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Geografia Política

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Por:   •  23/8/2014  •  9.422 Palavras (38 Páginas)  •  314 Visualizações

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A irrupção das massas trabalhadoras no cenário político do século XIX gerou as condições necessárias para o surgimento dos partidos operários de massas, socialistas e social-democratas. Neste momento, os trabalhadores ultrapassam ao âmbito da organização sindical e economicista, voltando-se para a construção de organizações de cunho político. Os caminhos são vários e indicam relações diferentes e contraditórias entre os sindicatos e os partidos.

No caso inglês, por exemplo, a organização política, o Partido Trabalhista, surge vinculada e submetida à organização sindical. Já os alemães construiriam uma forte organização social-democrata que estabeleceu uma relação conflituosa e de equilíbrio com o movimento sindical. Onde o sindicalismo era fortemente influenciado pelo anarquismo, a organização política, o partido político, teve mais dificuldades de se implantar.

No Brasil, a experiência anarco-sindicalista, aliada à realidade objetiva e subjetiva da classe trabalhadora em suas origens, predominou por muito tempo. Os diversos partidos surgidos em finais do século passado, e nas primeiras décadas deste, não conseguiam se firmar enquanto organizações com fortes vínculos com os trabalhadores. Em geral, reduziam-se a pequenos grupos intelectualizados da classe média e não resistiam à evolução do tempo.

Um marco neste processo foi a fundação do Partido Comunista, seção brasileira da Terceira Internacional. É interessante observar que esse partido forma-se no bojo da influência da Revolução Russa de 1917 e, inclusive, com a conversão de vários anarquistas à forma de organização bolchevique e comunista.

Esta forma organizativa firmou-se entre os trabalhadores e, pelo menos até 1964, a despeito das suas cisões e dos concorrentes, manteve a hegemonia no movimento social organizado. A fragmentação da esquerda marxista no período posterior ao golpe militar, por seus erros de análise e de estratégia, mas também devido à intensa repressão da qual foi vítima, gerou um vácuo ocupado pelo surgimento de uma nova vanguarda de sindicalistas e de militantes de base, cuja referência foi o ABC paulista. Novamente, colocou-se em pauta a construção do partido político dos trabalhadores. Contudo, esse novo tem a influencia do que considera velho e incorpora sua herança.

Portanto, a formação do PT e da Articulação 113 atualiza um debate já muito antigo: a necessidade de os trabalhadores se organizarem em partidos políticos e suas relações com as demais formas de organização sindical e popular. A experiência da organização política dos trabalhadores tem aqui sua continuidade. Por outro lado, também fornece os elementos para a análise das possíveis rupturas com a tradição inaugurada com os grandes partidos social-democratas europeus.

A Articulação: origens, caráter e influência política

Tendência majoritária, a Articulação (ART) é a face do PT. Sua política, suas teses, sua prática social e partidária dão o tom ao partido. Detentora do controle da direção partidária, com o domínio da máquina burocrática, a maioria dos parlamentares e dos prefeitos, a ART é a principal responsável pela práxis petista, por suas formulações estratégicas, concepção de socialismo e modelo de partido. Não é exagero afirmar que a evolução do PT se confunde com sua trajetória.

Essa influência política determinante tem raízes na própria constituição do PT. O elemento essencial para a formação do PT foi a participação dos sindicalistas. [1] Com efeito, os dirigentes sindicais expressam um dos pilares de sustentação do PT, que lhe dá um caráter de massa. O prestígio dos sindicalistas reflete essa relação – principalmente pelo carisma de lideranças como Lula. Essa base sindical é constituída por diferentes categorias e setores econômicos – com destaque para os metalúrgicos do ABCD. [2] A militância da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a atuação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), também contribuíram para o crescimento e a consolidação do PT no meio rural. [3] No III CONCUT, 94,1% dos delegados rurais declararam preferência pelo PT.

A ART é a principal porta de entrada para o novo contingente de trabalhadores que desperta para a luta política e para muitos dos que decidem assumir a militância partidária. Ela incorpora a maior parte dos militantes que não passara pela experiência do pré-64. [4]

A expressividade de suas lideranças, contribui decisivamente para que ela se torne depositária da combatividade e do desejo de participação política de uma geração sem militância orgânica anterior ao PT. Outros fatores, como a linguagem pouco acessível e a ausência de um método mais adequado para o trabalho de massas utilizado por determinados agrupamentos e organizações de esquerda, bem como o sentimento anticomunista arraigado em todos estes anos, também contribuem para o seu predomínio.

Destaca-se ainda o fato de essa esquerda, vinculada à tradição marxista, encontrar-se fragilizada pela crise instaurada com a sua derrota no pós-64. Além do mais, a ART, devido à sua prática política pragmática, responde de forma mais positiva às necessidades imediatas da nova geração. Sua composição heterogênea proporciona a flexibilidade organizativa mais adequada às características desta vanguarda emergente.

A ART surge em 1983. Em seu primeiro manifesto público, o Manifesto dos 113, defende um PT de massas, de luta e democrático. Durante a maior parte da sua existência, expressa um aglomerado de personalidades e posições políticas diferentes unificadas na defesa do projeto de construção do PT enquanto partido estratégico.

Quando da sua formação tem duplo objetivo: 1º) combater as posições dos que ameaçam diluir o PT numa “frente oposicionista liberal como o PMDB” ou daqueles que se deixam “seduzir por uma proposta “socialista” sem trabalhadores, como o PDT”; e, 2º) combater as Tendências organizadas que, em sua avaliação, mantém uma prática ambígua em relação ao PT, ora concebendo-o como um partido tático, ora intentando transformá-lo numa organização à sua semelhança, com política e métodos marxistas e/ou leninistas. (VIANA, 1991: pp. 121-23).

Para a ART, a esquerda organizada não se submete à democracia do PT mas sim a comandos paralelos que priorizavam a divulgação das suas posições em detrimento daquelas do partido. Neste momento, a ART não se vê como uma das Tendências do partido. Numa simbiose que descarta a contribuição das demais forças políticas, ela se coloca como a única autenticamente

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