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Analise Do Artigo De Pedro Albuquerque

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Por:   •  22/3/2015  •  991 Palavras (4 Páginas)  •  242 Visualizações

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Seriam os taxistas mais capazes de fazer um discurso inteligente que os intelectuais?

Autor Pedro Albuquerque

É impossível fazer uma viagem de táxi num país latino sem que motorista ofereça lições gratuitas sobre economia, política e como lidar com o sexo oposto. A memorável cena com Roberto Benigni no filme Uma noite sobre a Terra, de Jim Jarmusch, onde um padre é atormentado tanto pelas aventuras narradas pelo taxista quanto pela sua navegação imprudente pelas estreitas ruas de Roma, documenta o fenômeno com precisão.

Durante minha última viagem à França, indubitavelmente um país latino, dois interlocutores taxistas me ofereceram suas reflexões sobre a condição humana. Coincidentemente, ambos apresentaram uma visão do mundo muito mais penetrante do que a da grande maioria dos intelectuais.

Seus argumentos algumas vezes seguiam pelo caminho do populismo econômico, como explicarei em breve. Ainda assim, durante a maior parte do tempo, os taxistas demonstraram admirável bom senso, permitindo de fato que mantivéssemos uma conversação suficientemente interessante para – quem diria – servir como matéria para este artigo.

Vamos aos seus argumentos: durante a primeira viagem, descubro que o taxista falava inglês fluentemente e que havia vivido nos EUA durante os anos 1980. Ele me explicou como na França, diferentemente dos EUA, os imigrantes não vinham ao país para trabalhar e enriquecer. Ao contrário, teriam desenvolvido uma enorme rede de informações que lhes permitia sugar o sistema de bem-estar social francês até deixá-lo seco. Para ele, os EUA não teriam esse problema, e por isso eram uma potência econômica.

Ele não pôde conter seu desespero, entretanto, quando eu lhe expliquei que infelizmente os EUA já não eram mais o país de sua juventude, que o país adotava a passos largos os mesmos sistemas de desincentivo ao trabalho que existem na Europa. Sua resposta foi simples: “Eu sabia que esse Obama era um socialista imprestável!” Foi necessário que eu lhe lembrasse que o governo Bush também contribuiu para o fenômeno com sua política de conservadorismo comiserado (compassionate conservatism).

Seu discurso se aproximava perigosamente neste momento da xenofobia e do racismo (seriam os taxistas franceses eleitores de Jean-Marie Le Pen?), com um discurso que começava a mostrar o viés antiestrangeiro (anti-foreign bias) discutido por Caplan. Aproveitei o momento para lhe dizer que eu conhecia um jovem francês que, pulando de emprego em emprego, era capaz de usar o seguro desemprego para desfrutar das “belezas naturais” de certos países da região equatorial. Ele prontamente admitiu que os jovens franceses também abusavam do sistema. Neste ponto ele deixou claro que não era contra a imigração: ele respeitava todos imigrantes na França que desejavam assimilar a cultura local e que contribuíam para a economia francesa, da mesma forma como ele teria trabalhado duro como imigrante nos EUA, e o problema seria fruto acima de tudo dos maus incentivos criados pelo governo francês. Touché! Neste ponto tive comprovação de que o viés antiestrangeiro que Caplan considera tão persistente pode às vezes ser moderado com o uso de bons argumentos.

O segundo taxista, um senhor à beira da aposentadoria, me disse, ao saber que eu vivia nos EUA, que ele se chamava Truman, nome que seu pai lhe deu em 1948 após ter emigrado da Grécia para escapar da ameaça comunista. Ele falou também sobre as mazelas do estado de bem-estar social francês, mas foi além e disse que tinha certeza de que o desperdício de recursos promovido pelo sistema fará com que seus três filhos sejam incapazes de obter uma boa aposentadoria como a que ele obterá em breve. “Ao diabo com esses comunas e socialistas!”, repetia indignado. Imagino que a vitória dos socialistas e verdes nas últimas eleições regionais francesas tenha afetado para pior

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