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Influencia Da Dieta No Microbiota: Obesidade E Inflamação

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Por:   •  30/5/2014  •  3.322 Palavras (14 Páginas)  •  595 Visualizações

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A infuência da dieta no microbiota: obesidade e inflamação

Em 2010, Rob Knight, Professor Associado da Universidade do Colorado e um dos maiores investigadores do microbiota humano afirmava peremptoriamente: “O microbiota humano será uma das áreas científicas com maior investimento e margem de descoberta da próxima década”. De facto, olhando apenas para o presente ano de 2013, as publicações científicas nesta área são das mais inovadoras e promissoras a que se tem assistido. Entre muitas, descobriram-se novas associações entre o microbiota (MB) do tracto gastrointestinal superior e várias doenças digestivas (1), a acção da transglucosidase produzida pelo Aspergillus niger na diabetes tipo II (influenciando também o rácio bacteroidetes/firmicutes do microbiota) (2), reforçou-se a relação do MB com a inflamação e a insulino-resistência (3) e associou-se a ingestão de gordura e fibras com a alteração do MB e a obesidade (4).

Não é seguramente novidade o facto do aumento da permeabilidade intestinal estar associado a maiores níveis de inflamação. Autores de renome mundial como Alessio Fasano têm insistido nesta vertente (5) ao mesmo tempo que outros ligam a inflamação à obesidade (6). No campo dietético e olhando para os macronutrientes, em particular os ácidos gordos (FA), parece evidente que alguns ácidos gordos saturados (SFA) têm a capacidade de reduzir a inflamação (caso do ácido láurico), ao mesmo tempo que alguns ácidos gordos polinsaturados (PUFA) também parecem cooperar para este efeito (caso dos ácidos gordos n-3 e n-9) (7). Alguns estudos associam proteínas ergásticas a uma maior inflamação e resposta auto-imune (em especial na esclerose múltipla), a prolaminas presentes no trigo (8).

Estando o aumento da permeabilidade intestinal associado a maior inflamação pela passagem de componentes presentes na parede das bactérias Gram -, nomeadamente lipopolissacáridos (LPS), têm sido avançadas as mais diversificadas explicações. Tem sido apontada a acção das lectinas (muito presentes nos cereais), segundo alguns estudos, estas ligam-se aos polissacáridos e às células epiteliais do intestino, irritando as tight junctions, aumentando a endocitose e reduzindo as microvilosidades intestinais (9–11). Contudo esta hipótese não parece validada por outros estudos (12). Outra hipótese prende-se com a presença de glicoalcalóides (presentes na batata) no aumento da permeabilidade intestinal (13). Inúmeras hipóteses são levantadas, contudo a única certeza é de que a questão reside no intestino seguramente relacionada com a sua flora natural.

Vários componentes do microbiota intestinal têm sido associados à permeabilidade intestinal e à resposta imunogénica para além dos LPS, entre estes encontram-se o ácido lipoteicoico, peptidoglicanos, flagelinas e o DNA bacteriano (14). Os LPS são de facto um dos principais componentes da parede celular das bactérias Gram -, pensando-se assim que o microbiota é naturalmente a principal fonte desta endotoxina (15). Estima-se que no lúmen intestinal se encontre mais de 1g de LPS (16).

A ligação LPS/dieta/lipoproteínas

Sabe-se, actualmente, que mesmo pequenas quantidades desta endotoxina altamente inflamatória (LPS) podem levar a uma resposta inflamatória aguda generalizada (17). Acredita-se, por esta razão, que o epitélio intestinal tenta a todo custo bloquear a translocação não só deste composto, mas também de outras substâncias inflamatórias de origem microbiana (17). Independentemente desta premissa, já há várias décadas ficou demonstrado que os LPS são absorvidos em quantidades significativas, mesmo em animais saudáveis (18). Os LPS são também encontrados na sua forma bioactiva no sangue de humanos saudáveis (19,20), acreditando-se por esta razão, que pequenas quantidades desta endotoxina são absorvidas de forma contínua, muito provavelmente com papel relevante em algum mecanismo fisiológico ainda desconhecido (17).

Independentemente de poderem fazer parte de processos fisiológicos normais é amplamente reconhecido, que elevadas concentrações desta endotoxina elevam os marcadores de inflamação crónica e aguda (17). Níveis elevados de permeabilidade intestinal às LPS parecem estar associados a maior probabilidade de doenças crónicas como por exemplo, doença hepática alcoólica crónica (21), esteatose hepática não alcoólica (16), HIV/SIDA (19) e doença inflamatória intestinal (22,23). Assim, torna-se necessário estudar e esclarecer os mecanismos envolvidos na absorção dos LPS, tendo em conta todo o seu envolvimento nos mecanismos patológicos previamente referidos.

A evidência científica parece apontar para a influência da gordura dietética numa maior translocação de LPS na barreira gastrointestinal (24,25). Estes estudos são extremamente importantes, sobretudo se tivermos em conta que a ingestão excessiva de gordura parece estar associada a uma vasta panóplia de doenças do foro inflamatório, nomeadamente, diabetes e aterosclerose (26–29). A participação do microbiota intestinal nestas patologias, foi relegada para segundo plano ao mesmo tempo que se associavam os efeitos nocivos da excessiva ingestão de gordura à sua intrínseca actividade biológica e fisiológica, sobretudo pela acção dos ácidos gordos livres na sinalização de mecanismos inerentes ao sistema imunitário inato (30,31) ou pelo subsequente aumento da sua oxidação orgânica (32).

A relação entre a absorção de gordura e a passagem de LPS ainda não foi completamente esclarecida, tendo vários trabalhos recentes avançado com inúmeras possibilidades. Uma das hipóteses, prende-se com a possibilidade dos ácidos gordos produzirem efeitos nocivos na integridade das tight junctions aumentando assim a permeabilidade intestinal (33). Contudo esta hipótese viria a não ser confirmada, ficando demonstrado do ponto de vista experimental que o transporte dos LPS depende directamente do seu transporte pelas lipoproteínas, no caso os quilomicrons (17). Esta hipótese lipoproteína/endotoxina já teria sido levantada por Rauchhaus et al, parecendo até ao momento a hipótese mais plausível (34).

Estudos recentes demonstraram que o tipo de gordura pode influenciar a endotoxémia, levantando a hipótese de que os ácidos gordos n-3 podem diminuir a resposta inflamatória no intestino, ao mesmo tempo que os ácidos gordos saturados provenientes do óleo de coco aumentam a sua resposta (35). Este resultado referente ao óleo de coco é bastante intrigante, uma vez que os ácidos gordos de cadeia média (presentes no óleo de coco) não são transportados pelos quilomicrons até o fígado e tecido muscular (36), podendo o mecanismo envolvido (pelo menos

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