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Mar Morto Jorge Amado

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Por:   •  21/7/2014  •  10.519 Palavras (43 Páginas)  •  802 Visualizações

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Mar morto, de Jorge Amado, uma análise 14/14

Zemaria Pinto

5) Linguagem

A linguagem utilizada por Jorge Amado é coloquial e muito próxima da fala popular. Como o narrador nos conta uma história, já o dissemos, como se estivesse conversando com o leitor, prevalece o discurso indireto. Mas o discurso direto, isto é, a expressão dos próprios personagens é recurso muito utilizado, o que dá mais dinamismo à narração.

Mas há duas particularidades que gostaríamos de destacar. Ao contrário de outros livros de Jorge Amado, a fala popular a que nos referimos não dá guarida ao baixo calão, à grosseria gratuita. Pelo contrário, o autor buscou aqui uma linguagem lírica, poética mesmo, que muitas vezes chega a resvalar para o sentimental. Veja, como exemplo, o delírio de Traíra, transcrito páginas atrás quando de nossa análise do foco narrativo. Veja também o mito de Iemanjá e Orungã, transcrito há alguns parágrafos, quando da análise do estilo. Mas o ponto alto dessa linguagem é atingido no primeiro fragmento do capítulo “Contrabandista”, que, por ser muito extenso, nos eximimos de reproduzir. Observe, em paralelo à poesia que emana do texto, a crueldade, melhor dizendo, o naturalismo das brincadeiras do pequeno Frederico.

Também ao contrário de boa parte da copiosa obra amadiana, um outro ponto a destacar é a ausência de qualquer referência ao Partido Comunista do Brasil. Melhor dizendo, ausência de qualquer referência política explícita, mesmo quando coloca em cheque a inexistente política trabalhista. A apologia a Besouro, no capítulo “Viscondes, Condes, Marqueses e Besouro”, é a passagem mais “politizada” de toda a narrativa, contrapondo às classes dominantes, representadas pelos títulos de nobreza, a figura mítica do herói popular.

6) Uma canção

Mar morto, a obra de Jorge Amado cuja análise damos por concluída, mas sem a pretensão de esgotá-la, produziu um das canções mais belas da nossa combalida música popular brasileira. Trata-se de “É doce morrer mo mar", de Dorival Caymmi e, claro, Jorge Amado. É o próprio Caymmi quem conta:

Foi num dia feliz que nasceu a melodia desta canção. Estávamos vários amigos – entre os quais os inesquecíveis Érico Veríssimo e Clóvis Amorim – reunidos em casa do coronel João Amado de Faria – a quem eu tanto queria – para um daqueles almoços. Em meio à festa e ao calor da amizade compus a toada sobre um tema de Mar morto, romance dos mestres de saveiro da Bahia. Na mesma hora, Jorge acrescentou alguns versos aos publicados no romance, completando a letra.

(do livro Cancioneiro da Bahia, de Dorival Caymmi)

Transcrevemos abaixo a letra integralmente. Você pode observar que no capítulo “Marcha Nupcial” está boa parte dela. Pelo depoimento de Caymmi, percebemos que a música só foi feita depois do livro ter sido publicado. Isto é, Jorge Amado imaginou-a sendo cantada, embora ela não existisse...

É doce morrer no mar

Nas ondas verdes do mar

A noite que ele não veio foi

Foi de tristeza pra mim

Saveiro voltou sozinho

Triste noite foi pra mim...

É doce morrer no mar

Nas ondas verdes do mar

Saveiro partiu de noite, foi

Madrugada não voltou

O marinheiro bonito

Sereia do mar levou...

É doce morrer no mar

Nas ondas verdes do mar

Nas ondas verdes do mar, meu bem

Ele se foi afogar

Fez sua cama de noivo

No colo de Iemanjá

É doce morrer no mar

Nas ondas verdes do mar

Ilustrações: capa da edição italiana de 1989; capa da edição espanhola de 1990; gravura de Emilio Goeldi para Mar morto.

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MARCADORES: ENSAIOS, JORGE AMADO, MAR MORTO, OSWALDO GOELDI, ZEMARIA PINTO

SEXTA-FEIRA, 8 DE JULHO DE 2011

Mar morto, de Jorge Amado, uma análise 13/14

Zemaria Pinto

4) Estilo

Como já vimos no início deste estudo, o chamado romance nordestino é tributário do Realismo. Mar morto vai mais além, apresentando características que nos permitem classificá-lo dentro do Naturalismo. E você deve estar lembrado, caro leitor, que o Naturalismo é a radicalização do Realismo. Se este procura mostrar a realidade, aquele procura esmiuçá-la com rigor científico. Vejamos por quais razões classificamos Mar morto dentro do estilo naturalista.

Determinismo – Desde o primeiro capítulo, antevemos a tragédia de Guma. Se não, vejamos:

Porque eles, o marinheiro e a mulher morena, eram familiares do mar e bem sabiam que se a noite chegara antes da hora muitos homens morreriam no mar, navios não terminariam sua rota, mulheres viúvas chorariam sobre a cabeça dos filhos pequeninos.

(“Tempestade”)

Poderíamos enumerar dezenas de passagens onde se diz que a morte no mar é inevitável. Mas não se trata de simples fatalismo, que se pode traduzir como submissão ao destino. Não. Para aqueles homens a morte está “determinada” pelas suas condições de trabalho. Enquanto não se realizasse o “milagre” de D. Dulce, aqueles homens continuariam a morrer por “acidente de trabalho”.

Cientificismo – O viés psicanalítico do relacionamento de Guma com sua mãe é outra evidência naturalista. Guma sente desejo pela mãe prostituta, não sente “amor filial”. Ele a vê em todas as mulheres do cais e só após conhecer o “amor verdadeiro” de Lívia é que ele se livra daquele desejo doentio. O narrador usa

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