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Kalvin Klein

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Por:   •  31/10/2014  •  2.734 Palavras (11 Páginas)  •  287 Visualizações

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Dois atlas para a América Latina

Kelvin Falcão Klein

UEPG

Resumo: O objetivo deste artigo é resgatar a ensaística breve do poeta e crítico argentino Héctor Ciocchini. Ênfase especial é dada a sua produção da década de 1960, período que marca a estada de Ciocchini no Warburg Institute, em Londres. Discutindo a obra do escritor e aviador francês Antoine de Saint-Exupéry (e sua passagem pelo continente sul-americano), Ciocchini propõe uma visão do território latino-americano a partir de uma perspectiva aérea que borra as fronteiras, daí a metáfora crítica organizadora do atlas, e a partir de uma perspectiva poética que borra as temporalidades. Finalmente, este artigo procura estabelecer uma ponte com o pensamento contemporâneo a partir da leitura de Atlas portátil de América Latina, livro publicado em 2012 por Graciela Speranza, problematizando-o a partir de três pontos: a utilização latino-americana do nome de Aby Warburg; a elisão do nome de Héctor Ciocchini; e a proliferação teórica da ideia de atlas.

Palavras-chave: Héctor Ciocchini; Graciela Speranza; Atlas; Montagem; América Latina.

Riassunto: Lo scopo di questo articolo è quello di riscattare la opera saggistica dello poeta e critico argentino Hector Ciocchini. Particolare enfasi è data alla produzione del 1960, periodo che segna il soggiorno di Ciocchini presso il Warburg Institute di Londra. Discutendo il lavoro dello scrittore e aviatore francese Antoine de Saint-Exupéry (e il suo passaggio attraverso il continente sudamericano), Ciocchini propone una visione del territorio latino-americano da una prospettiva aerea che sfuma i confini, quindi la metafora organizzatora critica del'atlante, e da una prospettiva poetica che confonde le temporalità. Infine, questo articolo cerca di stabilire un ponte con la lettura contemporanea dal Atlas portátil de América Latina, libro pubblicato nel 2012 da Graciela Speranza, discutendo tre punti: l'uso latino-americano del nome di Aby Warburg; l'elisione del nome di Héctor Ciocchini; e la proliferazione dell'idea teorica di atlante.

Parole chiavi: Héctor Ciocchini; Graciela Speranza; Atlante; Montaggio; América Latina.

Héctor Eduardo Ciocchini (La Plata, 1922 – Buenos Aires, 2005) foi um dos principais nomes por trás do florescimento do Instituto de Humanidades da Universidad Nacional del Sur, em Bahía Blanca, ao longo da década de 1950 e 1960. Com o incentivo do professor de filosofia Francisco Maffei e sobretudo com o apoio de Vicente Fatone, Ciocchini fez parte de um grupo de professores que incluía, entre outros, o tradutor de Platão Antonio Camarero, o heideggeriano de primeira hora Carlos Astrada, Rodolfo Agoglia, Jaime Rest e Antonio Austral. Com sua atividade dupla de poeta e professor, Ciocchini incentivava um ambiente que poderíamos chamar, talvez anacronicamente, de “transdisciplinar”, com a articulação permanente de textos e imagens de variadas latitudes e épocas. Havia uma publicação que organizava essa variabilidade, os “Cuadernos del Sur”, ou ainda “Los trabajos de Anfión” para os frequentadores, espaço de circulação teórica e de colocação em prática das aulas dadas no Instituto de Humanidades.

Em seu Historia, arte, cultura: de Aby Warburg a Carlo Ginzburg, de 2003, José Emilio Burucúa fala do Instituto: “é quase certo que o modelo imaginado e aplicado nesse lugar foi o Warburg Institute de Londres”, pois “não apenas Ciocchini frequentou a biblioteca de Woburn Square na qualidade de investigador visitante em inícios dos anos sessenta” e, entre parêntesis, Burucúa acrescenta que Ciocchini “voltaria, mais tarde, em 1976, exilado pela tirania militar depois do 'desaparecimento' e assassinato que esse regime perpetrou contra sua filha María Clara, uma adolescente de 16 anos”, e retoma: “não apenas portanto pela familiaridade de nosso Héctor com o lugar cuja irradiação estudamos, mas também que o interesse de Aby Warburg pela Nachleben der Antike já havia atraído a atenção de três intelectuais argentinos ativos nos anos quarenta e cinquenta”, intelectuais “que Ciocchini chamou de seus mestres”, a saber, o já citado Fatone, Arturo Marasso e Ezequiel Martínez Estrada .

Já de saída, fica estabelecido um contexto de troca cultural marcado não pela narrativa hegemônica de um modo de conceber seja a arte, a cultura ou o ensino, mas um sistema descentralizado de utilização das referências – sejam elas teóricas ou da ordem da convivência. Trata-se, portanto, de estabelecer desde já a percepção de um contexto de ensino e pesquisa que se vale da montagem de fragmentos provenientes de tempos e espaços heterogêneos. Para melhor exemplificar esse contexto, proponho o resgate de um ensaio que Ciocchini publica em 1966, no âmbito do Instituto de Humanidades da Universidad Nacional del Sur, especificamente no âmbito dos “Cuadernos del Sur”. O ensaio, “Hacia un humanismo contemporáneo, Saint-Exupéry, René Char”, marca ao menos dois eventos: o retorno do pesquisador argentino a Bahía Blanca depois de seu período como visitante no Instituto Warburg e, finalmente, a cristalização de uma série de apontamentos (realizados nesse período anterior que se encerra) que Ciocchini prepara na década de 1960 em torno às obras de Antoine de Saint-Exupéry e René Char .

É precisamente desse ensaio que Burucúa, em outra ocasião – sua conferência “Repercussões de Aby Warburg na América Latina” –, retira um trecho que, para ele, permite “compreender melhor aquela primeira tentativa de generalização das ideias que Warburg tinha formulado somente a partir de suas investigações sobre a arte do Renascimento”. Aproveito a tradução ao português de Alberto Martín Chillón do trecho de Ciocchini citado por Burucúa:

Encontrar os mitos que definem o destino do homem do presente parece ser a obra desses solitários [Saint-Exupéry e Char]. Neles toda filiação literária, toda categorização resulta mesquinha. Têm conseguido aprisionar um sopro de vida e curar uma ferida que ainda nos dói. Essencialmente, ainda que sejam escritores, são escritores a seu pesar, e justamente essa característica define seu crescente classicismo; e digo crescente no grau em que o traço distintivo do classicismo é formar e ser motor da ação em novos homens. Dois homens de ação, que por si mesmos são um mito que incentiva e inspira o homem contemporâneo. O espírito do dever que vai além do indivíduo, da sua morte individual, e trata de eternizar na vontade e na criação sua precária existência, no caso de Saint-Exupéry.

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