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Fichamento O Príncipe Nicolau Maquiavel

Trabalho Escolar: Fichamento O Príncipe Nicolau Maquiavel. Pesquise 860.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  27/3/2015  •  5.953 Palavras (24 Páginas)  •  3.828 Visualizações

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Carta de Maquiavel a Francisco Vettori

Maquiavel inicia a carta para seu grande amigo salientando sua preocupação com a ausência de correspondências e diálogos com este. Maquiavel demonstra grande afeição ao saber que o amigo torna a progredir em um cargo de seu interesse, fato importante para qualquer ser humano, já que Maquiavel diz que quem deixa de seguir seus objetivos para agradar a outros perde um o conforto e a própria felicidade . Entre algumas lembranças e a disposição da carta, 0Nicolau relata um pouco da rotina que vem seguindo ao amigo. Manifesta, nesta carta, sua preocupação com a obra O Príncipe, temia que alguns não tivessem contato com esta, e que outros pudessem aproveita-se da obra de maneira imoral. Admite que estudou o Estado ao longo dos anos em que esteve afastado de certa vida pública e que retorna á cena governamental com esta obra. Finalizando a carta, pede a opinião do caro amigo Francisco Vettori a quem escreve, e pede-lhe que se certifique e tenha contato com a obra que apresenta.

Carta de Nicolau Maquiavel a Lourenço de Médici

Maquiavel, em breve carta a Lourenço, oferece o livro O príncipe como forma de presentear O Magnífico e seu filho, membros de visível importância no cenário a que pertencia, sendo este um presente que foge dos padrões. A busca pelo agrado ao rei ou aos membros de sua família se dava em forma de presentes de significativo valor, e nesta carta, Nicolau realça que não possuindo outra forma de presentear este com algo de valor extremado, dedica-lhe o presente da obra, sendo o acúmulo de conhecimento que ele usou para a escrita desse exemplar, em suas considerações, um presente grandioso e de valor tão estimado quanto os outros presentes que se costumam dar a um rei.

Capítulo I – De Principatibus (Sobre o Principado)

Generaliza as formas de governo existentes anteriormente e atualmente no contexto da época como sendo Repúblicas ou Principados. As formas de se atingir o poder constituem a forma hereditária ou por meios totalmente novos como o ganho do poder por intermédio de uma afeição ou contrato matrimonial, além dos jogos de poder e tomada de territórios e governos. A tomada do poder pode partir de um meio usualmente militar, ou por meio da virtude do príncipe (que seria o governador maior e figura principal de um governo). Para Maquiavel, virtude não é um significado comum, pode representar vários aspectos incluindo sorte, sabedoria, razão e até mesmo a capacidade de tomar uma decisão no, considerado, momento certo.

Capítulo II – De Principatibus Hereditariis (Sobre o Principado Hereditário)

Procurando não ater-se á República, trata do Principado unindo as formas de se conquistar um governo e mantê-lo ao mesmo tempo. Classifica os estados adquiridos por meio hereditário os mais fáceis de serem governados, acredita nessa tese, pois diz que para que haja sucesso na administração, o governante deve, somente, não desrespeitar e omitir o passado de seu governo. Conquistando o carisma de seu povo, um príncipe de ordem natural consegue mudar aos poucos o meio governamental, sendo que, se este príncipe não é condenado pelos seus vícios, ganha afeição do povo e consegue exercer seu poder com a naturalidade que possui.

Capítulo III – De Principatibus Mixtis (Sobre o Principado Misto)

Sendo um príncipe agregado, as dificuldades, como anteriormente citado serão maiores. Um governo local sofre câmbio quando os homens de seu território acreditam em uma reformulação e troca do principal governante, acreditando em condições futuras melhores cercando-se contra este que estava no poder. Credita como necessidade natural o fato de o governante ofender áqueles que formam sua província, perdendo o apoio futuro destes, e de seus agregados também. Perde com essas ofensas pois necessita do apoio provincial dos membros de seu território. Não agradando seu povo, Maquiavel deixa claro (usando exemplo inclusive) que o povo pode tirar o príncipe do poder quando se sentir insatisfeito com os resultados de sua administração.

