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Os Argonautas do Pacífico Ocidental do grande antropólogo polonês Bronislaw Malinowski

Por:   •  13/11/2017  •  Trabalho acadêmico  •  2.897 Palavras (12 Páginas)  •  525 Visualizações

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O objetivo deste trabalho é analisar de forma crítica a obra do antropólogo inglês E.E Evans-Pritchard, Bruxaria, Oráculos e Magia nos Azande, sob a luz do tema proposto: método e texto etnográfico. Buscaremos ao longo do texto abordar os aspectos elementares desta produção que é bibliografia essencial para a maioria dos antropólogos. Utilizaremos outras duas obras como suporte para esta iniciativa: Os Argonautas do Pacífico Ocidental do grande antropólogo polonês Bronislaw Malinowski e o artigo de Jeanne Favret-Saada, “Ser Afetado”.

Este trabalho, que nos propomos a analisar, está dividido em XVIII capítulos distintos. Estes abordam diferentes assuntos e questões relacionadas aos temas: Bruxaria, Oráculos e Magia. Também está incluída uma introdução por Eva Gillies; e quatro capítulos finais que compõem o apêndice. A introdução consegue transmitir em algum grau como a cultura Azande mudou desde que o estudo começou. Permitindo ao leitor compreender as mudanças que começavam a acontecer, quando o estudo foi realizado.

O objeto principal do trabalho de Evans-Pritchard é explicar como a magia, a bruxaria, e suas práticas são fundamentais para se entender o modo de pensar e de vida da sociedade zande. Deste modo, o autor começa tratando do que seria a bruxaria para eles. Para um zande, a bruxaria seria algo quase que normal, pois eles não vivem amedrontados por este fenômeno. Ao passo que, quando estes mesmos se tornam alvos de bruxaria tendem a ficar com raiva, pois eles acreditam que esse processo tem por finalidade prejudicar os diversos aspectos sociais de sua vida. Eles, os Azande (e aqui utiliza-se a letra “a”, pois quando se referem a eles no plural a palavra Zande se torna Azande) vivem como se realmente a bruxaria fizesse parte do mundo em que habitam. De modo a fazer uma analogia, o conceito de sorte ou azar na nossa sociedade ocidental, é um tanto quanto semelhante ao conceito de bruxaria para um zande. O autor vai dizer que a bruxaria é um fenômeno orgânico e hereditário, pois é transmissível de pai para filho. A bruxaria, segundo a concepção zande, também estaria presente em animais como: cachorros, e certos animais noturnos que os Azande temem ao ouvir o som. Há um entre eles, o gato-selvagem, em especial, seria o mais temido por ocasionar mortes quando é visto, até mesmo de reis. Deste modo, é perceptível que a bruxaria faz parte da cultura zande e que ela está envolvida num complexo sistema de explicações a cerca do mundo em que vivem. Num primeiro momento, pode-se tornar evidente que (de um ponto de vista ocidental), a crença em bruxaria pareça ser irracional. No entanto, a perspectiva Azande sobre este fenômeno, não é de uma ignorância ou ingenuidade. Esta interpretação de mundo se encaixa bem com a estrutura social na qual eles vivem, e tem um fundo lógico bem formado para isso.

Os azandes desenvolveram alguns métodos de identificar se um infortúnio é ou não bruxaria. Dentre eles o chamado “oráculo de veneno” é o mais confiável. Este método consiste em utilizar uma substância química (que é extraída de uma erva vermelha) para a produção de uma espécie de “veneno”. Nas ocasiões onde o oráculo é submetido à prova, toma-se uma galinha e a força a ingerir essa substância. A forma como esse animal reagira à ingestão deste veneno, ou seja, se o mesmo irá morrer ou sobreviver, produzirá uma interpretação positiva ou negativa a respeito de determinado assunto. Por exemplo: se um zande consulta um oráculo de veneno, a respeito se alguém está fazendo bruxaria contra ele, o mesmo obterá como resposta, um sim ou não, dado de acordo com a pergunta. O oráculo de veneno real, isto é, o da realeza (a família real zande, é a família Avongara), é sem dúvida o mais confiável dos oráculos.  Pois com esse tipo de veredito, uma acusação de bruxaria pode ser realizada sem que haja o risco que o acusado se volte contra o acusador. Pois, quem está acusando tem o peso do veredito dado pelo oráculo de veneno do próprio príncipe. Os Azande acreditam, segundo o autor, que o bruxo tem consciência dos seus atos. No entanto, há exceções, visto que, a substância bruxaria dentro do indivíduo (pois de acordo com a perspectiva zande, um bruxo tem dentro de si uma espécie de órgão responsável por produzir essa bruxaria) pode estar ativa e o próprio desconhecer este fato.  Portanto, é muito comum uma pessoa receber uma acusação de bruxaria e estar certa de nunca praticado tal ato contra alguém.

