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Crônica Coisa com coisa

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Por:   •  30/11/2014  •  Tese  •  1.201 Palavras (5 Páginas)  •  365 Visualizações

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Crônica é um gênero literário. Ela é feita com uma finalidade utilitária e pré-determinada: agradar aos leitores dentro de um espaço sempre igual e com a mesma localização, criando-se assim, no transcurso dos dias ou das semanas, uma familiaridade entre o escritor e aqueles que leem. A crônica, na modernidade, exige uma visão bastante atenta para a apreensão tanto de seus limites quanto de seus alcances. O cronista, desde a Idade Média na narrativa de caráter documental, à documentação do cotidiano, na modernidade, é dotado do que se pode considerar livre arbítrio que faz com que sua abordagem temática ultrapasse esses limites do cotidiano. Este processo de liberdade do escritor tem proporcionado uma visão subjetiva para a narrativa que assumiu, entre nós, o papel de texto que prima pela linguagem coloquial e cujos assuntos voltavam-se para as amenidades da vida cotidiana.

2. Crônica

Coisa com coisa

É considerado normal uma mãe trocar o nome dos filhos, toda mãe troca: chama a Luíza de Roberta e a Roberta de Luíza, o Bruno de Eduardo e o Eduardo de Bruno. Eu faço a mesmíssima coisa, quando vou chamar uma, digo o nome da outra. Nunca me apavorei com essa disfunção porque toda mãe é assim, a minha trocou a vida toda os nossos nomes: inúmeras vezes fui chamada de Fernando. Só que minha disfunção foi se sofisticando com o tempo. Comecei a trocar também o nome de outras pessoas. A moça que trabalha na minha casa chama-se Clair e uma de minhas grandes amigas, Clarisse. Troco sempre. Justifica-se: são nomes que começam quase iguais. Só que eu dei pra trocar também Karin por Letícia, Ana por Neca, Suzana por Dorinha, e só não troco o nome do meu marido porque eu me concentro muito antes de pronunciá-lo: por mais que ele saiba desse meu defeito crônico, não convém levantar suspeitas.

Estava levando bem, até que certa vez fui lançar meus livros no Rio. No dia seguinte, de volta a Porto Alegre, havia um e-mail de um leitor me esperando na caixa postal. Dizia: "Gostei muito de conhecê-la pessoalmente, mas acho que você me confundiu com algum amigo seu. Você autografou o livro para Marquinhos. E me chamo Romualdo". Não era possível que eu tivesse escutado mal o nome do cara: Marquinhos e Romualdo sequer rimam. Resolvi achar graça da história, pedir desculpas e seguir como se nada estivesse acontecendo. As coisas estavam num nível de anormalidade aceitável, até que um dia eu atendi o telefone dizendo "tchau". Razoável, se eu fosse italiana. Como não é o caso, passei a admitir que sou uma pessoa neurologicamente perturbada.

Hoje o quadro clínico é o seguinte: não digo coisa com coisa. Se quero dizer apoteótico, digo apocalíptico. Se quero dizer remendo, digo remédio. Troco termos prosaicos.

Prosaico, aliás, é como chamei outro dia uma taça de prosseco, e eu ainda nem havia começado a beber. Claro que ainda me resta algum controle. Socialmente, engano bem. Consigo entabular uma conversa sem dar vexame. Mas em casa, livre de qualquer patrulha e avaliação crítica, eu deito e rolo: libero as palavras desencaixadas e reinvento meu próprio português informal. Falar é o que menos me importa. Enquanto eu ainda conseguir escrever coisa com coisa, me sustento.

3. Análise

Trata-se da crônica, “Coisa com coisa”, de Martha Medeiros, abordando um acontecimento real de sua vida, incrementado com um tom de ironia e bom humor.

A autora relata do defeito que tem de trocar o nome das pessoas, até mesmo das próprias filhas. Só que começa perceber que esse problema vai aumentando com o tempo.

Começou a trocar o nome das amigas, nomes que não tinham nada haver uns com os outros, como Suzana (uma de suas grandes amigas) que ela trocava por Dorinha. Só não trocava o nome do marido porque se concentrava muito antes de pronuncia-lo.

Até consegue conversar sem dar vexame, mas quando tá em casa, livre de qualquer avaliação crítica das pessoas, fala do jeito que quiser.

Por fim, diz

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