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O Real e o Imaginário na Infância

Por:   •  25/10/2015  •  Trabalho acadêmico  •  3.779 Palavras (16 Páginas)  •  442 Visualizações

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Clínica Agathon

Formação em Psicomotricidade

O REAL E O IMAGINÁRIO NA INFÂNCIA

Renata H. Leão Jesus

Niterói

2014

                 Certa vez, quando eu era voluntária em um projeto social de uma Igreja (da qual eu não faço parte), vi a seguinte cena:

                 Um menino com uns 5 anos de idade, pegou o cabo de uma vassoura e saiu correndo para brincar. Um amigo tentou pegar o cabo da mão dele e o que estava correndo bateu no outro. Logo veio o pastor resolver a situação. Acolheu o que havia levado a pancada e estava chorando. Pegou pelo braço o menino que corria com o cabo e sem dizer uma palavra o colocou sentado na famosa cadeirinha do pensamento. E disse: Você vai ficar aí para pensar no que fez. Ora, que Jesus vem tocar o seu coração.  

                 Naquele momento passei a observar o menino e refletir sobre qual seria a sua capacidade de, com a idade que tinha, sozinho, sentar, pensar, refletir, orar e aguardar Jesus chegar e tocar seu coração. E aí me lembrei de quando eu era criança, no melhor estilo O Fantástico Mundo de Bobby. Eu já estaria imaginando uma mão gigante descendo do Céu, com uma neblina em volta, tocando no meu coração e falando com uma voz com bastante eco: Eu sou Jesuuuussss!

                 O que me inquieta ao lidar com as crianças, tanto na clínica quanto nas minhas relações com filhos, sobrinhos, amiguinhos e tal, é buscar um diálogo coerente com elas. Cobrar da criança, de uma maneira geral, o que ela pode me dar. Aceito o medo de escuro de uma criança de 7 anos? E de um de 13? E uma mentira? Quando ela mente com propósito e quando ela mente por falta de noção do real? Quando meu paciente me conta uma história, o que de fato, ele deseja me dizer?

                 Que lugar é esse que a criança está quando me dá uma resposta? Quando me faz um questionamento? Quando “viaja na batata”?  E em momentos de reflexão onde demonstram pureza e amadurecimento? E quando dizemos que uma criança é imatura? Seria por viver demais no mundo do imaginário? E o que isso tem a ver com ser responsável?Onde o real e o imaginário se encontram e onde se afastam na cabecinha das crianças?

                 Esses são alguns dos questionamentos que me levam a estudar, de forma os processos de desenvolvimento humano[1] (tanto corporal quanto cognitivo), principalmente na infância, atentando para a diferenciação entre real e imaginário, e buscando compreender seus contextos, (des)equilíbrios e possibilidades.

                  O imaginário infantil é uma forma característica e específica da criança se relacionar com o mundo. Ela brinca de ser o que não é. Conta o que não aconteceu. Ri do que não teve graça. Finge que morreu. Sua forma de ver o mundo faz dela um ser único e espontâneo. Mas o mundo real chama para os pés no chão. Trazendo consigo todas as regras e exigências.

                 Ao longo dos meus estudos fui observando como é impossível falar de Real e Imaginário sem falar de linguagem (simbólico) e da construção do corpo(esquema e imagem corporal)

                 No dicionário, encontramos:

REAL: adj. Que tem existência verdadeira, e não imaginária: a vida real.  / Aquilo que existe efetivamente, que não é fictício; realidade.

 IMAGINÁRIO: adj. Que só existe na imaginação; quimérico: um bem imaginário.  — S.m. Domínio da imaginação: em certos distúrbios mentais, o imaginário supera o real.  

                 Se formos nos limitar ao pensamento literal do que o dicionário nos traz, essa questão de fato já estaria resolvida. O real é o que existe no mundo de fora e o imaginário é o que existe dentro da nossa mente. Entretanto, é necessário, para a prática clínica, um olhar mais subjetivo, onde possamos compreender real e imaginário dentro da singularidade de cada um. Schütz(1983) afirma que "somos propícios a pensar de modo diferente sobre o mesmo objeto e podemos escolher qual o modo de pensar a que queremos aderir e qual ignorar. A origem e fonte de toda realidade, [...] sempre está, portanto, em nós mesmos". A partir dessa afirmação podemos presumir a existência de várias realidades na formação de uma realidade social, cultural, nacional...

                 Sendo assim, para essa busca teórica das subjetividades dentro dos campos do real e do imaginário, e da necessidade de ligar isso às experiências corporais, busco principalmente em Esteban Levin essas referências, pois com seu olhar de psicomotricista e psicanalista nos possibilita diferenciar o corpo no real, no simbólico e no imaginário. Permitindo compreender que o corpo humano é um real, simbolizável e, consequentemente, suscetível à representação imaginária. (Levin, 2001,pág.14)

“O corpo de um sujeito é Letra, é gramática, e é lida pelo o outro enquanto tal. Lê-se o sentido e por isso o corpo é da ordem do imaginário, e, como a imagem não diz, necessita de um Outro que inscreva um dizer no corpo, que o torne imagem do corpo, que o metaforize em seu “toque” significante.”(Levin, 1995, pág. 47)

                 Segundo ele, a partir daí a psicomotricidade estará em condições de realizar uma leitura simbólica do dizer corporal de um sujeito.

                 Sabemos que o desenvolvimento psicomotor normal permite que o indivíduo instaure os elementos da psicomotricidade e se utilize deles para uma comunicação, uma relação ambiental e social, pondo em jogo o aspecto instrumental-cognitivo que privilegia o funcionamento motor (o corpo enquanto instrumento) e os processos cognitivos relativos ao próprio corpo, em suas diversas relações com espaço, tempo e objetos.

                Para que o indivíduo consiga adquirir esta capacidade de relação, seu corpo precisa ser um Corpo Integrado, que é um corpo que se integra e funciona. Que se estrutura e age. Que se situa. E é a partir da própria vivência corporal e das primeiras cinestesias e sensibilidades que irão surgindo à noção do próprio corpo e de si mesmo.

“Corpo único, total, que eu ‘possuo’ e que é, ao mesmo tempo, base de mim mesmo.” (Suzana Veloso Cabral, 2001, p. 15).

                 Para que a criança possa se inscrever corporalmente, ligam-se pulsões inconscientes e vivências primárias, dando origem ao processo de inscrição psíquica e de identificação. A partir daí, o sujeito pode estabelecer uma relação “corpo a corpo”, “coração a coração”, resultando em um Eu Corporal, com a função de adaptação à realidade.

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