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A questão judaica em Viena

Por:   •  24/9/2018  •  Trabalho acadêmico  •  1.628 Palavras (7 Páginas)  •  176 Visualizações

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Universidade de Brasília

IREL – Instituto de Relações Internacionais

História das Relações Internacionais Contemporâneas

Docente: Pio Penna Filho

Discente: EMANUEL LUCAS XIMENES LEAL

Ensaio sobre "O Legado da Questão Judaica no Congresso de Viena"

Tratar da questão judaica a partir do que se moldou na Europa com o Congresso de Viena não faria sentido sem se considerar fatos anteriores, especialmente conquanto à influência que Napoleão exerceu no continente pelos ideais da Revolução Francesa, tendo como marco histórico 1789, os quais, determinaram a ocorrência do evento.

Napoleão não apenas expandiu territórios em suas conquistas, mas difundiu ideais. Ideais estes que marcaram e influenciaram mentes, povos e culturas, que culminaram com o sentimento de cidadania dos contemporâneos Estados-nação. Foi um poder muito mais efetivo, inclusive para sua própria derrocada, que suas empreitadas militares, poder esse que não visualizou ou por ventura subestimou.

Povos que anteriormente não se viam como cidadãos, com seus direitos respeitados, como detentores de poder de transformação, se viram empossados de uma nova dinâmica e desejo de autodeterminação. Com os ideais de liberdade e igualdade, em essência civil-jurídica, como constituintes de um conjunto de nacionais, percebeu-se a importância desse conjunto de valores compartilhados para a ação política, tanto de ordem interna como externa.

Porém, com a derrota de Napoleão e a tentativa de reestabelecimento da ordem anterior vigente pelas potências vencedoras (Grã-Bretanha, Áustria, Prússia e Rússia) e um apanhado de outros Estados, definiram no Congresso como se daria a ordem internacional na Europa, inclusive com anseio de mitigar os ideais de liberdade e igualdade para todo o povo dos Estados. Mas isso não seria aceito por muitos povos após experimentarem um certo nível de cidadania, ao molde francês, o que levou a diversos levantes no continente com estopim em 1848, a Primavera dos Povos. Essa experiência de preocupação e descontentamento ocorreu também com os judeus, tema deste trabalho.

No redesenho das fronteiras e do poder durante o congresso, diversas delegações judaicas de toda a Europa participaram a fim de garantir os direitos conquistados na era napoleônica: manter sua emancipação. Isso se dava, no caso judaico, de uma cultura e ação histórica cristã contra os judeus, que se mantinha, e que com o congresso, com determinada influência religiosa, poderia tender ao recrudescimento dessa garantia, caso de maior atenção nas nações com povo germânico, a exemplo de Áustria e Prússia.

A preocupação não era infundada. Em Viena a população judaica crescia, ao passo que famílias “toleradas” aumentavam, dada sua importância econômica. Somente em 1811 conseguiram obter autorização local para criar uma Betstube, ou sala de orações, o que era proibido, pois desde 1671 não se permitiam templos não católicos, salvo escondidos da rua, e somente em 1824 puderam construir uma sinagoga.

Influência da Igreja no Congresso...

Em Viena isso se refletia de forma bastante contundente, a julgar por também ser o local das reuniões, pois “apesar das discriminações medievais que ainda vigoravam sobre os judeus vienenses, alguns deles, devido à sua riqueza e cultura, eram tidos em altíssima consideração pelas elites européias. Durante o Congresso, os Rothschilds, Arnsteins, Eskels, von Herz e Itzongs abriram seus salões para os participantes do Congresso, levantando a questão judaica junto a seus freqüentadores. Os salões culturais de anfitriãs judias, como Fanny von Arnstein e sua irmã, já eram famosos endereços freqüentados pelas elites européias, inclusive por José II, imperador da Áustria” (MORASHA, 2015)

Destaque importante nesse intento teve Metternich , que sob influência de Salomon Rothschild, barão austríaco, demonstrou apoio à causa judaica. Mas sofrendo forte oposição, terminou o congresso sem uma solução contundente, apesar das declarações de ______________________, e com a criação da Confederação Germânica presidida pela Áustria dos autoritários Habsburgos, que indicavam objeção à resolução efetiva da causa com uma reforma. Os judeus saíram perdendo.

Nas décadas seguintes ao congresso surgiu um movimento conservador nacionalista germânico com fortes laços religiosos cristãos, se utilizando de caráter racional e teórico, e que alcançou adeptos na população, fomentando assim o antissemitismo e agressões, como restrições e tributação diferenciada, que culminou em pogroms, a exemplo de 1819.

Dada falta de igualdade frentes aos demais austríacos, em 1848, judeus vienenses abraçaram a causa revolucionária espalhada pela Europa, a fim de solucionar questões como cidadãos austríacos e de sua condição enquanto povo judeu, tendo líderes no movimento, como Adolf Fischhof e Ludwig August. Nesse intento “o imperador Fernando I é obrigado a aceitar o parlamentarismo e uma Constituição, que reconhecia os direitos iguais e a liberdade de credo a todos os cidadãos”, todavia o movimento contrarrevolucionário absolutista fez com que Fernando I abdicasse em nome de seu filho Francisco José suspendendo as reformas.

Porém, mesmo com a ad-rogação quanto às discriminações contra judeus, se permitiu a liberdade religiosa, além de “alguns direitos, entre os quais a autorização para formar sua própria comunidade religiosa e, em 1860, a permissão aos judeus da Baixa Áustria para adquirir propriedades. Finalmente, em 1867, quase um século após a Revolução Francesa, os judeus do império austro- húngaro são emancipados.”

Como em todo discurso histórico, há sempre o problema quanto à apreensão do que seria real e quanto às fontes, pois muitas delas estão a cargo daqueles que detém o poder e controle delas, especialmente as “oficiais”, criando monumentos linguísticos que se perpetuam como verdades em função do presente e de um projeto vigente, e que somente outras fontes, podem elucidar um caminho diferente para perspectivas de diversas retóricas.

Por isso a literatura pode se tornar uma fonte importante para se conhecer fatos e ações tidos por muito tempo como marginais, mas que demonstram a realidade de outras perspectivas. Para a situação judaica resultante de 1815 para as sociedades germânicas no período, a obra Die Judenbuche (A faia dos judeus), uma novela de Annette von Droste-Hülshoff, publicada em 1842

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