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Caso Concreto

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Por:   •  16/4/2014  •  10.061 Palavras (41 Páginas)  •  231 Visualizações

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Conferências introdutórias sobre psicanálise

(Parte III)

VOLUME XVI

(1916-1917)

Dr. Sigmund Freud

PARTE III - TEORIA GERAL DAS NEUROSES (1917 [1916-17])

CONFERÊNCIA XVI

PSICANÁLISE E PSIQUIATRIA

SENHORAS E SENHORES:

Alegra-me vê-los novamente, no início do novo ano acadêmico, para uma retomada de nossas discussões. No ano passado, falei-lhes de como a psicanálise aborda as parapraxias e os sonhos. Este ano, gostaria de conduzi-los à compreensão dos fenômenos da neurose, que, conforme logo verificarão, têm muitas coisas em comum com ambos. Devo, porém, adverti-los, antecipadamente, de que não poderei oferecer-lhes, este ano, em relação a mim, a mesma situação do ano passado. Naquela época, fiz questão de jamais dar um passo sem estar de acordo com o julgamento dos senhores; foram muitas as coisas que debati com os senhores, e dei acolhida às suas objeções - de fato, reconheci-os e ao seu ‘senso comum’ como fator decisivo. Isto, contudo, não é mais possível, e por uma razão simples. As parapraxias e os sonhos não são fenômenos desconhecidos dos senhores; poderíamos dizer que os senhores tinham, ou facilmente podiam obter, tanta experiência acerca dos mesmos quanto eu. Entretanto, a área dos fenômenos da neurose lhes é desconhecida; de vez que os senhores não são médicos, têm qualquer acesso a eles que não seja por intermédio daquilo que tenho a dizer-lhes; e de que serve o melhor raciocínio, se este não está acompanhado da familiaridade com o conteúdo daquilo de que se ajuíza?

Os senhores não devem, porém, tomar esse advertência minha no sentido de que eu proponha dar-lhes conferências dogmáticas e insista em seu crédito irrestrito. Um equívoco desses far-me-ia grave injustiça. Não desejo suscitar convicção; desejo estimular o pensamento e derrubar preconceitos. Se, em decorrência da falta de conhecimento do material, os senhores não estão em condições de emitir um julgamento, não deveriam nem acreditar, nem rejeitar. Deveriam ouvir atentamente e permitir que atue nos senhores aquilo que lhes digo. Não é tão fácil adquirir convicções; ou, se estas são alcançadas facilmente, logo se revelam sem valor e incapazes de resistência. A única pessoa que tem o direito de possuir uma convicção é alguém que, como eu, tenha trabalhado, por muitos anos, o mesmo material e que, assim agindo, tenha tido, por si próprio, as mesmas e surpreendentes experiências. De que servem então, na esfera do intelecto, essas convicções súbitas, essas conversões-relâmpago, essas rejeições instantâneas? Não está claro que o ‘coup de foudre‘, amor à primeira vista, deriva de esfera bem diferente, da esfera das emoções? Nem mesmo dos nossos pacientes exigimos que devem convencer-se da verdade da psicanálise, no tratamento, ou aderir a ela. Tal atitude freqüentemente levanta nossas suspeitas. A atitude que neles achamos mais desejável é a de um benévolo ceticismo. Assim, também os senhores devem esforçar-se por deixar que os pontos de vista psicanalíticos amadureçam tranqüilamente nos senhores, junto com a visão popular ou psiquiátrica, até surgir a oportunidade de ambas se influenciarem reciprocamente, de uma competir com a outra e de se aliarem no rumo de uma conclusão.

Por outro lado, não devem, de modo algum, supor que aquilo que lhes apresento como conceito psicanalítico seja um sistema especulativo. Pelo contrário, é empírico - seja uma expressão direta das observações, seja um processo consistente em trabalhá-las exaustivamente. Se esse trabalho exaustivo foi executado de uma maneira adequada e fundamentada, isto se verá no decorrer de futuros progressos da ciência, e realmente posso afirmar, sem jactância, após um período de quase vinte e cinco anos e tendo atingido uma idade razoavelmente avançada, que essas observações são o resultado de trabalho especialmente difícil, intensivo e aprofundado. Freqüentemente tive a impressão de que nossos opositores relutavam em levar em conta essa origem de nossas teses, como se pensassem que se tratava apenas de noções determinadas subjetivamente, às quais qualquer um podia opor outras, de sua própria escolha. Essa conduta dos nossos opositores não me é completamente compreensível. Talvez se deva ao fato de que, como médico, habitualmente se tem tão pouco contacto com pacientes neuróticos e se presta tão pouca atenção ao que dizem esses pacientes que não se pode imaginar a possibilidade de que se possa derivar algo de valioso de suas comunicações - isto é, a possibilidade de efetuar acuradas observações a respeito delas. Valho-me desta oportunidade para assegurar-lhes que, no decorrer destas conferências, permitirei muito pouca controvérsia, especialmente com algumas pessoa, individualmente. Nunca pude convencer-me da verdade da máxima segundo a qual a controvérsia é a mãe de todas as coisas. Penso que deriva dos sofistas gregos e, como eles, peca por supervalorizar a dialética. Parece-me, ao contrário, que aquilo que se conhece como controvérsia científica é, na totalidade, muito improdutivo, além do fato de quase sempre ser conduzido segundo motivos altamente pessoais. Até há alguns anos, eu podia gabar-me de apenas uma vez haver-me envolvido numa disputa científica regular - com um único pesquisador (Löwenfeld, de Munique). Terminou por nos tornarmos amigos, e o somos até o dia de hoje. Não repeti, porém, a experiência, por muito tempo, pois não tinha certeza de que o resultado viesse a ser o mesmo.

Ora, os senhores concluirão, sem dúvida, que uma rejeição como esta de todas as discussões por escrito demonstra um elevado grau de inacessibilidade a objeções, de obstinação, ou, para usar um termo científico, coloquial e educado, de apego às idéias próprias [Verranntheit]. Gostaria de dizer, em resposta, quem, porquanto, após trabalho tão árduo, chegou-se a adquirir uma convicção, ao mesmo tempo adquiriu-se um certo direito de manter esta convicção com alguma tenacidade. Também posso declarar que, no transcorrer do meu trabalho, tenho modificado minhas opiniões em alguns pontos importantes, tenho-as alterado e substituído por outras,

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