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A MARÉ ROSA SUL-AMERICANA E A ASCENSÃO DA ESQUERDA NO BRASIL

Por:   •  1/9/2016  •  Artigo  •  3.618 Palavras (15 Páginas)  •  561 Visualizações

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A MARÉ ROSA SUL-AMERICANA E A ASCENSÃO DA ESQUERDA NO BRASIL

THE SOUTH AMERICAN MARÉ ROSA AND THE RISE OF LEFT IN BRAZIL

Resumo: Este trabalho tem por objetivo discutir a ascensão de governos postuladores da social-democracia na América do Sul, nos anos 2000, tomando o Brasil como objeto de estudo e exemplo paradigmático dessa inflexão política. A partir de uma perspectiva economicista, o fenômeno conhecido como Maré Rosa será tratado aqui como resposta a uma década de noventa marcada por um neoliberalismo extremamente custoso em termos sociais para o continente, levando a uma resposta conjuntural de rompimento com as políticas econômicas vigentes. Pretende-se mostrar que a crise cambial brasileira de 1998-99 contribuiu para abrir espaço a um novo pensamento político na sociedade brasileira e, consequentemente, a uma nova práxis política.

Abstract: This work discusses the rise of social democratic governments in South America in the 2000`s using Brazil as a benchmark in the study of this political transformation. From an economic perspective, the phenomenon known as Maré Rosa will be treated here as a response to a socially costly neoliberalism in South America. The immediate result was a general response from the region causing the change of the economic policies of the nineties. This paper intends to present the Brazilian currency crisis between 1998-99 as it gave an opening to a new political way of thinking in Brazilian society and, as a consequence, to a new political reality.

Palavras-chave: América do Sul, social-democracia, Brasil, Partido dos Trabalhadores, crise cambial.

Keywords: South America, Social democracy, Brazil, Partido dos Trabalhadores, exchange rate crisis.

INTRODUÇÃO

        Ao analisar a realidade política da América do Sul atual não há como deixar de notar a tendência dos últimos governos do início do século XXI de chegada ao poder de partidos e líderes de esquerda, nos seus mais variados graus e dotados das mais diversas agendas, reunindo a característica comum de um sentimento antiliberal. Esse fenômeno de ascensão de uma nova classe política ao executivo federal na maior parte dos países da América do Sul, quebrando uma tendência de décadas de governo da direita tradicional, levou ao que alguns autores como Francisco Panizza denominaram de Maré Rosa[1].      

Esse  conceito aplicado à realidade sul-americana tem como inspiração a chamada Onda Rosa, caracterizada pela ascensão de governos da denominada Terceira Via - especialmente, na Europa dos anos noventa - sucedendo a governos de orientação conservadora, ao mesmo tempo em que buscavam uma reformulação da social-democracia, ajustada ao neoliberalismo. A definição desse novo conceito revela a transformação da esquerda sul-americana, adicionando-lhe um caráter menos radical e, por isso, não podendo ser caracterizado como uma maré vermelha. Entretanto, a análise da conjuntura atual sul-americana leva a crer que essa tendência não seja apenas uma maré temporária, mas uma realidade de prazo mais longo, especialmente ao levarmos em conta a tradição ideológica da região, mais adepta à intervenção estatal na economia, desde o período da industrialização por substituição de importações, formando um pensamento coletivo mais estatista do que liberalizante.

Será defendido nesse trabalho que um dos fatores que mais contribuíram para essa inflexão política na virada do milênio foi o descontentamento com a política neoliberal da década anterior, uma década de altos custos sociais e políticas econômicas impopulares de austeridade, ainda agravadas por crises pontuais como a crise cambial brasileira, em 1998, e a crise na Argentina, em 2001. Ambas abarcaram as maiores economias sul-americanas e membros fundadores do Mercosul, sendo a ascensão da Maré Rosa imediatamente posterior a um período de estagnação econômica na América Latina entre 1998 e 2002, denominada de meia década perdida, devido à retração econômica e transferência de capitais.

Com a queda do muro de Berlim, em 1989, o avanço do capitalismo tendo o modelo norte-americano como paradigma de desenvolvimento econômico levou a uma tendência conjuntural nas economias ocidentais de seguir o modelo de capitalismo liberal. Havia quase que um consenso entre líderes mundiais e parte da população de que esse era o modelo mais eficiente, especialmente para economias periféricas que ainda buscavam seu desenvolvimento. Para isso, é necessário lembrar a influência do Consenso de Washington (1989) ao produzir uma cartilha de políticas macroeconômicas ortodoxas[2] a serem aplicadas pelos países periféricos com objetivo de estabilização econômica e inflacionária, pavimentando o caminho para um desenvolvimento que nunca chegou por essa via. Tais medidas foram aplicadas em maior ou menor grau por cada governo, mas gerando insatisfação popular de uma forma geral apesar de haverem sido aplicadas em um período democrático, com respaldo popular e forte influência internacional.

Por quase toda a América do Sul, esse período foi marcado por um rígido controle inflacionário a partir de políticas fiscais e monetárias restritivas, forte abertura econômica e financeira, obtendo-se um êxito econômico a curto prazo em alguns países, a partir de planos de estabilidade econômica, como no Brasil e na Argentina. Porém, a médio e longo prazo, as conseqüências foram bastante negativas: aumento da dependência ao capital estrangeiro, enfraquecimento da indústria nacional, aumento do déficit público interno e externo, balança comercial deficitária, aumento do desemprego e do trabalho informal. Tais conseqüências se deram de forma muito mais agravante nas economias periféricas sul-americanas do que nos países desenvolvidos que também adotaram a cartilha liberal. Por isso, se faz importante discutir aqui algumas características estruturais do desenvolvimento capitalista da América do Sul.

CARACTERÍSTICAS ESTRUTURAIS  DA INDUSTRIALIZAÇÃO SUL-AMERICANA

        

        Utilizando o termo de Albert Hirschman, a indústria latino-americana se caracterizou por ser late-late comer[3] ou tardia mais retardatária. Isto é, não se desenvolveu nem na primeira fase do capitalismo industrial, no final do século XVIII, nem na industrialização posterior das novas economias industriais como Alemanha, Japão e Itália  - late-comers – na segunda metade do século XIX. Dessa forma, a posição duradoura de colônia na economia internacional deu aos países da América Latina características estruturais comuns no que se refere ao desenvolvimento do capitalismo.

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