Uma outra característica, conceito fundamental dessa sociedade, que o autor apresenta é a magia. Segundo Pritchard, ela é a arma principal contra a bruxaria; seria o principal inimigo dela. No entanto, há dois aspectos distintos na magia zande. Ela pode ser usada para o bem, para combater a bruxaria; como também pode ser utilizada para fins malignos, como é o caso da feitiçaria. Ambas envolvem ritos e usos de “objetos mágicos”. De modo geral, os ritos mais importantes são acompanhados de enunciações. Estas últimas, são pronunciadas com o intuito de dizer o que a droga que está sendo usada deve fazer.

Na perspectiva Azande, toda morte é um assassinato. Pois eles acreditam que quando um zande morre, ele o faz porque alguém fez alguma bruxaria contra este. Com isso em mente, há uma magia muito comum a todo zande, a “magia de vingança”. Esta é utilizada por eles, para se vingar do assassino. Ela, a magia de vingança, na concepção zande, age como uma espécie de “juiz”, que caça o indivíduo responsável pela morte. Após o ato fúnebre, a família do falecido procura um mágico (este pode ou não ser um adivinho), e este realiza a cerimônia, recitando o encantamento, isto é, dizendo a droga o que ela tem de fazer. Depois de realizada a cerimônia (salvo as particularidades que julgamos não-necessárias abordarmos aqui), após geralmente cerca de seis meses, sempre que acontecer uma morte próxima a residência do falecido, eles passam a procurar o oráculo de veneno, a fim de descobrir se aquele que morreu, o foi, devido à magia que eles realizaram. Todas estas particularidades juntas, criam a atmosfera mental zande.

Há questões na sociedade zande que não são geralmente levadas, num primeiro momento, a luz do oráculo de veneno. Questões mais simples do cotidiano ou aquelas que necessitam de uma delimitação podem ser levadas aos oráculos de menor credibilidade ou a um adivinho. Estes últimos são reconhecidos por serem capazes de realizar previsões, curas (e estas realmente acontecem. No entanto, não graças aos seus poderes sobrenaturais, mas sim porque os mesmos também utilizam ervas e plantas medicinais nestas cerimonias), e também pela sua principal função, combater magicamente a bruxaria. Os Adivinhos, assim como a carreira política (mas não com o mesmo prestígio), são caminhos profissionais que um zande pode escolher seguir. De tempos em tempos, os mesmos realizam cerimônias públicas. Onde ao redor destes, as pessoas do lugarejo se reúnem (sejam homens, mulheres, crianças) para fazer perguntas a respeito de suas vidas pessoais, negócios e etc.. As pessoas também perguntam se há alguém fazendo bruxaria com o intuito de atrapalhar algum aspecto de suas vidas. Nestes rituais, os Adivinhos, fazendo uso de certos tipos de drogas específicas, entram num estado de frenesi, e a partir daí começam a realizar as previsões.  Estas não têm o mesmo peso, a mesma credibilidade como aquelas previsões realizadas pelo Oráculo de veneno. Na sociedade zande, os adivinhos (no momento, mais propriamente dito, em que estão realizando esta função) apresentam uma posição social diferenciada, de certo ponto de vista, até mesmo superior entre os plebeus.

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