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Como Falar Bom Dia

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Por:   •  18/8/2013  •  2.399 Palavras (10 Páginas)  •  451 Visualizações

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Expressões que as autoras e o autor da obra Sociologia da Infância no Brasil destacam em seus textos para dimensionar os estudos da infância como campo de pesquisa e área de conhecimento. Em cinco capítulos, o livro, lançado no segundo semestre de 2011, provoca inquietações nos seus leitores, à medida que explicita que o ator social criança, constantemente excluído e silenciado, ganha espaço e visibilidade nas Ciências Sociais, abandonando a condição de passivo no trato e na relação com a cultura e a sociedade.

Os objetivos da obra destacam duas temáticas principais: a oposição firme ao conceito de criança assentado no adultocentrismo pautado na visão europeia de criança e infância; e a explicitação das especificidades e das diversidades das crianças brasileiras. A construção do volume apresenta diálogo intergeracional e de múltiplas experiências: autoras e autor partem de particularidades de cada trajeto acadêmico e apresentam a diversidade de saberes que envolvem a temática. Identificam e pautam o campo da Sociologia da Infância (SI), apontando para as Ciências Sociais a premência da devida atenção às crianças pequenas, a suas produções, a suas formas de ver, entender e relacionar-se no mundo como legítimas expressões do pensamento, da cultura e da ação humana.

A obra é caracterizada pelo rompimento com as perspectivas tradicionais de compreender a infância ou as crianças. Não se constitui num manual de SI ou em palavra final ao debate: prevê a necessidade de um novo paradigma, no que se refere à construção social da infância. Convida-nos, como fará também, no capítulo 1, Anete Abramowicz, à invenção.

Transgressão é o desafio colocado logo na introdução pelas organizadoras da obra. Se o pressuposto é que as crianças pensam e imaginam, é porque são seres com agência1 desde seu ingresso no mundo. Suas perspectivas, criações, interpretações, enfim, o exercício de constituir-se como "criadores e criaturas" fazem parte do universo da pesquisa sociológica brasileira, a começar com Florestan Fernandes2.

A proposta do livro é apresentar o que pode ser entendido como mais um ramo da Sociologia, que considera as crianças pequenas como sujeitos. Elas não se organizam em movimento, mas são socialmente discriminadas. Como fica a resposta da Sociologia? Pensar a SI, aportada em pesquisas que revelem cotidiano, experiências, saberes e vozes das crianças diante da diversidade, rompe com o autoritarismo do mundo adulto e pode, nas Ciências Sociais, transgredir o pacto já acordado, no que se refere à pesquisa, olhando o mundo de outra perspectiva, "com olhos de criança".

Invenção é a expressão que remete ao capítulo 1, "A pesquisa com crianças em infâncias e a Sociologia da Infância", de autoria de Anete Abramowicz. Reflete sobre o que vê uma criança quando olha a cidade, a instituição e sobre como a busca de compreender esse olhar de criança tem suscitado pesquisas e polêmicas. Esse olhar da criança vai permitir a análise de dois conceitos complexos: tempo e infância.

Afirma Abramowicz que o tempo da criança é o tempo do presente, que ela é contemporânea. É um presente do qual o adulto não faz parte, que ele desconhece. A criança, por sua vez, não é apenas presente: também é passado, onde se inscreve e é inscrita. Ou seja, ao chegar ao mundo, a criança habitará um tipo de infância reconhecida pelo grupo que a cerca, com suas marcas de gênero, raça, sexualidade, dentre outras. Todavia, não fica presa a essas amarras: se subjetiva, cria e recria, contrapõe-se, experimenta, no movimento que a SI nomina como "processo de autoria social" (p. 20). É a criança, ao mesmo tempo, universal, individual, singular. E, nas dobras e desdobras daquilo que não sabemos – e não somos –, a infância se revela na possibilidade de o mundo ser outro, ser novo. As pesquisas com crianças devem remeter a esse novo, à inventividade, e inserem-nos num movimento político: lidamos com um "povo de traços específicos", no saber de Deleuze, "um povo que falta, que ainda não existe, o povo a ser inventado" (p. 22).

A fala e a agência das crianças promovem inversão hierárquica no discurso estabelecido: se a criança fala, é como o subalterno falar, os excluídos falarem. A SI, ao tomar a criança e sua infância como lugar de suas pesquisas, cria campo teórico para "inventar a criança", que se contrapõe radicalmente a outros paradigmas teóricos, como as referências do campo da Psicologia do Desenvolvimento e da própria Sociologia da Educação.

Com "Asas e desejo", desfecho do capítulo, a autora trata da imprevisibilidade. Trabalhar com infância, sob a perspectiva da invenção, é considerar o imprevisível, a multiplicidade de contextos, a arte, o intempestivo, o ocasional, a "des-idade". É um devir. Não devir de vir a ser, mas de processo onde "o espaço da criação também deve ser produzido numa espécie de produção de criar" (p. 34).

Reconhecimento é a marca do capítulo 2, assinado por Maria Letícia Nascimento. Enquanto Abramowicz teoriza a respeito de como se constitui a área e seus fundamentos para a pesquisa, ou seja, diz a que veio a SI, Nascimento, com "Reconhecimento da Sociologia da Infância como área de conhecimento e campo de pesquisa", pontua que a SI já é um campo formado e mais que uma "nova onda".

Expressões caraterísticas da SI, como culturas infantis, culturas de pares, cultura da infância, categoria geracional, sujeito de direito, ator social vêm sendo apropriadas e passam a fazer parte do repertório de pesquisa da área de infância. Desde a década de 1990, o campo só cresceu no mundo e no Brasil: publicações, teses, pesquisas, apresentações em congressos e seminários, marcam o campo e revelam suas características e relevância. Nascimento não se alheia às críticas como as de Castro e Kominsky (2010)3, que consideram a área como incipiente. Coordena a pesquisa "Infância e Sociologia da Infância, entre a invisibilidade e a voz" e assinala que o fim da pesquisa, em 2012, se contraporá a esse quadro de incipiência.

Na SI as crianças são consideradas como grupo populacional, geracional, de perspectiva estrutural, efetivando-se como unidade de observação e não apenas estudos oriundos de um "projeto de adulto" (psicológico ou pedagógico). Nesse ponto, os capítulos 1 e 2 dialogam ao propor o foco da SI nas crianças enquanto são crianças, para as quais a próxima geração é a próxima geração de crianças.

Para Nascimento, a "nova concepção sociológica considera

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