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Por:   •  20/3/2015  •  1.796 Palavras (8 Páginas)  •  135 Visualizações

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Mãe, sabe a Laura? A minha amiga da faculdade por quem eu suspirava de amores?! Finalmente me declarei. Escrevi uma carta, comprei flores e marquei um falso trabalho lá em casa. Aproveitei sua viagem, mãezinha, pra romantizar minha vida.

Quando Laura chegou, encenei uns vinte minutos que o restante do grupo do seminário apareceria. Ela tava linda. Linda demais.

Eu e aquele anjinho ali, que céu. Ela falando nos passos da apresentação e eu escutando uma anunciação divina. Esqueci as flores e a carta e soltei. “Laura, eu te amo.” Ela não ouviu, então repeti. Vi os olhos dela se arregalarem, sorri largamente e repeti. “Laura, eu te amo.” No mesmo instante minha armação veio à tona. Pensei logo que ela ia levantar e sumir dali.

Ela realmente levantou. Eu levantei também. Quase pedia perdão, quase.

Não pude falar nada, Laura me beijou. Foi beijo de calar qualquer teórico, e com esse argumento dela, encontramos minha cama. Como estou falando com minha mãezinha, o resto dos detalhes ficaram omitidos aqui, sei que a senhora faz essa cara de quem diz. “Deixe dessas safadezas pro meu lado, hein?!”

Mãe, só digo, com todo respeito, que mais que bela safadeza aquela!

Na faculdade ouvi alguns protestos. Diziam que Laura era areia demais para o meu caminhãozinho. Eu, claro, respondia como é ensinado em nossa família. Que caminhão haveria de suportar carregar a areia do mar que Laura é?! Eu sou chão. Estou abaixo, sou dela o bom suporte.

Assim, aos poucos, os críticos foram ficando mais mudos. Coisa boa calar alguns. Coisa melhor ainda ouvir Lara cantando.

Ela cantava num barzinho da cidade. Eu chegava bem cedo. Pegava o primeiro lugar, pra ficar vendo de pertinho as canções do meu bem invadirem o espaço sideral. Havia sempre um marmanjo caçador, bem malhado e maior. Ela, porém, vinha até mim, apertava minha mão e cantarolava. Eles saíam sem rumo.

Tem quem precise aprender, a respeitar a ausência de músculos dos outros. Ora essa. Nem toda beleza vem da mesma força.

Laura começou a fazer sucesso. Dos barzinhos para casa de shows, e para gravação do primeiro CD. Mãe, senhora tinha que tá na cidade. Era mágico ver como minha noiva arrebatava tudo. Minha noiva, pois a essa altura já tínhamos planos de casar. Encontrei uma casa para financiar. Com meu salário e os cachês de Laura, em quatro anos a quitaríamos. Não me olhe assim... Tá bom, uns quinze anos... Difícil seria, por isso eu enchia meu coração de esperança.

Numa quarta-feira à noite, enquanto comíamos pizza de presunto na faculdade, Laura recebeu um telefonema.

Era Marco Fianucci, um dos maiores produtores musicais da região, oferecendo um contrato com uma gravadora. Laura precisaria abandonar a faculdade e se dedicar integralmente ao mundo da música.

Minha Noiva desligou o telefone e pediu minha opinião. Sorri e chamei o pessoal da lanchonete: “Vejam só, meu amor vai ser uma estrela, anotem aí que sou profeta mesmo!”

No mesmo dia, ela abandonou a faculdade. Eu pedi demissão da loja, comprei vários CDs de Laura e passei a vender nos shows. Mal sabiam os fãs que aquele camelô perseguindo Laura era o noivo louco de apaixonado dela.

Viajamos muito. Simultaneamente, Laura produzia seu novo CD. Ela me pediu que eu parasse com as vendas. Queria vender, era divertido admirá-la entre outras centenas de admiradores. Os empresários me convenceram a parar, por causa de qualquer bobagem da imprensa.

Na mesma semana, deram dez dias de descanso pra Laura. Ao chegarmos na cidade, vimos mais amigos que imaginávamos. Tudo bem, aceitamos todos. Mesmo sabendo que há amizades e unhas postiças.

Soube que minha mãezinha voltaria em três dias. Bem no dia do retorno de Laura ao trabalho. Decidi ficar mais uns dias, na intenção de contar todas essas novidades.

À tardinha, fui deixá-la no aeroporto. No caminho, ela soltou um instrumental no player do carro. Eu dirigindo e Lara “Estou grávida!”

Eu a encarei sério, ela balançou cabeça dizendo

sim e sorriu, aquele sorriso. Parei no acostamento, beijei, abracei, gritei. Seguimos estrada, sentindo o ar de família nova.

Uma sacola sobrevoou a rua que dava acesso ao aeroporto, passando por cima do nosso carro, do seu carro, Mãe. Quando caiu do outro lado da rua, um táxi, numa velocidade alta, fugiu da mão dele e entrou na nossa. Batemos de frente. Vi o para-brisa estraçalhar e uma bola de fogo invadir o carro.

Explodimos. Eu pai e Laura mãe.

Acordei no hospital. Sem uma perna. Recebi a notícia que Laura e meu filho estavam mortos.

Eu desandei, Laura fora meu caminho, meus passos. Viver sem pernas é bem possível, porém, viver sem minha história de amor, perdê-la para qualquer que fosse a origem do acidente de morte, era de sacar os pés e o chão.

Senti dores de queimadura muito fortes e me sedaram. Nas horas dormindo sonhei com meu filho, com a voz de meu bem num rádio, eu escrevendo algum poema sobre o dia, você de vozinha chegando e deixando um brinquedo novo.

Sabia ser tudo sonho, quis tudo eternamente surreal. Queria ser sedado pra sempre, viver aquela vida de meus desejos. Contemplar minhas esperanças virarem realidade, mesmo sendo irreais... Inevitável acordar me despertou.

Dois enfermeiros estavam no meu quarto. Achei estranho usarem roupas vermelhas, não comentei por ser minha cor favorita. Devia estar num desses hospitais que valorizam os gostos do paciente. Fiquei olhando. Um deles abriu a janela. O outro arrancou todos os aparelhos do meu corpo e afastou minha cama. Eu quis questionar, minha fraqueza impediu. Juntos levantaram a cama e me jogaram pela janela. Quase grito, no espanto emudeci de vez.

Quando lançaram a cama, pularam atrás e voaram. Minha cama também voou. Atingimos altura suficiente pra eu morrer. Não morri. Pelo contrário, enquanto voávamos sentia mais vigor e minhas queimaduras retraíam. Algo como um imenso ônibus voador se aproximou de nós, abrindo uma porta. Caiu minha cama do alto, eles me pegaram e entramos no ônibus. Lá dentro era maior do que era possível perceber de fora e minha perna ressurgiu.

Os avermelhados sumiram. Uma

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