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Concepções acerca da língua

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Por:   •  24/11/2014  •  Pesquisas Acadêmicas  •  2.031 Palavras (9 Páginas)  •  191 Visualizações

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CONCEPÇÕES DE LÍNGUA E REFLEXOS NA PRÁTICA DO PROFESSOR1

Gilberto Scarton

1. Concepções acerca da língua - visão histórica

"Concepção" é ideia, conceito, noção, modo de ver, ponto de vista, opinião, maneira de formular uma

ideia. Concepções acerca da língua são, pois, modos de ver, pontos de vista, opiniões a respeito da língua.

Concepções de linguagem estão profundamente enraizadas na psique individual e coletiva. Com

efeito, tem havido sempre, nas culturas em geral, uma quantidade apreciável de mitos, crenças, tradições

que revelam as concepções de linguagem de seus povos. A antropologia cultural nos demonstra, por

exemplo, que a maioria das culturas primitivas concebiam a linguagem como um dom de Deus, como na

Bíblia: "E o Senhor, tendo criado todos os animais da terra e todos os ventos do ar, levou-os a Adão para

saber o que lhes queria chamar; porque o que fosse que Adão chamasse a uma criatura viva esse ficaria seu

nome." Já para os egípcios, o deus Toth foi o criador da fala e da escrita; para os babilônios, o deus Nabu;

para os chineses, a escrita foi trazida do céu no dorso de uma tartaruga.

Muitas sociedades primitivas (e pessoas supersticiosas também) concebem a linguagem como

alguma coisa dotada de poder mágico. Assim, em certas culturas primitivas, não se deveria pronunciar o

nome de uma pessoa morta, pois enquanto o nome durasse duraria a pessoa, e pronunciar seu nome seria

atrair a morte. No Egito antigo, seus habitantes tinham dois nomes, um para o mundo e outro para Deus,

jamais revelado. Conhecer esse segundo nome era ter poder sobre o indivíduo. Em Roma, para citar mais

um exemplo, as autoridades convocavam primeiramente homens com nomes auspiciosos: Victor, Félix,

Teodoro (presente de Deus), etc.

A concepção de que a linguagem se reveste de poder mágico inspirou a primeira descrição linguística

de que se tem notícia, a gramática do sânscrito. Naquela época (século VI a.C.), os dialetos populares da

Índia (pratkrits) se generalizavam rapidamente, enquanto o sânscrito culto (blasha) ia caindo no

esquecimento. Tratava-se, então, de assegurar a conservação dos textos sagrados escritos nessa língua

(poemas religiosos chamados Vedas) e de sua pronúncia exata, a fim de que surtissem seus efeitos. Quem

levou a cabo essa tarefa foi Panini.

Na verdade, a história das concepções acerca da língua é a própria história dos estudos linguísticos.

A Linguística, em suas diferentes fases de desenvolvimento, adota uma concepção de língua, de linguagem,

com que observa, analisa e descreve esses fenômenos, conforme se pode ilustrar, por exemplo, nestes

diferentes momentos do desenvolvimento dos estudos linguísticos: gramática tradicional, linguística do

sistema, sociolinguística, linguística do discurso.

A gramática tradicional deve ser definida não como um livro, mas como um conjunto de concepções

acerca da língua, formulado a partir dos gregos e que chegou até nossos dias: entende a língua como

expressão do pensamento; preocupa-se exclusivamente com a língua escrita; elege a modalidade literária, a

modalidade mais formal como objeto de estudo; privilegia as formas mais antigas em detrimento das atuais,

das inovações linguísticas; emite juízos de valor (uma língua é mais bonita, mais harmoniosa, mais rica que

outra); estabelece regras normativas arbitrárias; etc.

Para a linguística do sistema, a língua é um código de signos arbitrários; é um sistema de

comunicação. Já para a sociolinguística, a língua é um conjunto de variedades, enquanto para a linguística

do discurso é um sistema de interação, um sistema que somente se realiza sob a forma textual.

Concepções diferentes ou antagônicas acerca da língua têm originado, ao longo da história, sérios

conflitos, polêmicas acaloradas entre indivíduos, grupos ou correntes. É o que se aborda a seguir.

2. Concepções de língua / conflitos de paixão

2.1 Os tradicionalistas e os nacionalistas.

1 Texto extraído do Manual de Redação da PUCRS.Duas concepções - a língua como um sistema imutável e a língua como um sistema que varia no

tempo, no espaço social, no espaço geográfico e num mesmo indivíduo - estão na raiz de muitas ideias

errôneas, distorcidas, preconceituosas e conflitantes acerca da língua.

O mais antigo e célebre embate de concepções linguísticas no Brasil se deu nos fins do

século XIX e nas primeiras décadas do século XX, entre duas correntes - a tradicionalista e a nacionalista

(Cunha, 1968).

Defendiam os nacionalistas a concepção de língua como um sistema variável. Machado de Assis, o

compreensivo e sereno leitor dos clássicos - nas palavras de Cunha (1968) – em magistral artigo, escrito

em 1873, ponderava:

Não há dúvida que as línguas se aumentam e se alteram com o tempo e as necessidades dos

usos e costumes. Querer que a nossa pare no século

...

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