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A formação cultural brasileira

Ensaio: A formação cultural brasileira. Pesquise 860.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  17/6/2014  •  Ensaio  •  2.964 Palavras (12 Páginas)  •  390 Visualizações

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AD2

De acordo com o que você estudou nas Aulas 12, 13 e 14 sobre a Formação cultural brasileira, a Belle Époque e o Modernismo, responda às questões abaixo de modo dissertativo. Não copie respostas de sites da internet nem do seu material de estudo. Você deve pesquisar sobre o tema e escrever com suas palavras.

Questão 1 – Nos textos de João do Rio (pseudônimo de Paulo Barreto) emergem as mudanças sociais decorrentes da Primeira República, assim como questões de ordem subjetiva estabelecendo, deste modo, uma relação entre o local e o universal em sua literatura. Discuta como ocorre esta relação tendo por base o trecho selecionado da obra A alma encantadora das ruas.

Cordões

Oh! abre ala!

Que eu quero passá

Estrela d’Alva

Do Carnavá!

Era em plena Rua do Ouvidor. Não se podia andar. A multidão apertava-se, sufocada. Havia sujeitos congestos, forçando a passagem com os cotovelos, mulheres afogueadas, crianças a gritar, tipos que berravam pilhérias. A pletora da alegria punha desvarios em todas as faces. [...] A rua convulsionava-se como se fosse fender, rebentar de luxúria e de barulho. [...]

Abriguei-me a uma porta. Sob a chuva de confetti, o meu companheiro esforçava-se por alcançar-me.

— Por que foges?

— Oh! estes cordões! Odeio o cordão.

— Não é possível.

— Sério!

Ele parou, sorriu:

— Mas que pensas tu? O cordão é o carnaval, o cordão é vida delirante, o cordão é o último elo das religiões pagãs. Cada um desses pretos ululantes tem por sob a elbutina¹ e o reflexo discrômico das lantejoulas, tradições milenares; cada preta bêbada, desconjuntando nas tarlatanas² amarfanhadas os quadris largos, recorda o delírio das procissões em Biblos pela época da primavera e a fúria rábida das bacantes. Eu tenho vontade, quando os vejo passar zabumbando, chocalhando, berrando, arrastando a apoteose incomensurável do rumor, de os respeitar, entoando em seu louvor a “prosódia” clássica com as frases de Píndaro — salve grupos floridos, ramos floridos da vida...

[...] Os cordões são os núcleos irredutíveis da folia carioca, brotam como um fulgor mais vivo e são antes de tudo bem do povo, bem da terra, bem da alma encantadora e bárbara do Rio.

Quantos cordões julgas que há da Urca ao Caju? Mais de duzentos! E todos, mais de duas centenas de grupos, são inconscientemente os sacrários da tradição religiosa da dança, de um costume histórico e de um hábito infiltrado em todo o Brasil.

— Explica-te! bradei eu, fugindo para outra porta, sob uma avalanche de confetti e velhas serpentinas varridas de uma sacada.

Atrás de mim, todo sujo, com fitas de papel velho pelos ombros, o meu companheiro continuou:

— Eu explico. A dança foi sempre uma manifestação cultual. Não há danças novas; há lentas transformações de antigas atitudes de culto religioso. O bailado clássico das bailarinas do Scala e da Ópera tem uma série de passos do culto bramânico, o minueto é uma degenerescência da reverência sacerdotal, e o cakewalk e o maxixe3, danças delirantes, têm o seu nascedouro nas correrias de Dionísios e no pavor dos orixalás da África. A dança saiu dos templos; em todos os templos se dançou, mesmo nos católicos.

O meu amigo falava intercortado, gesticulando. Começava desconfiar da sua razão. Ele, entretanto, esticando o dedo, bradava no torvelinho da rua:

— O Carnaval é uma festa religiosa, é o misto dos dias sagrados de Afrodita e Dionísios, vem coroado de pâmpanos4 e cheirando a luxúria. As mulheres entregam-se; os homens abremse; os instrumentos rugem; estes três dias ardentes, coruscantes são como uma enorme sangria na congestão dos maus instintos. Os cordões saíram dos templos! Ignoras a origem dos cordões? [...]

João do Rio. A alma encantadora das ruas. Disponível em:

<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000039.pdf>.

1 Tecido de algodão.

2 Tecido encorpado e transparente, utilizado para forro.

Nas obras de João do Rio (pseudônimo de Paulo Barreto) emergem as mudanças sociais decorrentes das duas primeiras décadas do século XX, conhecida como belle époque. Durante essa época, a Capital Federal do país era a cidade do Rio de Janeiro. A mesma sofria algumas modificações para se tornar parecida com a capital da França, Paris. Tais transformações se faziam presente na urbanização da cidade, modificando a estrutura física da mesma como também a vida social. Essas mudanças foram registradas pelo cronista, jornalista e contista João do Rio. Tendo como base o trecho “Cordões” da sua obra intitulada “A alma encantadora das ruas” é possível notar a subjetividade ao observar o relato divergente do narrador e do personagem sobre a opinião dos cordões de Carnaval. Enquanto o narrador foge dos mesmos, o seu amigo explica a importância e a origem dos cordões, demonstrando a sua admiração. Dessa forma, o autor mostra dois pontos de vista sobre o mesmo assunto.

Na obra também é possível perceber um trânsito entre o local e o universal. Uma vez que em sua obra, retrata a vida social carioca no contexto do Carnaval, tão presente na cidade do Rio de Janeiro, em que o Homem (de qualquer espaço e tempo) vivencia os desejos reprimidos, principalmente os de natureza erótica. Assim, mostra uma ação/sentimento da humanidade na cidade em que vive. Como se pode perceber no primeiro parágrafo do texto: “Era em plena Rua do Ouvidor. Não se podia andar. A multidão apertava-se, sufocada. Havia sujeitos congestos, forçando a passagem com os cotovelos, mulheres afogueadas, crianças a gritar, tipos que berravam pilhérias. A pletora da alegria punha desvarios em todas as faces. [...] A rua convulsionava-se como se fosse fender, rebentar de luxúria e de barulho. [...]”. Embora o autor demonstre o local a partir das características do cenário e dos personagens que frequentavam os cordões dos carnavais cariocas, o autor também estabelece uma relação com o universal ao apontar características universais, como por exemplo, a relação entre o Carnaval e as diversas

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