A conservação do Estado que é concebido de forma hereditária se torna muito mais simples, a junção do meio cultural e a extinção dos antigos métodos do príncipe anterior resultam em sucesso na conquista desse príncipe posterior. Salientando, Maquiavel dita duas regras para aquele que adquirir um território totalmente novo, e desejar conservá-lo: O novo comandante deve extinguir todo e qualquer aspecto pertencente ao antigo príncipe, e a segunda regra se dá na não alteração dos meios sociais, sejam impostos ou leis, seguindo assim um meio de alinhar o antigo território com o novo, sendo o comando só daquele que o representa atualmente. O sucesso será garantido se as duas regras acima se aplicarem em um território anexado que pertença a um meio cultural semelhante e idioma igual ao de ser conquistador.

Caso o território possua bases culturais distintas, assim como idioma diferente, a unificação da conquista se dá de forma dificultosa, para Maquiavel, obter o sucesso neste caso dependerá de sorte e empenho do príncipe. Classificando como solução para a conservação do novo território, Nicolau sugere que o príncipe passe a morar na província que conquistou, criando bases seguras e sólidas para uma imediata ocupação, pois assim entenderia como aquele local funciona, entenderia sua administração. A proximidade do soberano para com o povo também é importante e cria uma relação amistosa, que contribuirá para uma conquista sadia. Como segunda opção para a criação de uma base sólida de poder, e não só conquistar, mas manter, seria fundar colônias, servindo como laços, e estabelecendo uma ordem sem gerar grandes custos ao príncipe. Diz que ao tomar uma província, deve-se cuidar daquelas que estão próximas. Proteger a província que tem destruir os outros poderes que se tem na sua província e cuidar para que outra base mais forte não ocupe a sua base. O apoio dos provinciais é de extrema importância.

Maquiavel cita o intenso e grandioso trabalho administrativo romano para com as províncias por eles conquistadas. Ofereceram entretenimento, causaram o mínimo impacto possível na administração local, não cederam a outros poderosos e constituíram laços de amizade, se é que se pode dizer assim, com os provinciais. O sucesso da administração romana se deu na preocupação com o futuro do Estado que conquistou, revertendo problemas futuros com naturalidade, e caso não se faça desta maneira, a chance de não se conseguir resolvê-los depois quando estiverem na iminência de ocorrerem será mínima. Usarei uma frase de Maquiavel presente nesta obra para exemplificar a importância de uma preocupação precoce:

“conhecendo-os antecipadamente, os males que surgem curam-se rapidamente”. Para um sucesso administrativo, uma boa relação, boas amizades são fundamentais para se conseguir apoio quando necessário. Cinco erros são listados em uma administração: Eliminar as potências menores, fortalecer o poder de uma outra potência, ceder a estrangeiro, não fundar colônias e não morar na província (não se estabelecer). Um dos maiores erros que se pode cometer se dá ao ceder o poder a outra entidade, sendo a potência a base para uma administração e esta resulta de muita aplicação e empenho e até mesmo, se necessário, uso da força.

Capítulo IV – Cur darii regnum quod Alexander occupaverat a successoribus suis post alexandri mortem non defecit. (Por que o reino de Dario que Alexandre havia conquistado, não se rebelou contra seus sucessores depois da morte de Alexandre).

Nos três breves capítulos iniciais, Maquiavel já mencionava a dificuldade de se administrar um estado conquistado analisando uma possível resistência nativa para com seu novo administrador. O assunto tratado neste quarto capítulo é o fato de que, após a morte de Alexandre, O Grande, os vastos e inúmeros territórios conquistados por ele foram conquistados por outros grandes chefes, e aparentemente, não houve uma resistência avassaladora por parte dos povos que habitavam esses locais, sendo até uma espécie de conformidade. Maquiavel lembra que os principados ou são governados por seu príncipe ou por alguns subordinados, seus servos, neste caso, quando o príncipe atua com seus servos o governo adquire um status de superioridade maior e o poder do príncipe é reafirmado cada vez mais. A exemplo do governo Turco, temos a figura de um senhor central que administra todo o reino, e outras repartições do poder, o que reafirma a figura do senhor como aquele que é central no poder. Um governo que possui uma só figura de poder é mais difícil de ser conquistado, mas é mais fácil de ser administrado. A dificuldade de conquistar o império Turco, por exemplo, se dá na lealdade destes para com um só senhor, uma só figura detentora do poder. Uma das fórmulas apresentadas por Maquiavel para derrotar o império Turco, e conquistá-lo, se dá da seguinte forma: Seria preciso derrotar as tropas deste exército, de modo que não restasse nenhum soldado sequer das tropas turcas. Para consolidar a tomada do poder, a extinção dos herdeiros é crucial. Eliminando os herdeiros, temos apenas os prepostos, ou seja, outras figuras administrativas como os senhores, visto que o rei já estaria morto, a tomada do poder seria fácil, sendo somente o rei a figura que apresentava prestígio e lealdade com seu povo e os prepostos apenas figuras administrativas sem crédito para com os seguidores do rei, a tomada do poder estaria garantida. Estabelecida uma nova administração, a figura centralizada do poder que estaria assumindo esse lugar ganharia destaque, consolidaria suas bases e poderia administrar seu novo território de forma calma e tranqüila, visto que assumiu uma figura já aceita anteriormente em outra tomada de poder.

