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Esta é a verdadeira mensagem de Paul para Timothy

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Por:   •  21/3/2014  •  Tese  •  3.241 Palavras (13 Páginas)  •  225 Visualizações

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Introdução

O Rev. Handley Moule confessou ter-lhe sido muito difícil ler a segunda carta de Paulo a Timóteo sem sentir as lágrimas brotarem nos olhos. Isso é compreensível, já que se trata de um documen¬to humano bastante comovedor.

Imaginemos o apóstolo Paulo, já idoso, definhando numa masmorra escura e úmida em Roma, de onde não deverá sair, a não ser para a morte. O seu trabalho apostólico está concluído, tan¬to que ele pode dizer: "completei a carreira". Agora, no entan¬to, compete-lhe tomar providências para que, depois da sua par¬tida, a fé seja transmitida sem se contaminar, genuína, às gerações futuras. Assim ele dá a Timóteo esta soleníssima missão. Ca¬be-lhe preservar, a qualquer preço, o que recebeu, e transmiti-lo a homens fiéis, que por sua vez sejam também idôneos para ensi¬nar a outros (2:2).

Para bem captar a mensagem da carta e sentir todo o seu im¬pacto, é necessário entender a situação no contexto em que foi escrita. Há quatro pontos a considerar.

1. Trata-se de uma genuína carta de Paulo a Timóteo

A genuinidade das três epístolas pastorais foi quase que universal¬mente aceita na igreja primitiva. Alusões a elas possivelmente ocorrem na carta de Clemente de Roma aos coríntios, já no ano 95 d.C; provavelmente também nas cartas de Inácio e Policarpo, nas primeiras décadas do segundo século; e certamente ocorrem nas obras de Irineu, nos fins do século. O Cânon Muratório, que data de cerca do ano 200 d.C, atribui as três epístolas ao após¬tolo Paulo. A única exceção a este testemunho é a do herege Marcion, que foi excomungado em 144 d.C, em Roma. Mas Marcion tinha razões de ordem teológica para rejeitar esta (e outras) epístolas do Novo Testamento. Tertuliano mostrou-se surpreso por Marcion ter omitido as epístolas pastorais de seu cânon. Eusé¬bio incluiu-as, no século quarto, entre "as quatorze epístolas de Paulo", que "são conhecidas e claras (no tocante à sua autentici¬dade)", sendo a décima-quarta a epístola aos Hebreus, que alguns não aceitam ser paulina.

Este testemunho quanto à autenticidade das epístolas pasto¬rais permaneceu como uma tradição intacta até quando, em 1807, F. Schleiermacher repudiou 1 Timóteo e, em 1835, F. C. Baur re¬jeitou tanto 2 Timóteo como Tito. A partir de então, teólogos agruparam-se em cada lado desse debate, e assim as pastorais pas¬saram a ter fortes críticos e ardorosos defensores. Para uma crí¬tica esmerada, o leitor queira reportar-se à obra de P. N. Harrison, "The Problem of the Pastorals" (1921) e, para uma defesa da tra¬dicional autoria paulina, reporte-se aos comentários de William Hendriksen (pp. 4-33) e Donald Guthrie (pp. 12-52 e 212-228). Aqui estes assuntos podem ser só delineados.

A melhor maneira de começar é reconhecer que, no primeiro versículo de cada uma das três cartas, o autor faz uma clara e sole¬ne reivindicação de ser o apóstolo Paulo. Ele faz alusão também ao seu zelo perseguidor anterior (1 Tm 1: 12-17), à sua conversão e missão de apóstolo (1 Tm 1: 11; 2: 7; 2 Tm 1: 11) e aos seus sofrimentos por Cristo (p. ex.: 2 Tm 1: 12; 2:9-10; 3: 10-11). E ainda mais, a personalidade do apóstolo parece permear estas cartas. O Rev. Moule escreveu a respeito de 2 Timóteo: "O coração humano está nela presente, de começo a fim. E os falsários daquela época não lograriam imitá-lo com tanta perfeição, pois é certo que não entendiam bem do coração humano". Por esta razão, até mes¬mo os que negam a autoria paulina destas cartas tendem a crer que o escritor incorporou em sua obra genuínos fragmentos paulinos.

A primeira área em que a autoria paulina das pastorais é ques¬tionada é a histórica. Argumenta-se que, uma vez que as cartas mencionam visitas de Paulo a Éfeso e à Macedônia (1 Tm 1: 3), a Creta e a Nicópolis ( Tt 1: 5; 3: 12), a Trôade, a Mileto e a Roma (1 Tm 1: 17; 4: 13, 20), as quais não se coadunam com o registro de Lucas em Atos, com respeito às jornadas do apóstolo, elas de¬vem ser, então, uma invenção do autor ou, quem sabe, visitas autên¬ticas colocadas engenhosamente fora de lugar. Mas se o apóstolo foi liberto de sua prisão em Roma e, então, prosseguiu suas viagens (como ele mesmo esperava e como diz a tradição), até ser preso de novo, é perfeitamente possível reconstruir a ordem dos aconteci-mentos (como veremos mais adiante), sem nenhuma necessidade de acusar o autor de criar ficção ou romance.

O segundo argumento é de ordem literária. Críticos rejeitam a autoria paulina das Pastorais baseando-se em que uma boa parte do vocabulário nelas empregado não se encontra nas outras dez cartas atribuídas a Paulo (algumas palavras nem mesmo aparecem em to¬do o resto do Novo Testamento), e ainda em que numerosas expres-sões paulinas daquelas dez cartas estão ausentes nas Pastorais. Há uma abundância de paulinismos nas Pastorais, contudo, tanto em estilo como em linguagem, e as mudanças de tempo, de situa¬ção e de tema são suficientes para responder pelas peculiaridades nelas existentes.

O terceiro argumento, de cunho teológico, assume várias formas. Muitos sustentam que o Deus das primeiras cartas paulinas (Pai, Filho e Espírito Santo) e a síndrome graça-fé-salvação-obras pas¬saram a ser sutilmente deixados de lado, não mais soando como verdade. Não pode haver dúvida, contudo, de que as Pastorais mostram a iniciativa de eleição e de redenção de "Deus nosso Sal¬vador". Este deu o seu Filho para morrer, em nosso resgate, o qual ressuscitou e agora nos justifica por sua graça e nos regenera por seu Espírito, de modo que podemos viver uma nova vida de boas obras. Muitos pretendem que a heresia que as Pastorais deixam perceber como então existente (a negação da ressurreição, o amor ao asceticismo, "mitos" e "genealogias"), é a heresia do gnosticismo, desenvolvida no segundo século, talvez pelo próprio Marcion.

Tal conjectura ignora, porém, os aspectos judaicos da heresia (p. ex. Tt 1: 10, 14; 3: 9; 1 Tm 1:3-11) e suas evidentes semelhanças com a heresia dos colossenses, a quem o apóstolo já havia escrito pessoal¬mente, um ou dois anos antes.

O quarto argumento é de caráter eclesiástico, isto é, que as es¬truturas da Igreja consideradas nas Pastorais são as do segundo sé¬culo, incluindo o episcopado monárquico, a que o bispo Inácio de Antioquia se referiu em suas cartas. Muitos críticos vão mais além e acham que a atmosfera geral das Pastorais é demasiadamente "igrejeira" para ser de Paulo. Ernst Käsemann cita Martin Dibelius como tendo dito certa vez que as Epístolas Pastorais marcam o início da perspectiva burguesa na Igreja. Acrescenta

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