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GUERRA SANTA EM PAÍS CRISTÃO": A CRUZADA ALBIGENSE

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Por:   •  21/1/2015  •  6.767 Palavras (28 Páginas)  •  290 Visualizações

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“GUERRA SANTA EM PAÍS CRISTÃO”: A CRUZADA

ALBIGENSE*

Era o dia 22 de julho de 1209, ou, como os escritores medievais preferiam dizer

seguindo o costume do tempo, o dia da festa de Santa Maria Madalena. Um grandioso

contingente de cavaleiros armados, vindos do Norte da atual França, da atual Bélgica, da

atual Alemanha e da Inglaterra cercou a cidade de Béziers. Falava-se de vinte mil

cavaleiros equipados e mais de duzentos mil guerreiros a pé. Exagero evidente quando se

sabe que, naquele tempo, as guerras não envolviam mais de cinco mil combatentes.

Exagero compreensível quando se tratava de relatar um evento destinado a glorificar as

coisas da fé! O objetivo das tropas não deixava qualquer margem de dúvida: derrotar os

hereges que pululavam nas cidades e fortalezas situadas no Viscondado de Béziers e

Carcassonne e no condado de Toulouse.

Entre os que tomaram a cruz de Cristo para lutar em seu nome estavam importantes

feudatários do rei Filipe Augusto, como Eudes III, duque da Borganha, Hervé IV, conde de

Nevers e Gaucher de Chantillon, conde de Saint Pol. Havia também representantes da elite

eclesiástica do tempo: o arcebispo de Sens e o arcebispo de Bourdeaux, os bispos de Autun,

de Clermont e de Nevers, os bispos de Cahors e de Agen. Depois, alinhavam-se os grandes

barões e destacados cavaleiros, entre os quais Guilherme de Roches (senescal de Anjou), o

conde de Bar-sur-Seine, Gaucher de Joigny, Guichard de Beaujeau; ou senhores feudais

menos poderosos, como o conde Simão de Montfort, o conde Gui de Auvergne, o

visconde de Turenne, Bertrand de Cardaillac e o senhor de Gourdon. O exército compunhase

ainda de vassalos dos senhores eclesiásticos e laicos assinalados, de mercenários e

guerreiros a pé. Todos eram liderados pelo legado papal de Inocêncio III chamado Arnaldo

Amauri.

A exigência dos “cavaleiros de Cristo” era uma só: que os moradores de Béziers - a

primeira cidade a ser atacada - entregassem os hereges que ali encontravam guarida. O

bispo local serviu de intermediário entre os recém-chegados e os habitantes, uma vez que o

senhor feudal da localidade, Raimundo Rogério Trencavel, abandonara a localidade e

* Conferência apresentada no Seminário Guerra Santa e Cristandade na Idade Média, promovido pelo GT de

Estudos Medievais, em 10/08/2000.

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buscara refúgio na vizinha Carcassonne. O sacerdote aconselhou os governantes municipais

a render-se diante das evidências e evitar os ferimentos das espadas de aço cortante. Mas a

resposta contrariou as expectativas. Declararam que não expulsariam os supostos hereges e

preferiam resistir: não entregariam nada aos cruzados que pudesse acarretar qualquer

mudança no governo da comunidade.

A ação dos sitiantes foi rápida, eficaz e fulminante. Atacadas pelos mercenários que

acompanhavam a expedição, e depois pelos próprios cavaleiros cruzados, as muralhas de

Béziers não ofereceram proteção por muito tempo. Aos gritos de “ao assalto” e “às armas”,

a comunidade foi ocupada. Abandonando suas posições de defesa, os sitiados deixaram as

torres e muros, refugiando-se com mulheres e crianças no interior da igreja catedral de

Madalena. Fora do recinto os fossos e paliçadas eram transpostos, casas e estabelecimentos

eram pilhados e incendiados, toda a população encontrada era passada ao fio da espada. Em

pouco tempo, nem mesmo o templo sagrado ofereceu proteção aos refugiados. Como diz

um dos testemunhos contemporâneos:

“Nada pôde salvá-los, nem cruz, nem altar, nem crucifixo.

Os mercenários mataram clérigos, mulheres e crianças; ninguém escapou.

Se Deus quiser, receberá suas almas no Paraíso!

Não creio ter havido tal massacre desde o tempo dos sarracenos.”1

Do relato até aqui apresentado, chama de imediato a atenção o fato de que os

testemunhos oculares tenham registrado em pormenor as circunstâncias da investida sobre a

primeira comunidade importante da Occitânia. Com efeito, o episódio conhecido como

“massacre de Béziers” ocupa lugar de destaque nos eventos da Cruzada Albigense seja

devido às suas consequências imediatas – o princípio da derrota dos senhores feudais do

Languedoc, uma vez que a mesma foi abandonada pelo seu senhor pouco antes do sítio –

seja devido à carnificina promovida pelos sitiantes. Os testemunhos contemporâneos não

deixaram de expressar sua perplexidade e, ao mesmo tempo, seu júbilo em face da derrota

iminente dos “inimigos da Cristandade”.

1 La Chanson de la Croisade Albigeoise (Les Classiques de l’Histoire de France au Moyen Age). Éditée et

traduite du provençal par Eugene MARTIN-CHABOT. Paris: Ancienne Honoré Champion, 1931. Tome I,

Estrofe

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