Capítulo V – Quomodo administrandae sunt civitates vel principatus qui, antequam accoparentur, suis legibus vivebant. (Como se deve governar as cidades ou os principados que, antes de ser conquistadosm vivam sob suas próprias leis)

Ao conquistar um estado, o príncipe encontrará algumas dificuldades administrativas, como a busca pela manutenção deste visando que antes de sua chegada ao poder, neste território, já haviam leis que garantiam o funcionamento desta base. Para que um príncipe possa governar, ele tem três escolhas quando encarar o fato da existência dessas leis, sendo: aniquilar as bases de leis antigas deste povo, estabelecer-se nesse novo território, ou seja, morar nele, e fazer com que o povo continue seguindo suas leis antigas que antes regiam e podem continuar atuando nesse território, ao garantir que as leis continuem sendo as mesmas, o governante extrai tributos, surgindo uma oligarquia que apoiará o príncipe. Para se conquistar um governo que vive livre, é preciso destruí-lo. A lição que se aprende com esse capítulo é a de que a liberdade não é esquecida por um povo, uma vez que a conhece há o desejo por praticá-la e/ou retornar a viver no meio desta. O príncipe deve destruir qualquer base que remeta á liberdade e ás leis, deve estabelecer-se como o único e soberano, e estabelecer oligarquias para obter sucesso em sua conquista.

Capítulo VI – De principatibus novis qui armis propiis ET virtute acquiruntur (Novos principados conquistados com os próprios exércitos e virtuosamente)

Um príncipe deve seguir, e porque não, exemplos de grandes conquistas para se inspirar e conquistar seus territórios, não há risco de percorrer exatamente os mesmos caminhos que os outros conquistadores que lhes servem de inspiração, já que um homem não percorre a mesma trajetória de outro da mesma forma. Os príncipes que recebem um reino por meio de sua virtude possuem grande dificuldade para conquistá-los pois podem não ter grande experiência nesta ação, e devem se inspirar em outros grandes nomes para conseguir tal feito. Apesar da dificuldade para conquistar, administram facilmente. A dificuldade se dá, pois, na introdução de novas normas, sendo este um dos maiores desafio quando se fala em conquista de novos reinos.

Capítulo VII – De principatibus nvis qui alienis armis et fortuna acquiruntur. (Sobre principados novos que se conquistam com os exércitos e a fortuna de outrem)

Os que se tornam príncipes somente pela sorte têm dificuldade para manter o poder, embora tenham-no conseguido sem grandes dificuldades. A manutenção do poder ficará na dependência da mesma sorte que o levou a ele. Evidentemente que os Estados criados subitamente não têm raízes sólidas, de modo que são facilmente derrubados, a menos que o príncipe tenha virtudes. A solução é preparar os alicerces do poder antes de alcançá-lo, pois depois representará grande esforço e perigo. Para ser um príncipe e obter papel de destaque, o governante deve desalinhar-se da dependência da fortuna, e encontrar uma maneira de conseguir firmar-se no poder, não obtendo sua manutenção apenas por manter, o que no caso seria muito difícil e não seria feito com sucesso. Homens com uma vida sem bases públicas, ou seja, vidas não voltadas para o poder, não conseguirão obter a manutenção de seus reinos, pois é como se não o merecessem, visto que o conseguiram por sorte e não por uma conquista, por merecimento. Um homem, para governar, é preciso ser regado de virtude, pois assim saberá como agir em seu reino, saberá conservar sua fortuna e poderão construir bases sólidas em seus impérios pois saberão como fazer. Chegar ao poder dessa forma, é chegar despreparado, sem raízes; quem não cuidar de procurar se estabilizar, valorizar, tornar-se astuto, perderá o Estado. Ou no caso se é possível prever, se deve suprir essas carências bem antes.

