Processo de Gerenciamento de Configuração

Capítulo 2

O Processo de Gerência de Configuração

A Gerência de Configuração de Software é uma técnica bastante antiga na área de Software. BUCKLE (1982) reporta que em 1973 Barry Bohem, na TRW, já publicava manuais de Desenvolvimento e Gerência de Configuração. Em grandes projetos de sistemas da área de defesa dos EUA sempre foi comum o uso de Gerência de Configuração de Software, conforme relata o próprio Buckle.

A origem destas técnicas vem das engenharias mais convencionais, como a Engenharia Mecânica, a Industrial e, mais recentemente, a Engenharia Elétrica e Eletrônica, onde o controle dos componentes e de suas versões é fundamental para garantir qualidade mínima aos equipamentos e sistemas construídos. Não se pode imaginar um novo projeto de um parafuso para um equipamento, sem que a porca correspondente também não tenha sido redesenhada. Ou, em um equipamento eletrônico, haja a mudança do sinal de saída de um circuito, sem que o circuito que recebe e processa esta saída, também não tenha sido ajustado à nova interface.

Mais recentemente, na área de Gerência de Configuração de Software, tem surgido necessidades especiais no gerenciamento de sistemas de acesso à Internet. Scripts de html, imagens, sons, vídeos e outros objetos são colocados em servidores de Web e são alterados com freqüência sem precedentes na história dos sistemas de software.

A palavra chave neste contexto é mudança. Segundo BABICH (1986):

“... Gerência de Configuração é a arte de identificar, organizar e controlar as modificações do software em construção por uma equipe de programação. O objetivo é maximizar produtividade pela redução das falhas”.

Gerência de Configuração não deve ser confundida com a fase de Manutenção de Sistemas. As mudanças que se pretende controlar ocorrem durante todo o ciclo de vida de um sistema, inclusive, durante a manutenção. São mudanças de diversas origens, que oportunamente serão explicitadas, mas que ocorrem desde a especificação inicial até a fase de manutenção dos produtos já prontos.

No decorrer deste capítulo serão formalizados os conceitos que caracterizam o que é Gerência de Configuração de Software.

2.1 O que é Gerência de Configuração

Gerência de Configuração, segundo BUCKLE (1982), é um termo usado para designar um conjunto de técnicas que, quando aplicadas ao desenvolvimento e manutenção de software, melhorará a qualidade do produto de software, reduzirá os custos do ciclo de vida e melhorará a função gerencial no processo de desenvolvimento e produção. Gerência de Configuração está fortemente ligado, mas é diferente de técnicas de Garantia de Qualidade e Controle de Qualidade. Podemos visualizar na Figura 2.1, usando Pressman (2001), o relacionamento macro entre as técnicas envolvidas com qualidade.

Figura 2.1 - Obtendo Qualidade de Software

Segundo este modelo, a qualidade será conseguida pela ação simultânea das seguintes técnicas:

 Métodos de Engenharia de Software

 Padrões e Procedimentos

 Revisões Técnicas Formais

 Medições e Métricas de Software

 Gerência de Configuração de Software e Garantia de Qualidade de Software

 Testes

Os Métodos de Engenharia de Software provêm as fundações sobre as quais a qualidade é construída. Métodos de análise, projeto e programação atuam na melhoria da qualidade, providenciando técnicas uniformes e resultados previsíveis. Técnicas de revisão formal, como walkthroughs, ajudam a garantir a qualidade de cada produto produzido como resultados dos passos da engenharia de software. Padrões e procedimentos ajudam a garantir uniformidade e a o processo de garantia de qualidade de software reforça uma filosofia de qualidade total. Testar o software é o último baluarte no qual a qualidade pode ser avaliada e os erros podem ser descobertos.

A Gerência de Configuração, conforme já foi dito anteriormente, desempenha um papel central neste processo todo, porque esta gerência permitirá que cada item de configuração de software seja especificado, projetado, construído, testado, avaliado, medido e controlado, garantindo a efetiva aplicação das demais técnicas.

Uma plataforma de Gerência de Configuração assenta-se em quatro bases bem definidas (BUCLE, 1982):

 Identificação: todos os itens componentes de um produto de software devem ser adequadamente especificados e identificados. A forma destes itens pode variar ao longo das fases e da vida do projeto, desde uma ata de reunião, ou outro documento bastante informal de especificação, até o código fonte implementado e formal;

 Controle: a habilidade de obter consenso sobre os objetos de software e “congelar” o estado dos mesmos, só fazendo alterações, a partir daí, com a aquiescência de uma autoridade competente; este controle de mudanças permite que todos os fatores relevantes e os efeitos possíveis da mudança sejam considerados antes de autorizá-la;

 Acompanhamento do Status: o registro e relato dos dados atuais e históricos de um item de configuração;

 Verificação: a série de revisões e auditorias para garantir que existe conformidade entre um produto e sua apropriada identificação.

As técnicas básicas são aplicáveis a projetos de todos os tamanhos, e em todos os estágios do desenvolvimento e da produção de software. Entretanto, a forma na qual são aplicadas pode diferir bastante com o tipo do projeto e o tamanho da equipe e com o estágio do ciclo de vida do produto.

Um programador profissional irá normalmente aplicar estas técnicas ao seu trabalho de uma maneira quase automática. O que queremos é conseguir uma maneira de aplicar disciplina semelhante em projetos envolvendo mais de uma pessoa.

2.2 Linhas Base de Configuração de Software

O conceito de linha base (baseline) ajuda a resolver um dos problemas mais críticos do gerenciamento do desenvolvimento e manutenção