo Pastore: Vendedor de vassouras em rua do centro da cidade, provavelmente na Rua Direita, entre as ruas São Bento e Quintino Bocaiúva, 1910 Acervo: Instituto Moreira Salles. São Paulo - SP http://homolog.ims.com.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/

Mas, não eram apenas sobre os negros, pardos e mulatos que as autoridades políticas e a intelectualidade paulista desferiram seus ataques cientificistas, todo e qualquer tipo racial legitimamente nacional entrava na categoria da inferioridade: o caboclo e o caipira (individuo típico do interior do Estado) eram taxados como preguiçosos e indolentes. “(...) os nacionais sempre foram encarados como vadios, inaptos para o trabalho (...). Dai a vida errante, utilizando-se dos recursos naturais da terra, (...) Dai a medicancia e indigencia de um povo (...) ferrado pela desclassificação social

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