Capítulo VIII – De his qui per scelera ad principatum pervenere. (Sobre aqueles que conquistam o principado por meio do crime)

Maquiavel trata daqueles que buscam manter o poder por meio da violência, sendo que em alguns casos, esses se tornam tiranos. Agátocles é o exemplo citado dessa forma de uso do poder, foi cruel muitas vezes em seu governo, provocou mortes e assumiu com excelência quando aniquilou as figuras mais fortes de seu estado, ou seja, os senadores e os grandes nomes. Usando métodos nada amestráveis, protegeu seu estado de invasões e conquistou territórios, tudo isso com base na investida militar. Chegou a tal ponto onde os próprios inimigos precisavam fazer negócios com ele. Maquiavel não considera essa tomada de poder como aquela conquistada pela virtude, pois não se encaixa no meio virtuoso a falta de piedade e a conquista por meio de uma violência avassaladora. Esses, segundo ele, “são modos que podem conquistar um Império, mas não a glória.” Para que se consiga manter-se no poder usando a violência, esta deve ser usada bruscamente e de uma só vez. O segredo é não insistir no uso da violência em seu estado. Esse é um exemplo de como a violência pode ser bem usada. Mal usada seria quando a violência é pequena no início da administração, e cresce gradualmente no governo. Os que usam a violência de um modo mal, não conseguem se manter no poder.

Capítulo IX – De principatu civili. (Sobre o principado civil)

Nicolau trata nesse capítulo da tomada do poder com apoio popular, assim o príncipe torna-se príncipe da pátria. Essa é a definição para o principado civil. Para atingir o ápice desse principado, não é necessária uma ampla virtude, e nem uma grande riqueza, a sim enorme astúcia. Há um impasse quanto á ordem no estado, sendo que temos o povo que não deseja sofrer com a atuação dos grandes, e temos os grandes que desejam impor seu poder ao povo, surgindo assim um certo conflito, o que gera três conceitos: ou o principado, ou a liberdade ou a desordem.

Explicando o principado temos: este é causado ou pelo povo ou pelos grandes, aquele que chega ao ápice do poder com a ajuda dos grandes terá maior dificuldade do que se chegasse ao poder com a ajuda do povo. O príncipe do povo é honesto para com o povo, porque os grandes querem oprimir, e como dito anteriormente, o povo não quer ser oprimido. O príncipe não deve abandonar o povo, pois esse é o pior castigo que o povo pode receber de seu comandante. O príncipe deve viver com o povo, governar os grandes e os pequenos, manter um laço de amizade com seu povo é essencial. Se tomar o poder com a ajuda dos grandes, o primeiro passo para o sucesso governamental se dá na formação de uma amizade com o povo, isso é essencial. Se o príncipe não mantiver um laço com seu povo, infelizmente, não conseguirá governar. Na visão de Maquiavel, governo civil é governo em que o cidadão se torna soberano pelo favor de seus concidadãos. A dificuldade é maior de manter-se no poder o Príncipe que chegou ao poder através da aristocracia do que o que chegou através do povo, pois a aristocracia se considera igual ao monarca, sendo que o soberano não pode assim dirigi-los ou ordenar em tudo que lhe apraz.

A aristocracia quer oprimir; e o povo apenas não quer ser oprimido. Quem chegar ao poder deve sempre manter a estima do povo, isso será conseguido o protegendo. O povo é quem está com o Príncipe na adversidade, quem o povo está com ele, é difícil derrubá-lo do poder.

Capítulo X – Quomodo omnium principatuum vires perpendi debeant. ( De que modo se devem medir as forças de todos os principados)

Uma terra bem fortificada, ou seja, o governo imposto de forma clara mas sem opressão, e a forma de governar como aquela em que o povo não é oprimido e o príncipe caminha lado a lado com o povo, não servindo aos grandes, será respeitado e conseguirá dar continuidade ao seu poder em seu estado. A proteção do local onde se governa é muito importante, o poderio militar é essencial, a comida deve ser suficiente para o povo, alimentar o povo em troca de um trabalho que irá gerar frutos é de grande importância. O segredo é ter uma cidade forte e o apoio do povo, assim ninguém irá lhe tirar do poder. O povo tem enorme influencia para definir o a força de um Estado; se o povo estiver ao lado do Príncipe , mesmo que um dominador consiga tomar o lugar do Príncipe , não se dará bem, pois o povo se levantará contra ele.

