TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

Teoria inercial da inflação

Artigo: Teoria inercial da inflação. Pesquise 860.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  28/5/2014  •  Artigo  •  1.994 Palavras (8 Páginas)  •  290 Visualizações

Página 1 de 8

A Teoria da Inflação Inercial

O Brasil conviveu durante um período muito extenso com altas taxas de inflação, passando por inúmeras tentativas de combatê-las, com enfoques por vezes ortodoxos e também heterodoxos. Embora a classificação "ortodoxia" e "heterodoxia" seja bastante complexa com limites nem sempre muito definidos, pode-se dizer que, do ponto de vista ortodoxo, a inflação seria um processo amplamente dominado pelas expectativas, isto é, pelo reajuste dos preços da economia em função da inflação esperada, enquanto que os heterodoxos adotaram a noção de inflação inercial, a qual supõe que a inflação corrente é determinada pela inflação passada, independentemente das expectativas sobre a inflação futura e na ausência de choques inflacionários.

Os elevados índices inflacionários resultaram tanto de políticas governamentais quanto da conjuntura nacional e internacional. O período mais dramático foi a década de 80 do século XX, que chegou a ser caracterizada como “década perdida”, mas há episódios da década de 70 que foram cruciais para o desempenho da economia na década posterior.

Do ponto de vista da situação internacional, o que se destaca é que, por quase toda a década de 70, os Estados Unidos conviveram com tendência à desvalorização do dólar, já que o país combinava déficits na balança comercial e no Balanço de Pagamentos, desemprego e inflação. Contudo, o dólar só poderia ser desvalorizado de fato se todos os outros países concordassem em valorizar suas moedas em relação ao dólar (na época, o sistema adotado era o de taxas fixas de câmbio), ou seja, se os demais países não acompanhassem a desvalorização da moeda norte-americana. No entanto, muitos países não pretendiam valorizar suas moedas, porque isso tornaria seus produtos mais caros em relação aos produtos norte-americanos. Não obstante, durante a presidência de Richard M. Nixon, houve um acordo internacional para o realinhamento da taxa de câmbio em dezembro de 1971 no Smithsonian Institution, em Washington, D.C., e o dólar foi desvalorizado em relação às moedas estrangeiras em torno de 8%.

Ainda na década de 70, a eclosão da guerra entre Israel e os países árabes, em 1973, deu origem ao primeiro choque do petróleo. Os países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) passaram a aumentar o preço que cobravam de seus principais clientes, as grandes companhias petrolíferas. O choque do petróleo fez com que o consumo e o investimento diminuíssem em todos os lugares – a economia mundial entrou em recessão. Além disso, o aumento do preço do barril de petróleo fez com que os níveis de preços se elevassem na maioria dos países.

Para amenizar a recessão mundial, os Estados Unidos passaram a adotar políticas fiscais e monetárias expansionistas em 1974 e início de 1975, e, juntamente com a Alemanha, dispuseram-se a afrouxar os controles de capital que haviam estabelecido antes de 1974 (os quais haviam prejudicado o Brasil na obtenção de empréstimos).

A expansão vigorosa nos Estados Unidos e a estagnação nos outros países resultaram numa grande depreciação do dólar a partir de 1976, que durou até outubro de 1979, quando Volcker anunciou um enrijecimento da política monetária norte-americana e o Federal Reserve (Fed) adotou um controle mais restrito ao crescimento da oferta monetária. Além de contrair o crédito, o governo norte-americano decidiu elevar sua taxa de juros, o que aumentou o valor da dívida externa brasileira, além de encarecer novos empréstimos.

A atitude dos Estados Unidos provocou uma redução brutal da liquidez internacional, forçando os mercados financeiros internos dos países desenvolvidos a também elevarem suas taxas de juros, arrasando os países endividados da periferia. Em tais circunstâncias, todos foram obrigados a praticar políticas monetárias e fiscais restritivas.

Diante dessa situação, países latino-americanos tentaram resolver o problema mediante uma aceleração das desvalorizações cambiais e de elevação das taxas de juros, o que provocou uma realimentação inflacionária, uma ampliação da dívida pública interna e uma deterioração das relações de troca.

Os Estados Unidos conseguiram obter, simultaneamente, transferências de liquidez, de renda real e de capitais do resto do mundo e em particular dos países latino-americanos. Este ajustamento, comandado pela retomada da hegemonia norte-americana, obrigou o resto do mundo a uma sincronização sem precedentes das políticas. Exportar era a solução para todos, exceto para a economia dominante, que tinha como solução importar barato – os Estados Unidos estavam com moeda sobrevalorizada.

Além da política de juros norte-americana, o ano de 1979 também foi marcado pelo segundo choque do petróleo, o que fez com que os países desenvolvidos importadores de petróleo, bem como os países subdesenvolvidos, experimentassem uma inflação maior acompanhada de um crescimento mais lento.

Por todas essas peculiaridades do cenário internacional, o Brasil entrou na década de 80 com sérios problemas: falta de crédito internacional, elevada dívida interna e externa e elevação do patamar inflacionário. No entanto, alguns fatores internos também implicaram aumento da taxa de inflação: o período do “milagre econômico” da década de 70 teve como característica uma expansão monetária de 47%, que levou a um superaquecimento da demanda, à liberação dos controles de preços e à disseminação em larga escala da fórmula de correção monetária. Além desses fatores, a inflação também foi decorrente de uma estrutura de mercado oligopolista predominante tanto na economia brasileira quanto na mundial, levando-se em consideração a forte presença de empresas estrangeiras no Brasil e a recessão internacional já mencionada.

A concepção de que a inércia inflacionária era realmente um problema grave só começou a ser difundida após o primeiro choque do petróleo em 1973, durante o governo Geisel, quando a inflação chegou a 35% a.a. A inflação atingiu esse patamar em 1974 pela conjugação de três fatores:

1) o superaquecimento da demanda, no início do ano, resultante da expansão

monetária de 47% em 1973;

2) a liberação dos controles de preços também em 1973;

3) a quadruplicação dos preços do petróleo pela Opep, decretada em outubro de 1973, mas somente transferida aos preços internos em abril de 1974. Desde então até 1978 a inflação oscilou em torno da média de 37% a.a.

A inércia inflacionária provocada pela indexação foi reconhecida

...

Baixar como (para membros premium)  txt (13 Kb)  
Continuar por mais 7 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com