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Frei Luis De Sousa

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Por:   •  30/11/2014  •  1.959 Palavras (8 Páginas)  •  438 Visualizações

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Almeida Garret: Frei Luís de Sousa

Breve Análise

1. Acção dramática

Frei Luís de Sousa contém o drama que se abate sobre a família de Manuel de Sousa Coutinho e D. Madalena de Vilhena. As apreensões e pressentimentos de Madalena de que a paz e a felicidade familiar possam estar em perigo tornam-se gradualmente numa realidade. O incêndio no final do Acto I permite uma mutação dos acontecimentos e precipita a tensão dramática. E no palácio que fora de D. João de Portugal, a acção atinge o seu clímax, quer pelas recordações de imagens e de vivências, quer pela possibilidade que dá ao Romeiro de reconhecer a sua antiga casa e de se identificar a Frei Jorge.

O Acto I inicia-se com Madalena a repetir os versos d'Os Lusíadas:

"Naquele engano d'alma ledo e cego,que a fortuna não deixa durar muito…"

As reflexões que se seguem transmitem, de forma explícita um presságio da desgraça que irá acontecer. Obedecendo à lógica do teatro clássico desenvolve a intriga de forma a que tudo culmine num desfecho dramático, cheio de intensidade: morte física de Maria e a morte para o mundo de Manuel e Madalena.

2. Do drama clássico ao drama romântico

Se se pretender fazer uma aproximação entre esta obra e a tragédia clássica, poder-se-á dizer que é possível encontrar quase todos os elementos da tragédia, embora nem sempre obedeça à sua estruturação objectiva.

A hybris é o desafio, o crime do excesso e do ultraje. D. Madalena não comete um crime propriamente na acção, mas sabemos que ele existiu pela confissão a Frei Jorge de que ainda em vida de D. João de Portugal amou Manuel de Sousa, apesar de guardar fidelidade ao marido. O crime estava no seu coração, na sua mente, consubstanciando o seu pecado indo contra as leis sagradas do casamento.

Manuel de Sousa Coutinho também comete a sua hybris ao incendiar o palácio para não receber os governadores, confrontando-se com as leis socias instituídas.

O conflito que nasce da hybris desenvolve-se através da peripécia (súbita alteração dos acontecimentos que modifica a acção e conduz ao desfecho), do reconhecimento do pecado cometido e da culpa que daí decorre (agnórise) imprevisto que provoca a catástrofe, ou seja o castigo. O desencadear da acção dá-nos conta do sofrimento (páthos) que toma conta das personagens trágicas e que se intensifica até ao climax da intriga, conduzindo ao desenlace. O sofrimento age sobre os espectadores, através dos sentimentos de terror e de piedade, para purificar as paixões, o que se designava por catarse. A reflexão catártica é também dada pelas palavras do Prior, quando na última fala afirma: "Meus irmãos, Deus aflige neste mundo àqueles que ama. A coroa da glória não se dá senão no céu".

Tal como na tragédia clássica, também o fatalismo, o destino, ananké, é uma presença constante. O destino acompanha todos os momentos da vida das personagens, apresentando-se como um força que as arrasta de forma cega para a desgraça. É ele que não deixa que a felicidade daquela família possa durar muito.

Garrett, recorrendo a muitos elementos da tragédia clássica, constrói um drama romântico, definido pela valorização dos sentimentos humanos das personagens; pela tentativa de racionalmente negar a crença no destino, mas psicologicamente deixar-se afectar por pressentimentos e acreditar no sebastianismo; pelo uso da prosa em substituição do verso e pela utilização de uma linguagem mais próxima da realidade vivida pelas personagens; sem preocupações excessivas com algumas regras, como a presença do coro ou a obediência perfeita à lei das três unidades do teatro clássico (acção, tempo e espaço).

3. Tempo

A acção dramática de Frei Luis de Sousa acontece em 1599, durante o domínio filipino, 21 anos após a batalha de Alcácer-Quibir. Esta aconteceu a 4 de Agosto de 1578.

"A que se apega esta vossa credulidade de sete… e hoje mais catorze… vinte e un anos?", pergunta D. Madalena a Telmo (Acto I, cena 11).

"Vivemos seguros, em paz e felizes… há catorze anos" (Acto I, cena 11).

"Faz hoje anos que… que casei a primeira vez, faz anos que se perdeu el-rei D. Sebastião, e faz anos também que… vi pela primeira vez a Manuel de Sousa", afirma D. Madalena (Acto II, cena X).

Existe duas dimensões temporais. O presente conjuga-se numa só noite, a sexta-feira, embora com um hiato de oito dias, seguindo o tempo das tragédias clássicas, tudo se condensava em mais ou menos 24h. Aqui referenciado numa tarde, numa noite: «8 horas» e prolonga-se pela madrugada.

Por outro lado, existe uma outra dimensão temporal, evocada e sugerida de um tempo passado distante que condiciona as peripécias do presente, pairando com as suas ameaças e concentrando-se essa imensa temporalidade num único momento do presente, o climax do drama.

«Morei lá vinte anos cumpridos […] faz hoje um ano… quando me libertaram», diz o Romeiro (Acto II, cena XIV).

Temos um tempo da tragédia perfeira. Segundo a simbologia dos números, encontramos um conjunto de três, número da perfeição, grupos de 7 anos, número da tragédia. Um, 7 anos procurou Madalena por D.João de Portugal, os outros dois condensam-se nos 14 anos que dura o casamento Madalena com Manuel de Sousa Coutinho.

4. Personagens

D. Madalena de Vilhena é a primeira personagem que aparece na obra, mas pode-se afirmar que toda a familia tem um relevo significativo. São as relações entre esposos, pais e filha, o criado e os seus amos ou mesmo o apoio de Frei Jorge que estão em causa. Um drama abate-se sobre esta família e enquanto Manuel de Sousa Coutinho e D. Madalena se refugiam na vida religiosa, Maria morre como vítima inocente.

D. Madalena tinha 17 anos quando D. João de Portugal desapareceu na batalha de Alcácer-Quibir. Durante 7 anos procurou-o. Há catorze anos que vive com Manuel de Sousa Coutinho. Tem agora 38 anos (17 + 21). Mulher bela, de carácter nobre, vive uma felicidade efémera, pressentindo a desventura e a tragédia do seu amor. Racionalmente, não acredita no mito sebastianista que Ihe pode trazer D. João de Portugal, mas teme a possibilidade da sua vinda. E com medo que a encontramos a reflectir sobre os versos de Camões e a sentir, como que em pesadelo, a ideia de que a sobrevivência de D. João destrua a felicidade da

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