Capítulo XI – De principatibus ecclesiasticis. ( Sobre o principado eclesiástico)

Essa forma de governo é adquirida por fortuna ou por meio da virtude. Algumas antigas ordens da religião mantém esse sistema. São apenas uma base que gera o poder, tem súditos mas não governam, elas garantem que o príncipe continue no poder. Estados conquistados com o mérito ou com a sorte, porém estes não são necessários para conservá-lo, pois são sustentados por antigos costumes religiosos. Mesmo que chegue um dominador e tente colocar tal estado sob seu poder, se o povo se mantiver unido, este não obterá êxito . Os costumes são fortes e mantêm o povo unido. Mas mantém-se pela rotina da religião. Só estes possuem Estados e não os defendem, só estes possuem súditos e não governam e seus Estados, apesar de indefesos, não são arrebatados. Só esses principados são seguros e felizes, pois são protegidos por Deus.

Capítulo XII – Quot sint genera militia et de mercenariis militibus. ( Os vários tipos de exércitos e as milícias mercenárias)

Neste capítulo, Maquiavel discorre a cerca dos meios de ataque e defesa que podem ocorrer em um principado. As leis e o armamento, ou seja, a segurança de um principado são a chave principal para que o governo seja bem sucedido. Sendo, para ele, a mistura desses dois elementos a chave do sucesso para que se governe bem, pois onde há segurança, há leis, e onde há leis, há segurança. Os mercenários não são confiáveis, eles destroem o seu poder. As principais bases de um Estado são boas leis e boas armas. As forças que um príncipe dispõe para manter um Estado ou são próprias ou são mercenárias auxiliares, ou mistas. As mercenárias e auxiliares são inúteis e perigosas, pois não amam o príncipe apenas lutam com ele por dinheiro, o que não basta para que morram por ele. A base principal de um Estado são boas leis e bons exércitos. Há três tipos de tropas, são elas, próprias, mercenárias, auxiliares ou mistas. Sendo as mercenárias e as auxiliares prejudiciais e perigosas. Os soldados mercenários são covardes, seu único motivo pra lutar é o salário, que nunca é o suficiente para que morram pelo Príncipe numa batalha. São dispostos ao Príncipe em tempos de paz, mas ao chegar à guerra, o abandonam. Os mercenários pensam em si e no que vão ganhar, não no êxito do monarca. O melhor sempre é usar suas próprias armas. A vitória obtida através da força e armas alheias não é uma vitoria genuína.

Capítulo XIII – De militibus auxiliariis, mixtis et propiis. (Soldados auxiliares, mistos e próprios.

Quando um príncipe busca auxílio em questão de armamento para com militares de outro reino, é a mesma coisa que ter um armamento inútil a lhe auxiliar. São as chamadas “Forças Auxiliares”. Ao contemplar a ajuda destes, seria a mesma coisa que um atestado de que esse príncipe não quer vencer determinada batalha. As forças que supostamente oferecem ajuda são forças mercenárias. Ao ceder auxílio, vão ganhando espaço e fixando-se. Um príncipe sábio evita estas, e luta com aquilo que tem pois assim terá um derrota ou vitória verdadeira. Sendo que a vitória ou a derrota de uma batalha em que se foi necessário fazer uso de forças aliadas é considerada uma derrota. Um príncipe sábio sabe reconhecer os males de seu reino assim quando os mesmos nascem, em suas raízes. Um reino que não possui suas próprias armas e depende da aliança com forças estrangeiras, não está seguro. A fortuna garante uma mísera segurança para este, e como sabemos, a fortuna não garante o sucesso e a permanência de um reino. O maior símbolo de insegurança de um reino é a busca por alianças armadas com povos estrangeiros. Um reino forte é aquele que tem como base a força de seus próprios. As tropas auxiliares podem ser em si mesmas eficazes, mas são sempre perigosas para os que dela se valem. Isto ocorre porque, apesar de unidas, são obedientes a outrem, por isso não proporcionam conquistas. Assim, é preferível perder com tropas próprias a vencer com tropas alheias. Nas tropas mercenárias, o que é perigoso é a covardia; nas auxiliares a bravura. Príncipes prudentes preferem perder com suas tropas a obter uma falsa vitória com as tropas auxiliares, pois estas obedecem somente a outro poderoso.

Capítulo XIV – Quod principem deceat circa militiam. (Como o príncipe procederia com o exército)

Um príncipe deve manter um foco, estar sempre pensando em suas batalhas e na segurança de seu povo. A única arte que compete a quem comanda é a arte da guerra, e esse papel deve ser desempenhado pelo príncipe em questão. O principal motivo pelo qual um príncipe perde seu estado é distanciar-se desta arte. Um Príncipe sempre deve pensar na guerra, seu regulamento e disciplina. A guerra é tão poderosa que faz príncipes perderem o trono e transforma cidadãos comuns em príncipes. A guerra deve ser o objetivo ou o pensamento principal do príncipe, pois através dela um príncipe pode perder sua posição de soberano e também ela torna possível a homens comuns galgar a posição de soberanos. Estar desarmado, assim, significa perder a consideração, principalmente por parte dos soldados. Mesmo em tempos de paz não deve se afastar dos exercícios bélicos.

