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Pelos E Rabos

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Por:   •  23/9/2014  •  464 Palavras (2 Páginas)  •  527 Visualizações

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Pelos e Rabos

Os homens em sua evolução foram ganhando coisas e perdendo muitas coisas. Algumas perdas foram graves.Os ganhos foram poucos. O olfato, por exemplo, foi uma perda essencial. Qualquer bicho tem faro melhor que o nosso. Se orienta por ele para procurar comida e namorada. Andam até no escuro, guiados pelo cheiro.

Grave, também, foi a perda do focinho e o encolhimento da boca, mas teve a vantagem de permitir que a gente abandonasse o hábito de usar a boca antiga para carregar as coisas. Para isso, começamos a usar mãos, que também se aperfeiçoaram com o polegar, que permite manipulações delicadas.

A perda do pelame foi lamentabílíssima. Um cachorro ou um macaco, ao natural, quer dizer, nus, estão vestidos. Nós, nuelos, provocamos escândalos. Isso porque nos faltam pêlos, que é a vestimenta natural dos seres. Sem eles, se tem que fabricar roupa e também que ficar na moda, sobretudo as mulheres, o que fica muito caro.

A perda mais grave, a meu juízo, foi a do belo rabão dos macacos. Trocamos o rabo pela bunda acolchoada que temos. Mau negócio. Nada nos podia ser mais útil do que bons rabos. Com eles, nos verteríamos em primatas desbundados. A única vantagem que trouxe foi nos dar a possibilidade de usar cadeiras para sente, mas não seria ruim sentar no rabo enrodilhado no chão. Pense só na beleza que seria passear, pulando de galho em galho, com a garantia que o rabo dá para se equilibrar. Melhor, ainda, seria nas fábricas, nas escolas, em toda parte, os seres providos de rabo teriam os pés e as mãos livres para fazer coisas. A professora, por exemplo, ficaria controlando a turma, pendurado pelo rabo no lustre. Em lugar de carteiras, teríamos traves, você podia segurar o livro com a mão esquerda, pegar a caneta com a mão direita, usar a pata esquerda para consultar o dicionário e, ainda, a pata direita para coçar a orelha. Formidável, não é?

A perda mais radical foi a posição quadrúpede, que usamos durante muitos milhões de anos, para a posição ereta. Como quadrúpedes, púnhamos as quatro patas no chão, o que dava muito mais solidez. Sobre duas, ficamos sempre meio desequilibrados, e, depois, quando se perde uma, fica muito complicado viver e trabalhar, A consequência principal da adoção da posição bípede foi a dor ciática, que castiga demais os velhos. É uma dor terrível no traseiro, Dizem que é a saudade da nossa posição quadrúpede, porque, enquanto tínhamos quatro patas no chão, as vísceras se dependuravam na espinha, postas em posição vertical.

Levantando os braços, as vértebras se comprimem umas nas outras, o que provoca aquela dor insuportável O ganho único foi a possibilidade de subir escadas.

Você acha que valeu a pena?

(Extraído de Darcy Ribeiro e Ziraldo. Noções de coisas. São Paulo, Ftd, 1995. p.48-.9)

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