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Alguns pensamentos sobre o cinema brasileiro dos anos 1930

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Por:   •  9/11/2014  •  Resenha  •  2.030 Palavras (9 Páginas)  •  390 Visualizações

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Algumas considerações sobre o cinema brasileiro da década de 1930

Este texto foi originalmente publicado no catálogo da 5. CineOP, realizada em junho de 2010, em Ouro Preto, que sediou o 5. Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais Brasileiros.

Em relação ao cinema brasileiro, a década de 1930 representa um recorte cuja justificativa possivelmente pode ir além da mera convenção cronológica. De fato, trata-se de um período que pode ser apropriadamente demarcado por momentos-chave ocorridos tanto no final da década de 1920, quanto no início dos anos 1940.

Por um lado, temos em 15 de março de 1930 a fundação da Cinédia, através dos investimentos pessoais de Adhemar Gonzaga. Com o relativo êxito de seu Barro Humano (1929) – realizado com parcos recursos por uma equipe de jovens amadores que se reunia aos fins de semana para as filmagens –, Gonzaga teve argumentos para convencer seu pai a lhe prover o que representou um montante até então inédito no cinema brasileiro, permitindo a construção física de estúdios, a importação de equipamentos modernos e a constituição de um corpo fixo de profissionais. A Cinédia marca, portanto, o início da “era dos estúdios” no cinema brasileiro, passando a ter ainda a companhia, ao longo dos anos 1930, da Brasil Vita Filme, da atriz Carmem Santos, e da Sonofilms, do empresário Alberto Byington Júnior.

Entretanto, o final dessa década encontraria as três empresas em crise. As instalações da Sonofilms foram destruídas por um incêndio em 1940, durante a montagem de Asas do Brasil, de Raul Roulien, cujos negativos e cópias foram queimados; a Brasil Vita Filme permanecia desde 1938 mergulhada na longa e atribulada produção de Inconfidência Mineira, que se arrastaria até 1948; a Cinédia, diante da crise financeira, via-se obrigada a interromper sua produções para alugar seus estúdios tanto para filmes brasileiros independentes – comoDireito de pecar (dir. Leo Marten, 1940), lançando o locutor-galã César Ladeira no cinema – quanto para bem-vindas produções estrangeiras – É tudo verdade (It's All True, dir. Orson Welles), da RKO. Foi justamente em 1941 que seria fundada a Atlântida Cinematográfica, que mesmo só lançando seu primeiro longa-metragem dois anos depois – Moleque Tião (dir. José Carlos Burle, 1943) –, suplantaria a Cinédia em popularidade e volume de produção já em meados dos anos 1940.

O início da década de 1930 também é lembrado pelo advento do som, mudança tecnológica responsável por uma ruptura que, se por um lado determinou o fim dos focos de produção de filmes silenciosos em diversos pontos do país (os chamados ciclos regionais), por outro alimentou a vã esperança de que o cinema brasileiro finalmente se afirmaria em seu próprio mercado por conta da língua brasileira. A passagem do filme silencioso para os chamados talkies se deu de forma lenta e gradual no mercado brasileiro e apesar da comentada exibição do “vitaphonizado”Alta Traição (The Patriot, dir. Ernst Lubitsch) na inauguração do Cine Paramount, em São Paulo, já em abril de 1929, a conversão do circuito exibidor para o cinema sonoro se daria de forma mais acentuada somente entre 1932 e 1934, com a consolidação da legendagem como procedimento padrão adotado no país.(1) Data daí o último suspiro das produções silenciosas brasileiras – um “colapso quase tão radical quanto o de 1911 ou de 1921”, nas palavras de Paulo Emílio Sales Gomes (2) – e a diminuição do número de filmes brasileiros lançados anualmente, que passariam a se restringir quase que exclusivamente à produção dos estúdios cariocas até o final dessa década.

De forma semelhante, a passagem para a década de 1940 é também, ao mesmo tempo, um momento de crise e de esperança para o cinema brasileiro. Com o início da guerra na Europa (1939) e o posterior envolvimento dos Estados Unidos (1941) e do Brasil (1942) no conflito mundial, o mercado cinematográfico brasileiro sofreria consequências as mais diversas. Por um lado, gradativamente sumiriam das telas brasileiras os filmes europeus, enquanto a produção americana que chegava às salas do nosso país seria francamente criticadas por sua baixa qualidade em decorrência do esforço de guerra. Considerava-se estar vivendo, portanto, uma grande chance para os produtores brasileiros aproveitarem tanto a ameaçada escassez de cópias de filmes estrangeiros para atender ao circuito exibidor, quanto a momentânea rejeição do público aos lançamentos correntes, finalmente sendo possível fazer deslanchar a almejada indústria cinematográfica brasileira, de forma semelhante ao que ocorria então, por exemplo, com a siderurgia nacional. Porém, a guerra também representou escassez de filme virgem, insumos laboratoriais e equipamentos cinematográficos no mercado brasileiro, e os problemas estruturais que afetavam o cinema nacional não seriam superados tão facilimente apesar do otimismo.

Quando se procura pensar na memória do cinema brasileiro da década de 1930, devemos lembrar de alguns fatores. Em primeiro lugar, esse período ainda se localiza durante era do suporte de nitrato de celulose, quando as películas cinematográficas eram marcadas por sua alta inflamabilidade – sujeitas até à combustão espontânea – em decorrência da instabilidade química dos materiais e de seu armazenamento em locais e condições pouco aconselháveis. Desse modo, grande parte dos filmes produzidos nesse período infelizmente se perdeu em graves e não raros incêndios, geralmente ocorridos durante o verão em depósitos fechados ou mal-ventilados. Praticamente toda a produção da Sonofilms até 1940, incluindo o grande sucesso de comédia musical Banana da Terra (dir. Ruy Costa, 1939

A Cinédia foi talvez um dos únicos grandes estúdios brasileiros a não sofrer com o fogo em suas próprias instalações, por isso, grande parte do que ainda existe do cinema brasileiro da década de 1930 seja representado pelos filmes dos estúdios de Adhemar Gonzaga, como Lábios sem beijos (dir. Humberto Mauro, 1930), Ganga Bruta (dir. Humberto Mauro, 1933), Alô! Alô! Carnaval (dir. Adhemar Gonzaga e Wallace Downey, 1936), Bonequinha de Seda (dir. Oduvaldo Vianna, 1936), Samba da Vida (dir. Luiz de Barros, 1937), Maridinho de luxo (dir. Luiz de Barros, 1938) ou Alma e corpo de uma raça (dir. Milton Rodrigues, 1938), entre outros. Mas mesmo a Cinédia também sofreu perdas inestimáveis, como as de Alô, Alô, Brasil! (dir. Wallace Downey, 1935) e Estudantes (dir. Wallace Downey, 1935), os dois primeiros filmes do estúdio com a estrela Carmem Miranda cujos materiais se deterioraram ainda na década de 1940.

A tecnologia do chamado sound-on-disk – que viria

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