Capítulo XV – De his rebus quibus homines et praesertim príncipes laudantur aut vituperantur. (Sobre as razões pelas quais os homens, sobretudo os príncipes são louvados ou insultados)

São muitos os preceitos que temos sobre um príncipe, incluindo algumas qualidades e defeitos que são vistos por seu povo e analisados quando falamos em figuras de poder. Do meio cruel ao piedoso, do meio humano ao meio soberbo, do íntegro ao astuto, entre outros. Um príncipe deve escapar dos vícios, perdê-los e garantir o bem-estar. O príncipe deve se ater ao que se faz e não ao que deveria ter sido feito. Ainda, usar a bondade apenas quando e se necessário. Deve também ter prudência necessária para evitar escândalo provocado por vícios que poderiam abalar seu reinado e saber quais os que trazem como resultado o aumento da segurança e o bem-estar. Este capitulo trata de como um príncipe deve se comportar frente a seus súditos e amigos. Um príncipe, para se manter no poder deve aprender a ser mau. E utilizar ou não esse maldade de acordo com a necessidade vigente. Os príncipes são qualificados pelas qualidades que lhe acarretam reprovação ou louvor. Mas, um príncipe não deve se deixar levar por essa classificação, pois uma virtude se fosse aplicada lhe acarretaria a ruína e um defeito traz a um príncipe segurança e bem-estar.

Capítulo XVI – De liberalitate et parsimonia. (Sobre a liberdade e a parcimônia)

Ser considerado miserável, para Maquiavel, é algo bom. No entanto, é preciso cuidar com o modo como se usa a liberdade, pois o status desta pode cair ao contrário sobre você, não lhe trazendo o benefício esperado. O príncipe deve manter sempre um status de grandeza. A liberalidade, quando praticada de modo a ser vista por todos, prejudica o príncipe. Quem quiser ganhar reputação de liberalidade, despenderá de muita riqueza; no entanto, não deverá esbanjar de seus próprios recursos, pois isso trará prejuízo, o que não acontecerá se esbanjar a riqueza dos outros. Deve cuidar, ainda, para não ser tido como miserável. Note-se que para os que já são príncipes a liberalidade pode ser prejudicial, ao passo que para os que ainda não são e para os que vivem de roubo, ela se faz necessária.

Capítulo XVII – De crudelitate et pietate; Et na sit melius amari quam timeri, vel e contra. (Sobre a crueldade e a piedade: Se é melhor ser amado que temido ou o contrário)

Um príncipe deve preferir ser considerado um piedoso do que cruel, e deve usar essa piedade com sabedoria. A má fama de cruel, no entanto, não deve preocupar um príncipe, pois a crueldade torna um príncipe piedoso, mais piedoso até que aquele que tem a fama máxima de piedade. Deve proceder com prudência e humanidade seu reinado. Para Maquiavel, o desejável para um bom reinado seria se um príncipe fosse temido e amado ao mesmo tempo, mas como é realmente complexa a tentativa de alinhar esses dois conceitos, é preferível, para ele, ser mais temido do que amado. Um príncipe deve sempre proceder de modo a evitar o ódio em seu reinado. É preferível ser considerado clemente a ser considerado cruel, porém a reputação de cruel não deve incomodar se o objetivo for manter o povo unido e leal. Os mais novos no poder devem ter reputação de cruel, visto que os novos Estados oferecem muitos perigos. Não se deve ter medo, deve ter prudência, equilíbrio e humanidade, porém na opção entre ser amado e temido, o príncipe deve optar por ser temido; fazer-se temer, porém sem ganhar o ódio. Deve-se ainda manter tropas unidas e dispostas com fama de crueldade. Todo príncipe deseja ser tido como piedoso e não como cruel, mas deve empregar convenientemente essa piedade. Um príncipe temido é respeitado e a única coisa que ele deve evitar fazer é se tornar odiado.

