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Liguas E Sinais

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Por:   •  2/4/2014  •  3.292 Palavras (14 Páginas)  •  275 Visualizações

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INTRODUÇÃO AOS AUTORES

Saramago é considerado um dos maiores e mais conceituados escritores portugueses do século XX. Sua importância é grande ao ponto de ser o único, até então, a receber o maior prêmio literário mundial que é o Nobel de Literatura concedido a ele em 1988. No que concerne sua literatura está o assunto que interessa a esse trabalho que é a (re) leitura de um passado que se torna presente no próprio presente. Saramago consegue, com sua capacidade única, nos (re) contar a história de seu povo, de sua nação de uma estilística própria e impactante, criando, assim, não um simples livro de história romanceada, mas, sim, uma obra realista composta de elementos artísticos.

Saramago começa a publicar regularmente a partir da década de 70 com mais de 50 anos de idade. Seu primeiro romance, Terra do Pecado, publicado em 1947 não é muito bem aceito por ele mesmo considerar que sua obra posterior foi realizada com mais sabedoria, sendo a primeira um tanto ingênua. Sua literatura se consolidou a partir da Revolução dos Cravos ocorrida no dia 25 de abril de 1974. Em uma entrevista concedida a O Ferroviário em 1982 ele revela: “Se é verdade que o 25 de Abril libertou o escritor, o mais importante é que o 25 de Abriu libertou a escrita dentro do escritor.” (AGUILERA, 2010. p. 193). E em outra entrevista concedida a O Jornal em 1983 ele reforça a ideia: “Hoje (depois do 25 de Abril) sentimo-nos mais capazes de abordar com toda a naturalidade temas em que não ousaríamos sequer pensar antes.” (AGUILERA, 2010. p. 194). Então, com maturidade, Saramago escreve Memorial do convento, livro alvo desse trabalho, publicado em 1982, com o intuito de trazer de volta essa história passada e como e porque ela é ainda tão presente na atualidade portuguesa pós 25 de Abril de 1974.

Luis Augusto Rebelo da Silva nasceu em Lisboa em 1822 começando a publicar a partir da década de 40. Enquadrado no romantismo, Rebelo da Silva se mostra muito próximo à obra de seu contemporâneo Alexandre Herculano. “A influência da obra ficcionista de Herculano é por demais evidente e até, por vezes, excessivamente acentuada” (CHAVES, 1979. p. 38). Essa demasia aproximação de obra de Herculano acaba por prejudicar a qualidade artística de suas obras.

Ainda com o pensamento de Chaves (1980) Rebelo da Silva tinha como propósito, em seus romances, retratar como veemência a verdade mais aproximada dos costumes e do modo de viver dos portugueses, ou de qualquer outro lugar. Para ele tinha que recuperar a essência, as crenças da época vivida para que faça sentido no romance e para que faça sentido também no publico leitor.

Na segunda fase do romantismo português há um desvencilhamento do gênero para uma temática que fosse mais próxima do publico leitor, deixando pra trás as releituras da época medievalista. Ainda no pensamento de Chaves (1980), Rebelo da Silva alcançou uma qualidade literária maior no que se referem às descrições, costumes, caracterizações e estilística do romance.

Ainda sim, o próprio autor, Rebelo da Silva, sente que pode não ter alcançado a magia necessária na construção do romance. No prólogo da primeira edição de A Mocidade de D. João V ele diz:

O que receia é ter ficado muito atrás da realidade poética; porque na passagem do mundo ideal para a manifestação do mundo positivo, raras vezes se conversa aquela admirável mas dificílima semelhança, que deu a imortalidade às primorosas obras, que são a glória dos príncipes da arte.” (SILVA, 1969. Vol. 1 p. 5).

Percebe-se a preocupação do autor em relação a sua própria obra. Há um questionamento no que diz respeito à poética do texto. Por mais eu ele tenha tido um avanço com base em sua obra anterior, há ainda essa preocupação para que seu texto não caia no esquecimento. Como ele mesmo disse: “Se a obra tiver por onde se salve, viverá; se não, há de morrer do frio incurável da execução...” (SILVA, 1969. Vol. 1 p. 6).

Rebelo da silva se destacou também como um exímio historiador. Sobre esse ramo do autor, António Saraiva e Óscar Lopes (2008) disse que Rebelo da Silva foi um historiador de prestígio com uma notável força de exposição. Ainda se usa sua História de Portugal nos séculos XVII e XVIII, em 5 volumes.

ENTRE A HISTÓRIA E A FICÇÃO

Saramago aborda nesse romance um assunto que alguns outros escritores, a partir da década de 50, até o presente momento da publicação do romance, vêm trabalhando que é a relação entre história e ficção. A necessidade de uma consciência nacional, de uma (re) construção da história são fatores que são encontrados nesses novos romances que podem ser classificados com o subgênero romance histórico. Memorial do convento se revela como um romance histórico por ele se valer da matéria história e tornando-a realidade ficcional.

Para tornar texto mais aprazível de se ler, Saramago propõem e continua com a ideia de uma corrente historiográfica surgida na segunda década do século XX chamada Nova História, onde esses tais historiadores buscavam uma nova maneira de (re) escrever a história do ponto de vista sociocultural.

Durante as duas últimas décadas, vários historiadores, trabalhando em uma ampla variedade de períodos, países e tipos de história, conscientizaram-se do potencial para explorar novas perspectivas do passado, (...) e sentiram-se atraídos pela ideia de explorar a história, do ponto de vista do soldado raso, e não do grande combatente. Tradicionalmente, a história tem sido encarada, desde os tempos clássicos, como um relato dos feitos dos grandes. (SHARPE, 1992. p. 40).

O que Saramago realiza no Memorial do convento é exatamente isso quando usa de dois personagens “comuns” para protagonizarem o romance tendo como palco histórico o século XVIII com o reinado de D. João V e a construção do convento de Mafra. O que o autor faz é transpor essa corrente da historiografia para sua realidade ficcional e o que prevalece no romance é a imaginação, a criação artística a partir de textos documentados e historicamente legitimados. Sempre houve uma fronteira sobre história e ficção e essa fronteira nem sempre esteve aberta. Segundo o historiador Burke (1997) foi no final do século XX que essa fronteira se reabriu e que as convenções do romance, tanto o histórico como o geral, estão sendo questionados e que esse questionamento está relacionado ao retorno de uma consciência histórica. Esse retorno é o que busca Saramago para compreender a Portugal dos anos 80. Um expoente e também muito criticado pela historiografia tradicional é o

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