Capítulo XVIII – Quomodo fides a principibus sit servanda. (De que modo manter a fé nas palavras do príncipe)

Louvável é a fidelidade de um príncipe fiel. Um príncipe deve saber usar a força e as leis. Um príncipe deve parecer ser piedoso, fiel, humano, íntegro e religioso. Se usar essas características em todas as suas ações, terá sucesso. Como seria bom se um príncipe mantesse sempre a palavra e vivesse com integridade e não com astúcia. Um príncipe prudente não pode nem deve guardar a palavra quando ela lhe é prejudicial, ou quando as causas que a determinam cessem de existir. O príncipe não precisa possuir todas as virtudes do mundo, basta a ele apenas aparentar possuí-las. Um príncipe, em especial um novo, deve aparentar ser todo piedade, integridade, lealdade, humanidade e religião, em especial este último. Todos vêem o que tu pareces, mas poucos o que és realmente e esses poucos não ousaram contrariar a opinião da maioria. Os príncipes que não respeitam a palavra podem superar os que respeitam; assim, o príncipe não deve agir de boa-fé se isso for contra seus interesses, por isso além de forte deve ser astuto. Não se faz necessário que o príncipe tenha qualidades, mas deve aparentar ter, principalmente a aparência de religiosidade. O príncipe deve evitar se desviar do bem e praticar o mal se necessário.

Capítulo XIX – De contemptu et odio fugiendo. ( Sobre evitar o desprezo e o ódio)

Evitando o ódio em seu reinado, o príncipe governará com naturalidade e não encontrará obstáculos em sua jornada. O príncipe deve evitar ser odiado e desprezado. O que mais faz o príncipe ser odiado é a usurpação dos bens e mulheres do súdito. Um homem esquece mais rápido uma morte do que a perda de um bem. Deve-se acautelar quanto aos súditos e as potências estrangeiras. A situação interna permanecerá tranqüila se não for perturbada por conspirações e um dos mais poderosos remédios contra as conspirações é não ser odiado pela massa popular; o conspirador acredita sempre que a morte do soberano satisfará o povo. Assim, o príncipe, embora não possa evitar de ser odiado por algumas pessoas, deve buscar em primeiro lugar evitar o ódio das massas e se não conseguir, evitar o ódio dos poderosos. Para não ser desprezado o príncipe deve evitar ser volúvel, leviano, efeminado, pusilânime, irresoluto. Ele deve procurar passar em seus ações grandeza, coragem, gravidade e fortaleza. O príncipe que conseguir formar tal opinião sobre si adquire grande reputação; e contra quem tem reputação não se conspira ou ataca. Um príncipe deve ter receio das conspirações internas e dos distúrbios externos criados pelos poderosos.

Capítulo XX – Na arces et multa alia quae cotidie a principibus fiunt utilia na inutilia sint. ( Sobre a utilidade e a inutilidade das fortalezas e de outras práticas cotidianas dos príncipes)

Em busca de manter suas bases, muitos príncipes tiraram o poder de alguns de seus súditos e outros repartiram suas terras, criaram inimizades e não foram fiéis ou dignos de respeito. Se armares seus súditos, estarás armando a ti mesmo, estará criando uma fidelidade em seu reino e estabelecendo uma confiança com eles. Se um príncipe desarmar a população, ele ofenderás a todos, mostrando que não confia neles. E isso criará ódio contra o príncipe. E este príncipe será obrigado a recorrer a tropas mercenárias. Mas quando um príncipe conquista um novo Estado e o anexa aos seus domínios, então nesse caso é necessário desarmar o Estado conquistado, exceto aqueles que te ajudaram na conquista. O príncipe não pode desarmar seus súditos, pelo contrário, estando eles desarmados, deve armá-los, pois esses braços armados pertencerão ao monarca. Além do mais, desarmar os súditos pode ofendê-los. O desarmamento deve ocorrer apenas no caso de anexação. Note-se que quando o inimigo se aproxima, a fração mais fraca aderirá a ele. Superar oposições e inimizades gera e incrementa a grandeza. O autor destaca que o príncipe que temer aos seus súditos deve construir fortalezas, no entanto, mais vale a amizade e a estima dos cidadãos, que fortalezas.

Capítulo XXI – Quod principem deceat ut egregius habeatur. ( Como convém ao príncipe agir para que seja estimado)

Um príncipe deve servir como aquele que dá exemplos. Deve ser verdadeiro, sendo ou verdadeiro amigo ou verdadeiro inimigo. Nunca deve ser sujeito de neutralidade. Deve amar as virtudes e incentivar seus homens a tê-las. O príncipe deve ser estimado, dar grandes exemplos e prometer grandes empreendimentos. Deve procurar em todas as suas ações conquistar fama, grandeza e excelência, ser amigo ou inimigo declarado, evitando a neutralidade. Devem, também, demonstrar apreço pelas virtudes, dar oportunidade aos mais capazes e honrar os excelentes em cada arte, além de incentivar os cidadãos a praticar pacificamente sua atividade. Se o lado que o príncipe apoiar perder, as coisas continuarão como estão e o perdedor ficará em débito. Se ganhar também terá obrigações a cumprir como forma de agradecimento. Um príncipe nunca, em caso de necessidade, deve fazer aliança com um mais poderoso que ele, pois se ganhar ficará a mercê do que te ajudou.

Capítulo XXII – De his quos a secretis príncipes habent. ( Sobre os conselheiros do príncipe)

Uma questão de grande importância em um reinado de um príncipe é a escolha daqueles que vão ajudá-lo a manter esse império. Para que um ministro seja considerado bom, ele deve pensar primeiramente no príncipe e depois em sua própria pessoa. O ministro deve honrar o príncipe e enriquecê-lo. Homens eficientes e fiéis, que compreendam as coisas por si só. Evitar os ministros ruins, ou seja, aqueles que se preocupam mais consigo mesmo.

Capítulo XXIII – Quomodo adulatores sint fugiendi. ( Como evitar os aduladores)

Um príncipe deve prezar a verdade, mas a verdade deve ser dita com prudência. Não são todos os que podem e dever dizer a verdade ao príncipe, os que devem fazer isso são aqueles que foram confiáveis para tal função de assessoria a este. As cortes estão cheias de aduladores e um príncipe prudente deve saber como se defender deles. O único modo de se defender é o príncipe deixando claro que lhe dizer a verdade não o ofende. Mas quando todos dizem a verdade, faltar-te-ão ao respeito. Então o príncipe deve escolher em seu Estado homens sábios e só estes tem o direito de te dizer a verdade e somente das coisas que lhe perguntar. O príncipe deve consultá-los e ouvi-los, então depois deliberar como bem entender. Mas nunca deve voltar atrás nesta deliberação ou será arruinado.

Capítulo XXIV – Cur italiae príncipes regnum amiserunt. ( Por que os príncipes italianos perderam seu reino)

Os príncipes da Itália perderam seus Estados pelas falhas nas armas, por serem hostilizados pelo povo e por não terem neutralizado os grandes. Estes senhores italianos perderam seus principados hereditários pela própria indolência, pois não se preocuparam na bonança com os períodos de tempestade, e quando este chegou eles fugiram e não se defenderam. Um príncipe recente é muito mais vigiado que um hereditário, mas se ele mostrar muitas virtudes, será seguido por muito mais homens do que um príncipe de sangue.

Capítulo XXV – Quantum fortuna in rebus humanis possit, et quomodo illi sit occurrendum. (Em que medida a fortuna se apodera das coisas humanas e como agir, caso isso ocorra)

Não se deve deixar que o acaso decida; basear-se apenas na sorte pode trazer a ruína quando esta mudar. Deve-se agir de acordo com as circunstâncias. Cada época e cada lugar requerem um caminho diferente a seguir para alcançar determinados objetivos; assim, mudança de circunstâncias e tempos requer uma adequação para não trazer a ruína. Existe a idéia de que a providência divina é a responsável pelos caminhos de um governo e não há nada que o homem possa fazer para corrigi-las. E como não se pode fazer nada, que se deixe governar pela sorte. Entretanto, para Maquiavel a fortuna ou sorte é responsável por metade de nossas ações e como temos livre arbítrio somos os responsáveis pela outra metade. E a fortuna apenas se manifesta onde não há resistência organizada. Um príncipe que se apóia somente na fortuna, tende a variar segundo ela no sucesso e no fracasso, pois a sorte não é uma constante.

Capítulo XXVI – Exhortatio ad capesendam italiam in libertatemque a barbaris vindicandam. ( Exortação a tomar a Itália e libertá-la dos bárbaros)

Maquiavel conclui sua obra clamando aos Médici que tomem o poder em toda a Itália. Para o autor, a Itália chegou a um ponto de extremo caos e por isso necessita de um novo príncipe. Este novo príncipe que surgirá para colocar a Itália em ordem deve ser da família Médici. Estes seriam os redentores que protegeriam a Itália das constantes invasões estrangeiras e das lutas internas. Por fim, não há nada melhor do que erguer-se das ruínas para mostrar sua força e seu valor.

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